01/01/21

APRESENTAÇÃO

Um blog para compartilhar apontamentos com quem, como eu um dia, pesquisou sobre a heráldica e não achou muito em português.


Brasão alusivo à heráldica em si mesma: Partido de arminho e veiros com um escudete de ouro, um de prata, um de vermelho, um de azul, um de negro, um de verde e um de púrpura, postos três, três e um, brocantes.
Brasão alusivo à heráldica em si mesma: Partido de arminho e veiros com um escudete de ouro, um de prata, um de vermelho, um de azul, um de negro, um de verde e um de púrpura, postos três, três e um, brocantes. (1).

Significar, ou seja, produzir signos é uma das mais humanas capacidades. De fato, certos animais são dotados de extraordinária inteligência; outros podem articular uma considerável variedade de sons. No entanto, o homem não só fala — o que, por si, é maravilhoso —, mas desde as pinturas rupestres até a linguagem de programação, perfaz como que outra natureza na natureza das coisas, como diz Cícero.

Uma dessas linguagens sempre me causou tal fascínio que é aquilo que mais estudei e de que tiro o meu sustento: as línguas e as suas belas letras, especialmente as vernáculas e as hispânicas. Com efeito, é ensinando o espanhol que tenho ganhado a vida, como professor primeiro no IFRR e depois no IFRN, e é pesquisando questões no campo da filologia românica que tenho contribuído com a produção de conhecimento.

Não obstante, entre as demais diversas linguagens, sempre me cativaram os símbolos de pessoas e comunidades. Lembro que quando era criança, havia no aeroporto de Fortaleza um quiosque que vendia chaveiros de brasões e aquilo me causava grande curiosidade, assim como qualquer material escolar bem ilustrado de bandeiras. Contudo, faz pouco tempo — uns quatro anos — que procurei sair do senso comum sobre esses símbolos. Como o de qualquer leigo na matéria, o meu entendimento padecia de uma série de equívocos, que, entre outras coisas, pretendo abordar neste blog.

Efetivamente, a principal motivação do blog que ora apresento é o fato de que estudar a heráldica não é nada fácil. No começo, quase desisti: recorri à imensa biblioteca da Internet, mas em língua portuguesa não achei senão sites de heraldistas brasileiros, voltados mais à oferta dos seus serviços que à informação para quem busca saber mais, muitos imiscuídos de ideologias de que divirjo. Se não desisti, devo-o a John Rafael Lúcio de Farias, que, apesar da juventude, há um bom tempo tem publicado conteúdos sobre a heráldica no seu blog e redes sociais, hoje Heráldica Brasil, a partir de uma perspectiva mais instrutiva, e em quem deposito a esperança de aprofundamentos acadêmicos em âmbito nacional.

Assim, sempre que possível, vim dedicando parte da minha disponibilidade à pesquisa, à leitura e à elaboração nada pretensiosa de alguns projetos. Isso tampouco tem sido fácil: quase tudo que há sobre a heráldica na nossa língua foi publicado em Portugal, é antigo, raro e caro, às vezes simplesmente inalcançável para quem está no Brasil, porque sequer se acha à venda. E se alguém se pergunta por que insisto no vernáculo, respondo: certamente na heráldica há uma espécie de gramática universal, mas ao mesmo tempo as particularidades de cada tradição são tantas que lendo apenas a literatura aloglota, muito escapa ao leitor.

Em suma, pensando nas dificuldades que eu mesmo enfrentei e acabei de resumir, julguei pertinente abrir este espaço e acrescentá-lo aos poucos à disposição do neófito lusófono, além da possibilidade de ampliar conhecimentos e pontos de vista por meio da interação com improváveis leitores.

Nota:
(1) Proposta de Xavier Garcia, publicada no seu blog. No entanto, mudei a ordem dos esmaltes de acordo com os tratados medievais de heráldica, que trarei mais adiante, e preferi o escudo amendoado, próprio da heráldica primitiva. Além disso, na sua postagem, Xavier Garcia menciona uma proposição anterior de Michel Pastoureau, mas de acordo com Félix Martínez Llorente, num artigo de 2012, desde meados do século XIV na Alemanha, corporações de pintores traziam três 
ou mais escudetes por armas, precisamente referentes à atividade de pintar escudos para a guerra, torneios ou cerimônias, o que alcançou o auge em fins do século seguinte. Com efeito, a Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia (UFBA) tem um brasão esquartelado, o primeiro e quarto com as armas da UFBA; o segundo e terceiro de vermelho com três escudetes de prata. Para quem não sabe, essa universidade possui um verdadeiro armorial próprio, graças ao brilhante trabalho do irmão Paulo Lachenmayer, OSB, um dos maiores heraldistas brasileiros.

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