24/10/23

BANDEIRAS CRUZADAS: SUÍÇA

A particularidade da bandeira suíça prova a grande influência da navegação marítima na forma das bandeiras contemporâneas.

Diferentemente de confédération em francês, confederazione em italiano e confederaziun em romanche, uma palavra singular da língua alemã designa a forma do estado suíço: Eidgenossenschaft, que literalmente significa 'sociedade juramentada'. Com efeito, foi um juramento (Eid) que em 1291 associou perpetuamente os homens livres de Schwyz, Uri e Nidwald contra quem os atacasse. Esse pacto foi renovado e alargado em 1315 e Luís IV confirmou-lhes a imediatez imperial no ano seguinte.

Bandeira da Suíça.
Bandeira da Suíça.

Assim nasceu a Suíça e assim se explica a antiguidade do seu símbolo e a modernidade da sua bandeira. Por um lado, é até difícil conceituar um estado suíço sob o Antigo Regime, porque cada cantão constituía uma espécie de república e a Dieta Federal era a única instituição que representava todos, cingindo-se a tratar dos bailiados comuns e da defesa conjunta. Por outro lado, a cruz branca está atestada desde a Batalha de Laupen (1339): os combatentes de Berna e da Confederação distinguiram-se por duas tiras de linho branco, que cruzaram e coseram às suas vestes.

É possível que a cruz suíça venha da bandeira imperial de guerra (Reichssturmfahne), portanto tem provavelmente a mesma origem da bandeira dinamarquesa. Convém lembrar que a Reichssturmfahne era vermelha com uma cruz branca e aparece desde 1195. Ainda que na Batalha de Laupen os bernenses e confederados tenham afrontado Luís IV, isso não contradiz a hipótese, pois da perspectiva de Berna não havia conjura (afinal esse imperador fora excomungado pelo papa João XXII), mas a defesa das liberdades garantidas pela imediatez imperial. Ademais, do século XIV em diante a Reichssturmfahne foi cada vez mais a bandeira das armas imperiais com um pendão vermelho.

Bandeiras dos confederados com a cruz suíça na Batalha de Nancy, 1477 (Luzerner Chronik, de Diebold Schilling, 1513; disponível no projeto e-codices).
Bandeiras dos confederados com a cruz suíça na Batalha de Nancy, 1477 (Luzerner Chronik, de Diebold Schilling, 1513; disponível no projeto e-codices).

Seja como for, sob o Antigo Regime a Confederação — que ligava oito cantões desde 1393, treze desde 1513 e se tornou independente do Império em 1648 — não tinha brasão nem bandeira. A cruz branca continuou a ser uma insígnia que as forças suíças acrescentavam às suas vestes e bandeiras quando iam à guerra. Em especial, a partir de meados do século XVII difundiram-se bandeiras militares com uma cruz chã branca e, convergindo nos seus ângulos, chamas moventes dos bordos, estas e o campo das cores cantonais.

"O grande selo da Confederação Suíça" (1816; imagem disponível no Landesmuseum Zürich).
"O grande selo da Confederação Suíça" (1816; imagem disponível no Landesmuseum Zürich).

Com efeito, a primeira vez que a Suíça assumiu a forma de um estado e um símbolo estatal foi após o domínio francês: em agosto de 1815, 22 cantões firmaram o pacto constituinte da nova confederação e apuseram-lhe o selo federal que a dieta adotara em julho. Esse selo continha um escudo de vermelho com a cruz branca ("als gemeineidgenössisches Wappenzeichen", isto é, "como brasão de armas da Confederação"), em volta do qual estavam escudos redondos das armas dos cantões. Em outubro, a dieta condecorou os quatro regimentos que tinham lutado por Luís XVIII da França durante os Cem Dias, oferecendo uma bandeira suíça a cada um. Esta era como o brasão: vermelha com uma cruz solta branca, dentro da qual havia um ramo de louro enrolado numa espada e a divisa Für Vaterland und Ehre ('Pela pátria e pela honra').

Essas bandeiras eram meros troféus. Embora a dieta respondesse pela segurança, pela defesa e pelas relações exteriores, não havia bandeira federal. O próximo passo ela deu em 1839, ao aprovar que todos os regimentos de infantaria trouxessem a bandeira suíça, isto é, a cruz solta branca em campo vermelho. Até então ainda prevaleciam as cores cantonais e, mesmo assim, concedeu que se escrevesse o nome do cantão na travessa da cruz. A Constituição de 1848, adotada depois de uma guerra civil entre cantões conservadores e liberais, confirmou e estendeu essa disposição a todas as tropas ao serviço da Confederação.

Armas da Suíça.
Armas da Suíça.

Diferentemente dos usos precedentes, a cruz das bandeiras regimentais a partir de 1841 ficava não só solta (alésée em francês), mas as suas proporções equivaliam a cinco quadrados. Em novembro de 1889, o Conselho Federal elaborou um longo relatório sobre o brasão da Confederação, que resultou na alteração dessas proporções por decreto federal no mês seguinte: as extremidades da cruz ficaram um pouco mais compridas que a sua espessura. Por incrível que pareça, a primeira vez que uma norma definiu explicitamente a bandeira suíça foi em 2013 por lei federal, a qual é a vigente sobre a sua forma e uso e também do brasão.

Pavilhão da Suíça.
Pavilhão da Suíça.

É sobejamente notório que a Suíça é um dos dois estados soberanos que têm bandeira quadrada (o outro, convém lembrar, é o Vaticano). Na verdade, a difusão das bandeiras retangulares deve-se à navegação, que se tornou o meio de transporte mais apropriado às longas distâncias até o desenvolvimento da aviação, porque formas oblongas resistem mais ao vento. Num país sem saída para o mar e onde as bandeiras se vinculavam fortemente à guerra e defesa, acabaram por não sofrer aquela influência, mas a Segunda Guerra Mundial trouxe a necessidade de uma frota própria e, por conseguinte, de um pavilhão, que foi adotado em 1941 e é, precisamente, retangular. A lei vigente data de 1953.

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