Assu é a primaz das paróquias joaninas nos sertões do Brasil e sempre pleiteou uma sé episcopal em eventual repartição da província.
O município de Assu tinha 56.496 habitantes em 2022, portanto o nono mais populoso do estado ou o terceiro fora da região metropolitana de Natal. Daí que seja o centro da região geográfica imediata que leva o seu nome. Em 2010, o seu IDH era 0,661 (18.º do estado) e 77,2% da sua população declarava-se católica. Tudo segundo os censos do IBGE.
Assu fica no vale do rio que lhe dá nome, o qual até a Barragem Armando Ribeiro Gonçalves se chama, na verdade, Piranhas. Em tupi, quer dizer 'grande', pelo caudal que ganha durante as cheias, e escreve-se com ç, tal como preceitua a ortografia do português no Brasil desde 1943. A prefeitura e a câmara municipal adotam a grafia Assú, o que é inaceitável, porque não se acentua oxítono acabado em u. Sem acento, Assu é tolerável, já que por tradição nalguns topônimos de origem indígena se manteve o dígrafo ss, como em Mossoró, que a rigor se deveria escrever Moçoró.
O arraial do Açu foi fundado em 1696 por Bernardo Vieira de Melo, capitão-mor do Rio Grande do Norte, para assegurar a conquista do sertão, que os portugueses estavam empreendendo contra a resistência indígena durante a chamada Guerra dos Bárbaros (1685–1712). Consta em 1726 que dispunha de vigário, portanto já era cabeça de freguesia (a segunda da capitania). Por concessão de Dom Tomás José de Melo, governador de Pernambuco, aos 11 de agosto de 1788, o arraial foi elevado a Vila Nova da Princesa, em homenagem a Dona Maria Benedita, mulher do príncipe Dom José, o qual veio falecer no mês seguinte. Em 1845, pela Lei n.º 124, de 16 de outubro, elevou-se a cidade de Assu.
Imagem de São João Batista venerada em Assu, RN (a de 1857 fica no retábulo-mor e estoutra é um réplica menor; imagem disponível no perfil da paróquia no Facebook). |
O orago primitivo do arraial do Açu foi Nossa Senhora dos Prazeres, mas a freguesia sempre esteve, como ainda está, sob o patronato de São João Batista. É provável que os fregueses tenham querido reverenciar o rei Dom João V, como se costumava então. Seja como for, como a sua é a primaz das paróquias joaninas sertanejas, os assuenses ufanam-se de festejar "o São João mais antigo do mundo" (1). A matriz hodierna foi edificada em 1857, quando também o coronel Manuel Lins Vanderlei doou a imagem do padroeiro em tamanho natural.
Por armas à futura diocese de Assu (sobre o seu projeto, leia-se a postagem de 12/08) proponho, pois, em campo de vermelho uma cruz de prata, carregada de um coração do primeiro, inflamado ao natural, e cantonada de quatro folhas de carnaúba de ouro. Por insígnias, as do costume: mitra por cima do escudo e sob ele em aspa cruz processional e báculo. Explico.
A cruz de prata em campo de vermelho está consagrada na heráldica como de São João, assim como a sua contrária — de vermelho em campo de prata — é de todos conhecida por cruz de São Jorge. É, afinal, a "bandeira de São João", que empunham os cavaleiros hospitalários, hoje ditos de Malta. Faz-se, destarte, uma alusão ao padroeiro de modo singelo e harmonioso. Fica, ademais, em sintonia com a proposta de brasão para a futura diocese de Santa Cruz (cf. a postagem antecedente) e as armas das dioceses de Mossoró e Caicó.
Bem-Aventurada Lindalva Justo de Oliveira. |
O coração inflamado lembra a Bem-Aventurada Lindalva Justo de Oliveira. Nascida em 1953 no Sítio Malhada da Areia (zona rural de Assu), ingressou em 1987 na Companhia das Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo, cujo emblema é um crucifixo sobre um coração inflamado e radiante. O martírio acabou, porém, abreviando a sua vida: na Sexta-Feira Santa de 1993, um interno do Abrigo Dom Pedro II, em Salvador (BA), onde a vicentina servia havia dois anos, esfaqueou-a porque ela não consentia o assédio dele. Foi beatificada em 2007 pelo papa Bento XVI.
Igreja Matriz de São João Batista em Assu (RN). Observem-se as carnaúbas plantadas na praça (fotografia de Sergio Falcetti, disponível no Flickr). |
Enfim, as folhas referem ao território: os carnaubais crescem por todo o vale do Açu. Essa palmeira (Copernicia prunifera) é símbolo do estado e do município, presentes nos seus brasões. Nas armas estaduais, é um dos suportes; nas municipais, figura duplicada. Poder-se-iam colocar várias folhas em certos arranjos. Preferi a opção mais singela: uma só em cada cantão, por me ter parecido a possibilidade mais elegante e versátil noutras formas de escudo.
Província eclesiástica de Natal. Em tom mais claro, as quatro paróquias da diocese de Mossoró no vale do Açu e o vicariato episcopal Norte 1 da arquidiocese de Natal. |
O padre Flávio Augusto Forte de Melo, pároco de Santa Luzia, em Mossoró, e membro da comissão de estudo, revelou em entrevista à Rádio Rural de Mossoró em 6 de julho que a diocese de Mossoró cederá as suas quatro paróquias no vale do Açu. Se a estas se somar o vicariato episcopal Norte 1 da arquidiocese de Natal, a futura diocese compreenderá dezesseis paróquias, que pastoreiam uma população dispersa por 21 municípios (2). Em termos geográficos, esse território quase coincide com a região imediata de Assu. A defasagem das paróquias em relação aos municípios demonstra que a criação de um novo bispado nessas regiões é oportuna e necessária.
(1) A primeira paróquia joanina do Brasil foi criada em 1587 em Cananeia (capitania de São Vicente, hoje estado de São Paulo). Seguiram-se quatro no Rio de Janeiro, todas na costa ou perto dela: São João da Barra (1644), São João de Trairaporanga (1646, depois de Meriti), Itaboraí (1684) e Icaraí (1696).
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