12/03/21

PANORAMA DA HERÁLDICA MUNICIPAL SERIDOENSE

A heráldica estatal é a mais presente na nossa vida, mas amiúde é menosprezada por causa dos seus defeitos. Qual é o panorama real desses emblemas?

Para encerrar a série de postagens que comecei em 04/03, vou traçar um panorama da heráldica municipal no Seridó potiguar. Como disse na primeira postagem da série, essa região é um verdadeiro microcosmos da heráldica municipal brasileira.

Nunca é excessivo relembrar que por muito tempo as prefeituras desprezaram os emblemas municipais: cada vez que um prefeito novo assumia, adotava uma marca para a sua gestão, amiúde com as cores do seu partido e um slogan frívolo qualquer. Por isso, é uma satisfação constatar que atualmente todas as prefeituras seridoenses se identificam por meio dos emblemas municipais, com uma única exceção: São João do Sabugi.

Contudo, consequência de tão longa e má prática é que o desenho do emblema foi abandonado: as prefeituras entraram na era digital usando arquivos de péssima qualidade, tanto técnica como tecnológica. Para dar um exemplo ilustrativo, para a elaboração da postagem anterior, não encontrei nenhuma imagem do emblema de Equador sequer de tamanho médio. A gestão municipal iniciada neste ano adotou um desenho digital, porém monocromático, o que não vejo como negativo: logotipado ou não, o importante é usar o emblema oficial. Mas é preciso clareza: idealmente, cada município deveria possuir um desenho oficial do seu emblema, por exemplo para timbrar a sua documentação, ficando livre cada gestão e cada legislatura para incluí-lo na sua marca de forma mais ou menos estilizada.

Assim, os desenhos que mostrarei a seguir são de Anadite Fernandes da Silva e estão publicados no livro Bandeiras e brasões de armas dos municípios do Rio Grande do Norte, da sua autoria. O Rio Grande do Norte é um estado privilegiado por contar com uma obra dessa magnitude, não só pela qualidade artística, mas também porque hercúleo foi o trabalho da professora Anadite, já que nessa matéria a dispersão da informação é a norma. Caso algum leitor se interesse em comprar o livro  eu recomendo-o calorosamente , basta escrever à autora (anaditefernandes@hotmail.com), que prontamente será atendido.

As categorias da classificação que darei são as mesmas com que tenho operado desde o princípio do blog, especialmente nas postagens desta série. Sumario:

  • Tipo:
    • Brasão: É um emblema brasonável, isto é, descritível na linguagem heráldica, porque foi ordenado conforme as regras da armaria.
    • Emblema ("insignoide"): É um emblema que parece um brasão, porque contém um escudo, mas não é brasonável.
    • Emblema: É um emblema propriamente dito ou stricto sensu; sem escudo.
  • Possibilidade:
    • Aperfeiçoável: É o brasão que com um retoque num ou noutro pormenor ficaria mais rigoroso do ponto de vista heráldico, como o de Caicó.
    • Conversível: É o emblema cujo conceito permite que seja convertido num brasão correto, como os de Acari e Currais Novos.
    • Criação nova: É o caso do emblema que dista tanto do código heráldico que não é possível reformá-lo, impondo-se, então, a necessidade de ordenar um brasão novo, como o de Equador.

Emblema

Tipo

Possibilidade

Observação

 Emblema de Acari
emblema
("insignoide")

conversível

Vide a postagem de 08/03.

 
Brasão de Caicó

brasão

aperfeiçoável

Vide a postagem de 06/03.

 
emblema
("insignoide")

criação nova

É uma vinheta de uma paisagem complexa.


brasão

É o melhor brasão do Seridó.

 

brasão

aperfeiçoável

Parece que há uma figura ao natural (o peixe), a qual conviria iluminar de esmalte.

 

emblema

conversível

Vide a postagem de 26/02.

 

emblema

criação nova

Vide a postagem de 10/03.

 

brasão

aperfeiçoável

Parece que há figuras ao natural, as quais conviria iluminar de esmalte.

 
emblema
("insignoide")

conversível

Supõe um conceito singelo (as culturas do algodão e do milho), passível de ordenação num brasão correto.

 
brasão

aperfeiçoável

A combinação dos esmaltes é ajustável.

 

brasão

aperfeiçoável

Parece mais um brasão gentilício do que municipal, o que é ajustável.

 

brasão

aperfeiçoável

Parece que há uma figura ao natural (a cabeça de índio), a qual conviria iluminar de esmalte.

 
emblema
("insignoide")

conversível

Supõe um conceito singelo (um cruzeiro num terrado ao lado de árvores), passível de ordenação num brasão correto.

 
emblema
("insignoide")

conversível

Supõe um conceito singelo (um monte, um rio, uma estrela e a cotonicultura), passível de ordenação num brasão correto.

 
emblema
("insignoide")

criação nova

É o emblema municipal mais complexo do Seridó.

 
emblema
("insignoide")

conversível

Supõe um conceito singelo (a mineração e a cotonicultura), passível de ordenação num brasão correto.

 
emblema
("insignoide")

criação nova

É uma vinheta de uma paisagem complexa.

 

brasão

aperfeiçoável

A combinação dos esmaltes é ajustável.

 
emblema
("insignoide")

criação nova

É uma vinheta de uma paisagem complexa.

 
São Vicente
emblema
("insignoide")

conversível

Supõe um conceito singelo (uma árvore e uma serra), passível de ordenação num brasão correto.

 
emblema
("insignoide")

criação nova

É uma vinheta de uma paisagem complexa.

 
emblema
("insignoide")

criação nova

Não só contém uma vinheta, mas é sobrecarregado de elementos.

 
emblema
("insignoide")

criação nova

É uma vinheta de uma paisagem complexa.

Considerando que é uma emblemática assumida sem regulação estatal alguma num contexto de escassa ou mesmo nula difusão do saber heráldico, não me parece um panorama ruim: dos 23 municípios (1), são oito os que têm emblemas inconversíveis em brasões, ou seja, nada heráldicos, o que demandaria criações novas: Carnaúba dos Dantas, Equador, Parelhas, São Fernando, São José do Seridó, Serra Negra do Norte, Tenente Laurentino Cruz e Timbaúba dos Batistas. Os conversíveis são sete: Acari, Currais Novos, Ipueira, Lagoa Nova, Ouro Branco, Santana do Seridó e São Vicente. Os brasões são oito: Caicó, Cerro Corá, Cruzeta, Florânia, Jardim de Piranhas, Jardim do Seridó, Jucurutu e São João do Sabugi (2).

Talvez futuramente eu traga propostas de conversão de alguns desses emblemas em brasões ou de armas novas, mas por ora encerro esta série de postagens para começar um novo projeto.

Nota:
(1) O IBGE inclui Bodó na região geográfica intermediária de Caicó, mas no plano físico, esse município fica na vertente setentrional da serra de Santana; no histórico, desmembrou-se de Santana do Matos; no eclesiástico, a sua capela faz parte da paróquia de Santana do Matos e pertence à arquidiocese de Natal. Por tudo isto, excluí-o.
(2) Até rascunhei os brasonamentos dessas armas com base nos desenhos da Prof.ª Anadite e nos usados pelas prefeituras, mas sem a indicação certa dos esmaltes, ficam muitas interrogações. Isso prova a precedência da linguagem verbal à visual na heráldica.

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