17/08/21

DECÁLOGO HERÁLDICO

Como sistema semiótico, é perfeitamente factível esquematizar os elementos do brasão, apesar de não ser simples, por causa do seu caráter circunstancial.

Nunca antes na história humana a rapidez foi tão essencial. A resposta à pandemia da Covid-19 demonstra que a rapidez faz a diferença entre a vida e a morte, seja na testagem eficaz, seja no desenvolvimento, produção, aquisição e distribuição de vacinas. Mas para além de demandas vitais, vigora uma cultura do rápido: o tweet de 280 caracteres, o story de quinze segundos e quem aguenta escutar um áudio de mais de um minuto no WhatsApp?... É que o nosso próprio gosto vai moldando e sendo moldado por esse modo de usar o tempo.

Assim, cada vez que abro o editor para redigir uma postagem, a intenção mira a brevidade, mas sei que raramente tenho sucesso nisso, porque quem gosta de história e de escrever dificilmente consegue ser breve. No entanto, sempre me perguntei se seria possível condensar o código heráldico em poucas pautas, mas nunca me pareceu simples, por causa do caráter altamente circunstancial da criação heráldica. Noutras palavras, tanto pode estar correto um brasão constituído apenas pelo campo liso como outro de dezesseis quartéis. Até nisso a armaria se assemelha às línguas: as gramáticas e os dicionários dão a impressão de que são estáveis e regulares, mas na realidade são fortemente contingenciais.

Sicília, arauto de Afonso o Magnânimo, rei de Aragão, falecido em 1437, foi um dos primeiros da sua corporação a escrever, reescrever e difundir estudos sobre a armaria e o ofício de armas (imagem contida no códice Français 387, disponível na base Mandragore da Bibliothèque nationale de France).
Sicília, arauto de Afonso o Magnânimo, rei de Aragão, falecido em 1437, foi um dos primeiros da sua corporação a escrever, reescrever e difundir estudos sobre a armaria e o ofício de armas (imagem contida no códice Français 387, disponível na base Mandragore da Bibliothèque nationale de France).

Na primeira versão desta postagem, elaborei uma espécie de decálogo: listei dez elementos essenciais da arte heráldica, defini cada um em uma proposição e discorri sobre tal definição o mais sucintamente que pude. Mesmo assim, o texto todo não saiu propriamente curto... Além disso, não é fácil falar de heráldica sem o recurso à imagem; ou melhor, deve ficar difícil entender o que se diz. No fim das contas, acho mais interessante desmembrar esse decálogo, fazendo uma postagem por ponto, de modo que cada uma resulte efetivamente sintética. Ei-lo:

1. O campo é a superfície que carrega a peça e a figura.

2. A partição é uma linha que divide o campo.

3. A peça é uma figura geométrica.

4. A figura é um desenho do que há no céu, na terra, nas águas ou da obra humana.

5. O esmalte não é um pigmento concreto, mas um conceito cromático.

6. O ordenamento é a sintaxe do brasão.

7. O timbre é uma figura que se põe acima do escudo.

8. O suporte é uma figura que se põe ao lado do escudo ou sob ele.

9. A divisa é uma legenda que exprime um ideal do armígero.

10. A reprodução é a realização do brasão por meio das artes visuais.

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