14/08/24

PROPOSTA DE BRASÃO PARA A FUTURA DIOCESE DE SANTA CRUZ

Além de centro da sua região imediata, Santa Cruz recebe cada vez mais peregrinos que buscam a intercessão de Santa Rita de Cássia, advogada das causas impossíveis.

O município de Santa Cruz tinha 37.313 habitantes em 2022, portanto o 12.º mais populoso do estado ou o quinto fora da região metropolitana de Natal. Daí que seja o centro da região geográfica imediata que leva o seu nome. Em 2010, o seu IDH era 0,635 (37.º do estado) e 85,2% da sua população declarava-se católica. Tudo segundo os censos do IBGE.

Proposta de brasão para a futura diocese de Santa Cruz: De prata com uma cruz de negro, carregada de uma coroa de espinhos de ouro e cantonada de quatro rosas de vermelho, apontadas de verde e abotoadas de ouro; timbre: mitra; suportes: uma cruz processional e um báculo passados em aspa sob o escudo.
Proposta de brasão para a futura diocese de Santa Cruz: de prata com uma cruz de negro, carregada de uma coroa de espinhos de ouro e cantonada de quatro rosas de vermelho, apontadas de verde e abotoadas de ouro; timbre: mitra; sob o escudo, uma cruz processional e um báculo passados em aspa.

Santa Cruz fica na região do Trairi. Esta era sob o domínio português uma ribeira, isto é, um território cortado por um rio que propiciava a penetração dos colonos sertão adentro através da criação de gado. Na ribeira do Trairi, doaram-se várias sesmarias ao longo do século XVIII. Em 1835, havia finalmente moradores bastantes para pedir ao governo provincial a ereção da capela de Santa Rita, no povoado de Santa Cruz, termo da cidade do Natal, a igreja matriz, o que se fez pela Lei n.º 24, de 27 de março do mesmo ano. Em 1849, a Lei n.º 199, de 27 de junho, transferiu a matriz para a capela de São Bento, no povoado homônimo (hoje Serra de São Bento), que passava também a encabeçar um distrito de paz dentro do município de Goianinha e foi em 1852 elevado a vila. Isso foi revertido em 1858, pela Lei n.º 393, de 24 de agosto, que recriou a freguesia de Santa Rita no termo da vila de São José de Mipibu. Finalmente, pela Lei n.º 777, de 11 de dezembro de 1876, elevou-se o povoado a vila do Trairi e pela Lei n.º 372, de 30 de novembro de 1914, a cidade de Santa Cruz.

É provável que o nome de Santa Cruz se deva às Santas Missões que os frades capuchinhos cumpriam andando pelos sertões. Com efeito, em mais de um lugar a história oral lembra-os chantando cruzeiros, junto aos quais enterravam objetos mundanos e benziam o povo para combater as suas superstições.

Armas municipais de Santa Cruz: de prata com uma cruz alta de vermelho, chantada num monte de verde de três cumes, o do meio mais alto, firmado num rio de prata, aguado de verde; coroa mural de cinco torres de prata; suportes: dois ramos frutados de algodoeiro de sua cor; em listel de vermelho, o nome Santa Cruz e os anos 1876 e 1914, tudo de prata (desenho usado pela prefeitura).
Armas municipais de Santa Cruz (RN): de prata com uma cruz alta de vermelho, chantada num monte de verde de três cumes, o do meio (que sustém a cruz) mais alto, o todo firmado num rio de prata, aguado de verde; coroa mural de cinco torres de prata; suportes: dois ramos frutados de algodoeiro de sua cor; listel de vermelho, carregado do nome Santa Cruz e dos anos 1876 à destra e 1914 à sinistra, tudo de prata (desenho usado pela prefeitura).

Tudo isso se vê bem nas armas municipais. Segundo a prefeitura, foram criadas por Arcinoé Antônio Peixoto de Faria e adotadas em 1977, pela Lei n.º 87, de 26 de janeiro. É um bom brasão: de prata com uma cruz alta de vermelho, chantada num monte de verde de três cumes, o do meio (que sustém a cruz) mais alto, o todo firmado num rio de prata, aguado de verde; coroa mural de cinco torres de prata; suportes: dois ramos frutados de algodoeiro de sua cor; listel de vermelho, carregado do nome Santa Cruz e dos anos 1876 à destra e 1914 à sinistra, tudo de prata.

Santuário de Santa Rita de Cássia em Santa Cruz, RN (imagem disponível no perfil do santuário no Instagram).
Santuário de Santa Rita de Cássia em Santa Cruz, RN (imagem disponível no perfil do santuário no Instagram).

Ao engenhar um brasão para a futura diocese (sobre o projeto desta, leia-se a postagem antecedente), comecei por considerar a profunda devoção dos santa-cruzenses a Santa Rita de Cássia, tanto que em sinal disso sobre um monte ao lado da cidade edificaram um santuário que serve de pedestal a uma estátua da padroeira. Acabada em 2010, é feita de concreto e mede 42 metros de altura, se bem que chega a cinquenta com o resplendor metálico. É a maior do mundo no seu gênero. Está, ainda, em construção um teleférico que ligará a igreja matriz ao santuário.

