20/07/21

PROPOSTA DE BRASÃO PARA A ESCOLA DIACONAL MONS. AUSÔNIO TÉRCIO DE ARAÚJO

Como na vida, na heráldica é virtuoso seguir bons exemplos.

Há alguns dias a Paróquia de Nossa Senhora da Guia de Acari anunciou a assunção de um brasão novo, por ocasião do acrescentamento das insígnias basilicais. No dia 25 de abril, fiz uma proposta aproveitando o mesmo ensejo. Não porque eu tivesse alguma pretensão além da publicação de um apontamento meramente pessoal, como assinala o título do blog, mas por avaliação técnica, devo dizer que o brasão antigo da paróquia era melhor que o novo, pois aquele ao menos apresentava um conjunto de elementos dentro de um campo inteiriço, ao passo que este segue a moda de dividi-lo para acomodar figuras diferentes. Ora, quando se observa, por exemplo, o brasão da arquidiocese de Olinda e Recife, é fácil responder que o escudo é partido porque se compõe das armas de Olinda e da bandeira do Recife, mas ao se observar o brasão em questão, não é possível dar resposta similar: de azul com um crescente de prata, encimado do monograma MA de ouro, coroado do mesmo, são as armas de quem? E de vermelho com o monograma ΧΡ de ouro, de quem outro?

Seja como for, repiso que prefiro a crítica construtiva à destrutiva, daí que, seguindo o bom exemplo que apresentei e comentei na postagem anterior, dedicarei o apontamento pessoal de hoje a mais uma proposta de brasão, desta vez para a Escola Diaconal Monsenhor Ausônio Tércio de Araújo. Restaurado o diaconato permanente pela constituição dogmática Lumen gentium no bojo do Concílio Vaticano II (1964), foi o Mons. Ausônio, então vigário-geral, que, com o apoio de Dom Heitor de Araújo Sales, começou a formação para essa ordem no bispado de Caicó na década de oitenta. É graças a essa iniciativa que essa diocese conta hoje com o serviço de 44 diáconos incardinados e residentes. Justíssimo, pois, que a instituição formadora leve o seu nome.

Com efeito, o Mons. Ausônio é uma dessas colunas da igreja no Seridó, que a fazem respeitada não só pelo fornecimento do pasto espiritual, mas também pela contribuição com o desenvolvimento regional. Nascido em 1935 em Currais Novos, era o irmão mais novo do Mons. Ausônio de Araújo Filho, pároco de Sant'Ana de Currais Novos por longo tempo, falecido em 2001. Foi ordenado presbítero em 1960 em Roma, onde cursou mestrado em Filosofia e Teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana. Percorreu toda a carreira que um padre pode percorrer: foi capelão, vigário, pároco, vigário-geral, administrador diocesano e também honrado com o título de monsenhor. E percorreu toda a carreira que um professor pode percorrer: foi professor e reitor de seminário, professor e gestor de escolas católicas e estaduais, professor e diretor do Colégio Diocesano Seridoense, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, presidente da Fundação Educacional Sant'Ana, membro e presidente do Conselho Estadual de Educação. Mais que isso: entusiasta da doutrina social da igreja, encabeçou vários movimentos da Ação Católica. Faleceu em janeiro deste ano, uma das vítimas que a Covid-19 nos arrebatou.

Proposta de brasão para a Escola Diaconal Monsenhor Ausônio Tércio de Araújo: de prata com uma barra de azul, carregada de três cruzetas de ouro e acompanhada em chefe de um livro aberto do mesmo, encapado de azul e carregado de um Α e um Ω do mesmo; timbre: mitra; divisa: Ut crescat Verbum Dei, escrita de negro em listel de prata.

Para a Escola Diaconal Monsenhor Ausônio Tércio de Araújo, proponho: de prata com uma barra de azul, carregada de três cruzetas de ouro e acompanhada em chefe de um livro aberto do mesmo, encapado de azul e carregado de um Α e um Ω do mesmo; timbre: mitra; divisa: Ut crescat Verbum Dei, escrita de negro em listel de prata.

Procurei incorporar nesta proposta o espírito da melhor armaria eclesiástica seridoense. Assim, a barra, as cruzetas e os esmaltes estão inspirados nas armas dos Araújos, que são de prata com uma aspa de azul, carregada de cinco besantes de ouro. Portanto, trata-se de uma inspiração na linha do que tratei na postagem de 08/07: a criação de armas novas a partir do armorial gentilício, o que, inclusive, foi o expediente de que usaram os irmãos Eugênio e Heitor de Araújo Sales, a partir das mesmas armas dos Araújos. Da aspa fiz, pois, uma barra, que simboliza a estola do diácono, a qual é trazida sobre o seu ombro esquerdo e é presa junto ao lado direito da cintura. Troquei, ademais, os besantes por cruzetas, marcando o estado eclesiástico da armígera. Tal caráter fica reforçado pelo livro aberto com um alfa e um ômega, a mais eloquente das representações heráldicas do Verbo Divino (Apocalipse, 22, 13: "Eu sou o Alfa e o Ômega, o Primeiro e o Último, o Começo e o Fim").

De resto, a figura do livro dialoga com a divisa, que tirei do capítulo dos Atos dos Apóstolos (6, 7) em que se narra a instituição do diaconato: após a escolha dos sete diáconos, diz-se que "a palavra de Deus crescia e o número dos discípulos se multiplicava consideravelmente em Jerusalém; também um grande grupo de sacerdotes judeus aderiu à fé" ("Et verbum Dei crescebat, et multiplicabatur numerus discipulorum in Jerusalem valde; multa etiam turba sacerdotum obœdiebat fidei"). A sentença Ut crescat Verbum Dei significa, pois, 'Para que cresça a Palavra de Deus'. Efetivamente, a proclamação do Evangelho é uma das funções mais emblemáticas do diácono.

Enfim, se o brasão do seminário foi timbrado com uma mitra por causa do seu caráter diocesano, com a mesma justeza pode-se timbrar com ela o da escola diaconal, cujo campo de atuação é, também, a diocese.

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