17/11/23

CORES PAN-ESLAVAS: ESLOVÁQUIA

A mais recente das tricolores eslavas é aquela que mais evidentemente se vincula ao pan-eslavismo.

De todos os povos eslavos sob a monarquia dos Habsburgos os eslovacos tinham a situação política mais precária, pois não habitavam uma terra da Coroa (Kronland) que lhes servisse de referência simbólica, já que eram súditos imediatos do rei húngaro. Na verdade, a Eslováquia (Slovensko) era um conceito linguístico, que na geografia da Hungria se localizava nas terras altas (Felvidék) do reino.

Bandeira da Eslováquia.
Bandeira da Eslováquia.

Não obstante, como tantos outros povos, os eslovacos também se levantaram em 1848, ainda que o seu movimento tenha tido características singulares. Uma é que não mirava o centralismo de Viena, mas sim o governo revolucionário de Budapeste, que não se dispunha a admitir uma Hungria poliétnica. A outra é que, à falta de instituições próprias, precisavam ou recorrer ao estado húngaro ou romper com ele.

"Assembleia do povo eslovaco na primavera de 1848" (1848), de Peter Michal Bohuň (conservada na Galeria Nacional Eslovaca).
"Assembleia do povo eslovaco na primavera de 1848" (1848), de Peter Michal Bohuň (conservada na Galeria Nacional Eslovaca).

A primeira tentativa dos nacionalistas eslovacos deu-se em maio de 1848, quando endereçaram à dieta do reino uma petição para reconhecer a nação eslovaca e, como tal, incluí-la no programa revolucionário, inclusive com bandeira própria: segundo o ponto oitavo, uma bicolor horizontal vermelha e branca. Contudo, o governo reagiu perseguindo o movimento, o que levou à segunda tentativa: rebelião.

Réplica da bandeira do Conselho Nacional da Eslováquia durante a revolta de 1848-49 (conservada no Museu Nacional Eslovaco).
Réplica da bandeira do Conselho Nacional da Eslováquia durante a revolta de 1848-49 (conservada no Museu Nacional Eslovaco).

A Revolta Eslovaca estourou em setembro de 1848 e estendeu-se até a vitória da contrarrevolução, no fim do ano seguinte, mas tampouco obteve grandes sucessos. O seu maior legado é, precisamente, os símbolos nacionais, pois consta que as milícias eslovacas usaram de bandeiras, fitas e topes com diversos arranjos das cores pan-eslavas. Com efeito, em junho de 1848 os líderes do movimento tinham participado do Congresso Eslavo de Praga, que propusera para todos os eslavos uma tricolor de faixas horizontais, azul, branca e vermelha.

Propaganda do Partido de Hlinka, 1939 (conservado no Museu Nacional Eslovaco).
Propaganda do Partido de Hlinka, 1939 (conservado no Museu Nacional Eslovaco).

Mesmo após a dissolução da monarquia austro-húngara, os eslovacos não dispunham dos meios para deter uma investida da Hungria, assim como os tchecos em relação à Alemanha, daí que se tenham unido para constituir a República Tchecoslovaca em 1918. No entanto, o fascismo ascendeu por toda a parte, inclusive na Eslováquia, onde o Partido Popular de Hlinka a separou sob um regime colaboracionista um dia antes da invasão da Boêmia e Morávia pelas forças alemãs, em março de 1939. Seja como for, pela primeira vez os eslovacos tiveram um estado e símbolos oficiais: em junho do mesmo ano, o parlamento passou a respectiva lei, adotando uma bandeira de faixas horizontais, branca, azul e vermelha. A República Eslovaca foi extinta pelo Exército Vermelho, que libertou e restaurou a Tchecoslováquia em 1945.

Somente em 1990, pouco depois da queda do socialismo, instaurado por um golpe de estado em 1948, a Eslováquia restabeleceu oficialmente os seus símbolos: em março por lei constitucional o Conselho Nacional recobrou o brasão e a bandeira de 1939. No entanto, às vésperas da dissolução da Tchecoslováquia apareceu a semelhança com a tricolor russa, também branca, azul e vermelha, a qual fora igualmente restabelecida em agosto de 1991. Essa inconveniência foi resolvida pela constituição de 1992, sobrepondo-se o brasão à bandeira. A lei vigente sobre a forma e o uso dos símbolos nacionais foi passada em fevereiro de 1993, já sob o estatuto de país independente.

Armas da Eslováquia (imagem disponível no portal do governo eslovaco).
Armas da Eslováquia (imagem disponível no portal do governo eslovaco).

O brasão também foi adotado pelos revolucionários eslovacos em 1848, originalmente como selo do Conselho Nacional. Reflete o fato de serem a maior população eslava da Hungria, pois as figuras — uma cruz patriarcal chantada num monte de três cumes — foram trazidas pelos reis húngaros desde Luís I (1342-82). Mas se fizeram duas alterações: retirou-se a coroa e trocou-se a cor verde do monte pelo azul, coincidindo com as cores pan-eslavas, que as milícias eslovacas ostentavam.

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