Margherita Lotti nasceu em 1381 num vilarejo perto de Cascia, então comuna livre dentro do Estado da Igreja, hoje Itália. Por volta de 1407, depois de perder o marido por violência e os dois filhos por doença, entrou no Mosteiro de Santa Maria Madalena (hoje de Santa Rita), onde se fez freira agostinha. Conta-se que na Sexta-Feira Santa de 1442 recebeu um espinho da coroa do Senhor na fronte. A chaga nunca sarou, salvo enquanto peregrinou a Roma para assistir à canonização de São Nicolau de Tolentino. Para a igreja, a estigmatização é um fenômeno pelo qual o orante alcança tal grau de contemplação que passa a participar misticamente da paixão de Cristo. Foi assim, sofrendo sobre o seu leito, que a irmã Rita morreu em 1457.

De acordo com um relato tardio, durante o inverno antes da sua morte, Rita pediu a uma prima que colhesse no horto da casa paterna uma rosa e dois figos, o que terá parecido delírio à parenta. Porém ela achou mesmo em meio à neve tal flor e tais frutos, que assinalavam, segundo a tradição, a salvação do marido e dos filhos da moribunda. Sem dúvida, uma imagem que ilustra bem a fama de advogada de causas impossíveis. Curiosamente, apesar de se terem reputado muitos milagres à intercessão da monja logo depois da sua morte, foi só em 1626 que o papa Urbano VIII a beatificou e em 1900 que Leão XIII a canonizou. Portanto, por longo tempo foi uma santa popular.

Por todo o razoado, para a futura diocese de Santa Cruz proponho em campo de prata uma cruz de negro, carregada de uma coroa de espinhos de ouro e cantonada de quatro rosas de vermelho, apontadas de verde e abotoadas de ouroPor insígnias, as do costume: mitra por cima do escudo e sob ele em aspa cruz processional e báculo. Explico.

Imagem de Santa Rita de Cássia venerada em Santa Cruz, RN (imagem disponível no perfil da paróquia no Instagram).
Imagem e relíquia de Santa Rita de Cássia veneradas em Santa Cruz, RN (imagem disponível no perfil da paróquia no Instagram).

A prata e o negro aludem ao hábito agostinho, que Santa Rita vestiu por quarenta anos. A cruz não só é atributo icônico dessa santa, habitualmente representada olhando para ela ou empunhando-a, mas também é referência ao nome da cidade. A coroa de espinhos lembra o estigma na testa, que à sua vez nos traz à lembrança a humanidade mesma de Deus Filho. As rosas referem ao portento citado, que inculca a advocação de causas impossíveis. Enfim, o escudo condensa a antítese sofrimento–esperança, resumo do exemplo que Santa Rita deu com a sua vida.

Província eclesiástica de Natal. Em tom mais claro, o 8.º zonal do vicariato episcopal Sul 1 e o vicariato Sul 2 da arquidiocese de Natal.
Província eclesiástica de Natal. Em tom mais claro, o 8.º Zonal no vicariato episcopal Sul 1 e o vicariato Sul 2 da arquidiocese de Natal.

Se para formar a futura diocese se desmembrarem o 8.º Zonal no vicariato episcopal Sul 1 e todo o vicariato Sul 2 da arquidiocese de Natal, compreenderá 22 paróquias, que pastoreiam uma população dispersa por 34 municípios (1). Em termos geográficos, esse território quase coincide com as regiões imediatas de Santa Cruz, de Santo Antônio–Passa e Fica–Nova Cruz e de São Paulo do Potengi. A defasagem das paróquias em relação aos municípios demonstra que a criação de um novo bispado nessas regiões é oportuna e necessária.

Nota:
(1) 
Nossa Senhora do Perpétuo Socorro em Barcelona (abrange Rui Barbosa), Nossa Senhora da Saúde em Boa Saúde, Nossa Senhora das Dores em Brejinho (abrange Passagem), Nossa Senhora de Lourdes em Campo Redondo (abrange Lajes Pintadas), Nossa Senhora do Amparo em Coronel Ezequiel (abrange Jaçanã), São Sebastião em Japi (abrange São Bento do Trairi), Santa Teresinha em Lagoa d'Anta, São Francisco de Assis em Lagoa de Pedras, Imaculada Conceição em Nova Cruz, Nossa Senhora de Fátima em Passa e Fica, Sagrado Coração de Jesus em Riachuelo, Santa Rita em Santa Cruz, Nossa Senhora da Conceição em Santa Maria (abrange Ielmo Marinho), Nossa Senhora da Conceição em Santo Antônio (abrange Serrinha), São José do Campestre, São Paulo do Potengi (abrange Lagoa de Velhos), São Pedro no município homônimo, Nossa Senhora da Conceição em São Tomé, Nossa Senhora da Conceição em Serra Caiada (abrange Senador Elói de Sousa), São Bento em Serra de São Bento (abrange Monte das Gameleiras), Santa Teresinha em Tangará (abrange Sítio Novo) e São Pedro em Várzea (abrange Jundiá).

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