Armas das ordens militares e religiosas.
Do Tesouro de nobreza (1675):
Comentário:
A partir deste capítulo, Francisco Coelho dá início ao armorial geral do reino de Portugal e suas conquistas e é aqui que mais se prova o seu valor, porque os congêneres manuelinos não têm esse alcance, mas se cingem à realeza e à nobreza. Por conseguinte, o rei de armas Índia teve de pesquisar por si mesmo brasões de outras espécies, embora à folha 310 do caderno de Albergaria (Códice BNP 1118) se achem os esboços de algumas insígnias de ordens militares e religiosas.
Todavia, é preciso ressalvar a visão da armaria que vigorava então. Com efeito, para Coelho todas as ordens, tanto militares como religiosas, tinham armas, mas na realidade não era bem assim. A igreja sempre vacilou entre o selo e o brasão e a própria Sé Apostólica demonstra isso: as chaves decussadas com a tiara servem-lhe de selo e sobre um escudo formam o brasão do Vaticano (cf. a postagem de 23/11/23). Portanto, todas as ordens têm, mais precisamente, insígnias, mas destas só algumas constituem brasões.
Não obstante, certas ordens nunca tiveram um só emblema, porque são, na verdade, uma família de vários institutos, como a franciscana. Coelho escolheu, então, o emblema usado em Portugal, como as armas da Abadia de Alcobaça pelas da Ordem Cisterciense. Isso confere valor histórico especial ao capítulo.
Em suma, Coelho converteu as insígnias não heráldicas em brasões, pondo cada uma sobre um escudo, às vezes com um timbre. No caso das ordens militares, o esmalte do campo é o mesmo do hábito e da bandeira. Nos demais casos, a iluminura ficou arbitrária. Examinemos uma por uma:
1. A cruz da Ordem de Cristo é pátea, vermelha e vazia em campo de prata ou branco.
2. A cruz da Ordem de Santiago tem a forma de uma espada abatida com o punho acabado em folha de golfão e a guarda florenciada e é vermelha em campo de prata ou branco.
3. A cruz da Ordem de Avis é florenciada e verde em campo de prata ou branco.
4. A cruz de Malta é pátea de oito pontas e de prata ou branca em campo vermelho.
5. Pelas armas da Ordem Cisterciense dão-se aquelas da Abadia de Alcobaça, que são uma banda xadrezada de prata e vermelho entre seis flores de lis de ouro em campo azul; por timbre, mitra.
6. Pelas armas da Ordem de São Bento dão-se aquelas da Congregação Beneditina de Portugal com algumas diferenças, que são em campo azul um báculo de ouro, hasteado de prata, entre uma torre torreada de prata, lavrada, aberta e iluminada de negro, coberta de ouro, e um leão de ouro, tudo sustido por um terrado ao natural; por timbre, mitra.
7. A insígnia da Ordem de Santo Agostinho é um coração inflamado e atravessado por uma flecha sobre um livro, a qual em Portugal aparece sobre uma águia de duas cabeças com cintos nos bicos e o sol e a lua nas garras; por cima do escudo, uma mitra.
8. Pelas armas da Ordem do Carmo dá-se um escudo da cor do hábito carmelita, mantelado em cruz de prata, com três estrelas de um no outro; por timbre, uma espada flamejante.
9. A cruz antiga da Ordem da Santíssima Trindade é pátea de oito pontas com a haste vermelha e a travessa azul em campo de prata ou branco; por cima do escudo, um anjo com um rosário.
10. Pelas armas da Ordem dos Pregadores dá-se um escudo gironado de prata e negro de oito peças com uma cruz florenciada de um para o outro e uma bordadura contragironada, carregada de oito estrelas de um no outro; por timbre, um cão de prata, malhado de negro, segurando na boca uma tocha ao natural, encimada de um mundo azul, arqueado e cruzado de prata. Normalmente não há bordadura, que parece distintiva da província dominicana portuguesa.
11. Pelas armas da Ordem dos Frades Menores dão-se as da Ordem Terceira de São Francisco (hoje Franciscana Secular), que são cinco chagas vermelhas em campo de prata; por timbre, o emblema franciscano, que são dois braços de carnação passados em aspa, o esquerdo vestido do hábito franciscano, ambos com as mãos espalmadas e feridas de vermelho, moventes de nuvens de prata.
12. A insígnia da Companhia de Jesus é um sol carregado do trigrama IHS e de três cravos unidos pelas pontas em baixo; por cima do escudo, um Agnus Dei deitado sobre um livro fechado.
1. A insígnia dos Cônegos Seculares de São João Evangelista é uma águia, atributo icônico do seu patrono. O objeto que ela traz pendente do bico por um cordel parece um tinteiro; por cima do escudo, uma mitra.
2. A insígnia da Ordem de São Jerônimo é um leão, atributo icônico do seu patrono; por cima do escudo, um capelo cardinalício.
3. A insígnia antiga da Ordem de São João de Deus é uma romã encimada de uma estrela e esta de uma cruz; por cima do escudo, a romã.
5. A insígnia da Ordem dos Cartuxos é um mundo encimado de sete estrelas em arco. Portanto, falta o mundo.
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