O contexto pode revelar o que no texto parece velado.
Bandeira da Bulgária. |
A bandeira da Bulgária não tem as cores pan-eslavas — azul, branco e vermelho —, mas julgo que convém estudá-la no contexto do pan-eslavismo, afinal foi estabelecida logo depois de as forças russas terem marchado para invadir a própria Constantinopla ou, em outras palavras, no momento em que a Rússia parecia a campeã imbatível da cristandade ortodoxa: a constituição do Principado da Bulgária em abril de 1879.
Bandeira feita por Stiljana Paraškevova para a milícia búlgara na Guerra Russo-Turca de 1877-78 (conservada no Museu Nacional de História Militar; imagem disponível no portal da BNR). |
Antes disso, as cores búlgaras apareceram pela primeira vez também num contexto de solidariedade eslava: uma tricolor horizontal verde, branca e vermelha foi empunhada pela legião búlgara que Georgi Rakovski arregimentou em Belgrado durante o conflito da Sérvia contra a suserania otomana em 1862 e foi novamente usada noutras iniciativas e organizações encabeçadas ou inspiradas por esse nacionalista búlgaro, ainda que com variação no arranjo das cores. Uma delas era o Comitê Central Revolucionário, que foi o primeiro a adotar o branco-verde-vermelho na intentona de 1875 em Staro Zagora. Finalmente, essa tricolor foi também agitada pela própria milícia búlgara que lutou nas fileiras russas contra os otomanos na guerra de 1877 e 78.
De onde vêm as cores búlgaras? Não são heráldicas, pois desde a Stemmatographia (1701), de Pavao Ritter, as armas atribuídas à Bulgária são um leão de ouro em campo de vermelho. Não são cores revolucionárias, pois os nacionalistas búlgaros nunca conseguiram fomentar uma revolução contra o domínio otomano. Considerando, pois, que a constituição do principado (independência de facto), a sua unificação com a Rumélia Oriental (1885) e a sua elevação a reino (1908, independência de jure) aconteceram com o apoio da Rússia, é razoável supor que o verde da bandeira búlgara funciona no meio das bandeiras de cores pan-eslavas como uma diferença ou quebra heráldica.
Bandeira de Samara (conservada no Museu Nacional de História Militar). |
Com efeito, uma bandeira de faixas horizontais, vermelha, branca e azul, com uma cruz contendo as imagens da Mãe de Deus no anverso e dos Santos Cirilo e Metódio no verso foi doada pelos cidadãos de Samara (Rússia) à terceira brigada da milícia búlgara que lutava na Guerra Russo-Turca de 1877-78. No entanto, provavelmente a tricolor croata e certamente a sérvia eram conhecidas pelos revolucionários búlgaros. Trocando em miúdos, o branco-azul-vermelho russo, o vermelho-azul-branco sérvio, o vermelho-branco-azul croata e o azul-branco-vermelho proposto para todos os eslavos não deixavam aos búlgaros opção útil, já que ao longe é o branco que contrasta, ou por separar o azul e o vermelho ou por estar em cima ou em baixo.
A maior prova de que o branco-verde-vermelho funciona bem como um símbolo que aproxima os búlgaros aos demais eslavos e ao mesmo tempo os singulariza é a continuidade do seu uso desde 1879 até hoje. A república socialista que sucedeu à monarquia após a Segunda Guerra Mundial apenas apôs o emblema estatal (várias vezes alterado) à faixa branca junto à tralha. Tombado o regime, a Constituição de 1991 restaurou a bandeira sem emblema.
Pavilhão naval da Bulgária. |
A lei vigente sobre a forma e o uso da bandeira búlgara foi passada em 1998. O pavilhão naval tem o escudo das armas nacionais na forma de um cantão quadrado com o tamanho de um terço do pavilhão sobre a faixa branca, a qual se estende por dois terços do mesmo pavilhão.
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