14/07/21

PROPOSTA DE BRASÃO PARA A PARÓQUIA DA IMACULADA CONCEIÇÃO DE CURRAIS NOVOS

Nem tudo que se põe dentro e em volta de um escudo constitui um brasão, pois a heráldica possui um código, que rege a confecção desses emblemas.

Dando continuidade à série de propostas de brasões para as paróquias de Currais Novos, a "irmã do meio" é a patrocinada pela Imaculada Conceição. Como informei na postagem anterior, Dom Heitor de Araújo Sales, quarto bispo diocesano de Caicó, erigiu-a em 8 de dezembro de 1992 por desmembramento da paróquia de Sant'Ana.

Igreja Matriz da Imaculada Conceição, Currais Novos (imagem disponível no perfil da paróquia no Facebook).
Igreja Matriz da Imaculada Conceição, Currais Novos (imagem disponível no perfil da paróquia no Facebook).

A respeito do emblema atual, o comentário há de ficar muito mais breve que o tecido sobre as armas paroquiais de Sant'Ana, pois foi elaborado no espírito de que brasão é qualquer coisa que se jogue dentro de um escudo:

Emblema da Paróquia da Imaculada Conceição de Currais Novos (imagem disponível no perfil da paróquia no Facebook).
Emblema da Paróquia da Imaculada Conceição de Currais Novos (imagem disponível no perfil da paróquia no Facebook).

Visto de longe, até parece razoável, pois se divisa um monograma mariano de ouro em campo de azul, mas de perto logo se percebe que em vez de campo o escudo contém uma foto da igreja matriz! Isso sem falar no erro do timbre: o título de Rainha do Céu com que se honra Nossa Senhora não assente que uma igreja dedicada sob a proteção dela timbre as suas armas com uma coroa, como se fosse um pequeno reino. Um timbre não é uma decoração, mas indica a dignidade do armígero. Além disso, o Apocalipse (12, 1) deixa claro que as doze estrelas são, por si, uma coroa: "Então apareceu no céu um grande sinal: uma mulher vestida com o sol, tendo a lua debaixo dos pés e, sobre a cabeça, uma coroa de doze estrelas". Noutras palavras, acumular uma coroa real com as doze estrelas é uma redundância.

Proposta de brasão para a Paróquia da Imaculada Conceição de Currais Novos: de azul com o monograma mariano de prata, coroado de ouro, entre quatro cruzetas do primeiro, o todo acompanhado de uma cerca do segundo, firmada em ponta; sob o escudo, uma cruz processional; divisa: Singulari Dei gratia, escrita de negro em listel de prata.
Proposta de brasão para a Paróquia da Imaculada Conceição de Currais Novos: de azul com o monograma mariano de prata, coroado de ouro, entre quatro cruzetas do primeiro, o todo acompanhado de uma cerca do segundo, firmada em ponta; sob o escudo, uma cruz processional; divisa: Singulari Dei gratia, escrita de negro em listel de prata.

Sem mais, lanço a minha proposta: de azul com o monograma mariano de prata, coroado de ouro, entre quatro cruzetas do primeiro, o todo acompanhado de uma cerca do segundo, firmada em ponta; sob o escudo, uma cruz processional; divisa: Singulari Dei gratia, escrita de negro em listel de prata.

Como no caso do atributo icônico de Sant'Ana, é mais que justo manter o símbolo de tradição antiga e extensíssima: o monograma de Maria, cujo uso na igreja latina remonta às próprias origens da heráldica, mas cuja difusão ocorreu durante a Contrarreforma, a ponto de ter sido seguidamente assumido pelos escolápios, sulpicianos, redentoristas, maristas, dehonianos etc. Por isso mesmo, pode apresentar diferentes formas. Para uma paróquia sob o título da Imaculada Conceição, o monograma clássico, consistente num M e A entrelaçados, os quais, além do próprio nome de Maria, são também interpretados como abreviação de Ave Maria (cf. Lucas, 1, 28) e Auspice Maria ("Sendo Maria áuspice", divisa dos sulpicianos), é preferível ao M atravessado por um I deitado (de Iesus ou Jesus), rematado por uma cruz, por ser este o monograma próprio da Medalha Milagrosa e estar, por conseguinte, mais ligado ao título de Nossa Senhora das Graças. Quanto à forma da coroa, como há outras figuras acima e abaixo, é preferível a antiga ou aberta, conferindo, portanto, mais espaço no campo ao monograma, que fica em prata, a lembrar a túnica alva da Imaculada Conceição.

Imagem da Imaculada Conceição venerada na Igreja Matriz da Imaculada Conceição de Currais Novos (imagem disponível no perfil da paróquia no Facebook).
Imagem da Imaculada Conceição venerada na Igreja Matriz da Imaculada Conceição de Currais Novos (imagem disponível no perfil da paróquia no Facebook).

O azul do campo é a cor mariana por excelência, especialmente ligada à Imaculada Conceição, em cuja iconografia sempre se vê um manto azul sobre a túnica cândida referida no citado versículo do Apocalipse. Com efeito, o manto azul de Maria Santíssima é uma das convenções iconográficas mais bem estabelecidas em toda a igreja, observável nas imagens de vários outros dos seus títulos, como Nossa Senhora da Guia, do Ó, dos Remédios, dos Aflitos ou do Patrocínio, para citar apenas oragos de outras paróquias da diocese caicoense.

Quanto à divisa, apropriadíssimas são as palavras da constituição apostólica Ineffabilis Deus, na qual Pio IX definiu o dogma da Imaculada Conceição:

Declaramus, pronunciamus et definimus doctrinam, quæ tenet beatissimam Virginem Mariam in primo instanti suæ Conceptionis fuisse singulari omnipotentis Dei gratia et privilegio, intuitu meritorum Christi Jesu Salvatoris humani generis, ab omni originalis culpæ labe præservatam immnunem, esse a Deo revelatam atque idcirco ab omnibus fidelibus firmiter constanterque credendam.

Em vernáculo:

A doutrina que sustenta a beatíssima Virgem Maria, no primeiro instante da sua Conceição, por singular graça e privilégio de Deus onipotente, em vista dos méritos de Jesus Cristo, Salvador do gênero humano, foi preservada imune de toda mancha de pecado original, essa doutrina foi revelada por Deus, e por isto deve ser crida firme e inviolavelmente por todos os fiéis (tradução da CNBB).

Desse excerto do texto, o sintagma Singulari Dei gratia, ou seja, 'Por singular graça de Deus', guarda especial força para se assumir, defender e difundir como divisa.

Sobre as cruzetas e a cerca, leia-se a postagem anterior.

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