31/12/23

ESTUDO DE ALGUMAS BANDEIRAS BRASILEIRAS: AS FORÇAS ARMADAS

Apesar de pouco conhecida, a bandeira do Cruzeiro é um dos símbolos mais singelos e belos do Brasil.

Na Grã-Bretanha, o costume antigo de acantonar a bandeira de São Jorge, depois a bandeira da União, para gerar outras, com o acrescentamento de certo emblema ou sem isso, tornou-se um recurso tão produtivo que foi amplamente adotado nos países que fizeram parte do Império Britânico. Na Rússia, é a cruz de Santo André na cor azul sobre fundo branco que lhe serve de pavilhão naval, daí que tenha moldado tantos outros vexilos militares. Em Portugal, uma cruz verde sobre branco é o padrão de que derivam os pavilhões de comando da Marinha.

Jaque nacional ou bandeira do Cruzeiro.
Jaque nacional ou bandeira do Cruzeiro.

Nós também temos a nossa cruz: o Cruzeiro. Na verdade, duas cruzes referidas pelo mesmo nome. Uma é efetivamente a constelação, a qual o governo provisório do Marechal Deodoro da Fonseca pôs no lugar da cruz da Ordem de Cristo, fazendo dela o nosso sinal heráldico. A outra é a cruz formada por estrelas cujo número esse governo fixou em vinte e uma (Decreto n.º 216-E/1890) e cuja história começa pela fundação da Ordem do Cruzeiro, ainda em 1822 (Decreto de 1.º de dezembro), e passa pela criação do jaque nacional (Decreto n.º 544/1847), que hoje se acha regulado pelo Cerimonial da Marinha do Brasil.

Proposta de bandeira para a Marinha do Brasil.
Proposta de bandeira para a Marinha do Brasil.

A meu ver, um símbolo tão antigo e eloquente quanto a bandeira do Cruzeiro deveria assinalar não só a hierarquia da Marinha, como já acontece, mas também a própria força e mais o Exército e a Aeronáutica, além da conjunção das três. Afinal, o uso corrente demonstra que é, ademais, um símbolo belo e versátil. A chave está nas cores e nos emblemas que poderiam ser acrescentados ao cantão.

Bandeira do Exército Brasileiro.
Proposta de bandeira do Exército Brasileiro.

Com efeito, para se criar três emblemas que distingam cada força por figuras consagradas e denotem uma brasilidade, é a constelação do Cruzeiro que nos fornece a chave. Assim, o distintivo da Marinha poderia consistir em duas âncoras decussadas, o do Exército em duas espadas arranjadas da mesma forma e o da Força Aérea na espada alada, cada um entre as estrelas do Cruzeiro. Penso que essas composições dizem inequivocamente: "Marinha do Brasil", "Exército Brasileiro" e "Força Aérea Brasileira". Colocados no cantão da bandeira do Cruzeiro, dizem mais: são as forças de defesa da União. (1)

Proposta de bandeira para a Força Aérea do Brasil.
Proposta de bandeira para a Força Aérea do Brasil.

Quanto às cores, é neste ponto que cabe reconhecer a engenhosidade do sistema britânico, em que os pavilhões branco, azul e vermelho (White, Blue e Red Ensign) têm desempenhado diferentes funções. Similarmente, poder-se-ia conservar o azul-marinho da bandeira do Cruzeiro na Marinha e para ela, mas trocar essa cor pelo verde para o Exército e pelo azul-celeste para a Força Aérea.

Convém destacar que somente o Exército possui "estandarte", ordenado pelo Decreto n.º 94.336, de 15 de maio de 1987, e completamente inexpressivo: um pano branco com o brasão da força.

Nota:
(1) Na insígnia da Imperial Ordem do Cruzeiro, contam-se dezenove estrelas, o número das províncias brasileiras em 1822. No decreto pelo qual se ordenou o jaque nacional, diz-se dezoito, já que se perdera a Cisplatina e ainda não se tinham criado o Amazonas e o Paraná. No decreto do governo provisório da República são vinte e uma porque ao número dos estados se somou o Município Neutro, que logo se tornaria o Distrito Federal. Seguramente não se voltou a atualizar esse símbolo porque seria preciso reduzir bastante o tamanho das estrelas para acomodar vinte e sete. De todo modo, não é exótico que a multiplicação de certa figura ou forma fique fixada nalgum momento, assinalando a união primitiva, como as listras da bandeira dos Estados Unidos e as estrelas da bandeira da União Europeia.

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