Armas dos Castros, Eças, Meneses, Cunhas e Sousas.
De João Rodríguez de Sá, decrarando alguns escudos d'armas dalgũas linhagens de Portugal que sabia donde vinham.
Armas dos Castros: De prata com seis arruelas de azul. |
Castros
Embora Castro (do latim castrum 'fortaleza') seja um topônimo comum em Portugal e na Galiza, foi Castrojeriz, em Castela-a-Velha (e não na Biscaia, como diz o poeta) que deu nome à linhagem dos Castros. Descende de Rodrigo Fernandes de Castro, que serviu a Afonso VII de Leão. Seu terceiro filho, Guterre Rodrigues de Castro, casou com Elvira Osório, senhora de Lemos, com quem gerou o ramo galego da casa. Na quarta geração, Pedro Fernandes de Castro, tendo sido criado por Lourenço Soares de Valadares em Portugal, teve da filha deste, Aldonça Lourenço de Valadares, dois filhos bastardos: Álvaro Peres e Inês de Castro.
Inês de Castro veio para Portugal no séquito de Constança Manuel, filha de João Manuel, príncipe de Vilhena, que casou com o infante Dom Pedro em 1339. O infante apaixonou-se pela aia e assumiu a relação com ela após a morte de Dona Constança ao dar à luz o infante Dom Fernando. Embora tenha gerado quatro crianças, essa relação nunca foi aprovada nem por Dom Afonso IV nem pela nobreza portuguesa, pois os Castros já eram poderosos demais em Castela. Em 1355, a mando do rei, Inês foi morta. Três anos depois de cingir a coroa, Dom Pedro I declarou que casara secretamente com ela uns sete anos antes, fazendo dela rainha póstuma. A história virou lenda.
Álvaro Peres de Castro veio para Portugal por apoiar Dom Fernando I nas suas guerras contra Castela, quem o favoreceu com os condados de Arraiolos e de Viana (da Foz) em 1371 e o nomeou condestável de Portugal, o primeiro desse ofício, em 1382. Seu filho, Pedro de Castro, perdeu o condado de Arraiolos ao passar a Castela durante o interregno, mas acabou voltando e reconciliando-se com Dom João I. Um neto seu, Álvaro de Castro, casou com Isabel da Cunha, senhora de Cascais, e recebeu de Dom Afonso V o título de conde de Monsanto em 1460.
Eças
Dos quatro filhos de Dom Pedro I e Dona Inês de Castro, o primogênito morreu na infância e os demais passaram a Castela: a infanta Dona Beatriz, pelo casamento com Sancho de Castela, duque de Albuquerque; o infante Dom Dinis, durante a segunda guerra fernandina, em 1372; o infante Dom João, depois de matar sua mulher, Maria Teles de Meneses, irmã da rainha Dona Leonor Teles de Meneses, em 1379. Este levou seu filho, Fernando, a quem Fadrique Henriques de Castela, duque de Arjona, doou o senhorio de Eza, na Galiza, de onde tomou o sobrenome. Esse Fernando de Eça voltou para Portugal e levou uma vida dissoluta, mas se arrependeu na velhice, vestindo o hábito de São Francisco, daí o cordão das armas.
Armas dos Meneses: De ouro liso. |
Meneses
A essa casa dá nome Meneses de Campos, em Castela-a-Velha. À sua vez, o lugar chama-se assim porque foi povoado por colonos do vale de Mena, também em Castela-a-Velha, do século X para o XI. Vem de Telo Peres, primeiro senhor de Meneses, que serviu a Afonso VIII de Castela e cuja ascendência a literatura genealógica remonta ao rei Ordonho II de Leão (914-924). Seu filho, Afonso Teles de Meneses, casou pela segunda vez com Teresa Sanches, filha bastarda de Dom Sancho I, quem o fez senhor de Albuquerque.
Afonso Teles teve João Afonso, cujo primogênito, Rodrigo Anes, conservou o senhorio de Albuquerque até a quarta geração. Da prole ilegítima de João Afonso, o sexto e penúltimo senhor, descendem os Albuquerques. Na segunda geração de Gonçalo Anes, secundogênito de João Afonso, os Meneses portugueses cindiram-se em duas linhagens: de Martim Afonso, a Casa de Cantanhede; de João Afonso, conde de Ourém, a Casa de Vila Real.
Martim Afonso foi o pai da rainha Dona Leonor Teles de Meneses, esposa de Dom Fernando I, e de Gonçalo Teles de Meneses, conde de Neiva e primeiro senhor de Cantanhede. Esse senhorio foi elevado a condado por Dom Afonso V em favor de Dom Pedro de Meneses, bisneto do conde de Neiva, em 1479. A mãe do nosso poeta, Brites de Meneses, era irmã do primeiro conde de Cantanhede. Os Meneses desse ramo sobrepuseram as armas da casa às dos Albuquerques, por Maria Afonso, filha de João Afonso, sexto senhor de Albuquerque, e esposa do conde de Neiva.
O conde de Ourém gerou João Afonso, conde de Viana (do Alentejo) por mercê de Dom Fernando I em 1373. Este foi o pai de Pedro de Meneses, primeiro conde de Vila Real, de quem tratei na postagem anterior. Não mencionei, todavia, que este teve um filho bastardo, Duarte, que herdou o condado de Viana e o legou a seu primogênito, Henrique, que também foi o primeiro conde de Loulé por mercê de Dom Afonso V em 1471, mas essa linhagem se extinguiu em Guiomar Coutinho, terceira condessa de Loulé e quinta de Marialva. Outro filho de Duarte, João, recebeu de Dom Manuel I o condado de Tarouca em 1499 e foi prior da Ordem Hospitalária desde 1508. Os Meneses desse ramo sobrepuseram as armas da casa a uma composição de seis quartéis com aquelas dos de Vila Lobos e dos Limas, presumivelmente o brasão do conde de Ourém.
Enfim, o condado de Barcelos não era hereditário até a Batalha de Aljubarrota (1385), daí que tenha sido dado a diferentes expoentes da Casa de Meneses: João Afonso, quarto senhor de Albuquerque e primeiro conde de Barcelos; João Afonso, conde de Ourém e quarto de Barcelos; Afonso, seu filho e quinto conde; João Afonso, filho de Martim Afonso e sexto conde.
Armas dos Cunhas: De ouro com nove cunhas de azul. |
Cunha
Essa casa descende de Paio Guterres, primeiro senhor da Cunha, no Minho, que serviu a Dom Afonso Henriques, embora a literatura genealógica supusesse que tivesse vindo de fora com o conde Dom Henrique. Na quarta geração, Urraca Lourenço, filha de Lourenço Fernandes, terceiro senhor da Cunha, casou com Martim Martins Dade, alcaide de Santarém. Em testamento, ela instituiu um vínculo para a capela de São Bento, na Sé de Braga, deixando certos bens em Santarém e na Golegã para o seu sustento. Esse vínculo durou até a extinção definitiva do morgadio em Portugal, em 1863.
Cunha é um topônimo comum em Portugal e na Galiza. Nada tem a ver com cunha, o objeto (do latim *cunea, por cuneus), cuja figura faz as armas falantes dessa linhagem. Vem, na verdade, do latim culina 'cozinha', por meio da forma mais antiga cuinha.
Armas dos Sousas do Prado: Esquartelado, no primeiro e quarto, as armas de Portugal antigo; o segundo e terceiro de prata com um leão de púrpura. |
Sousas
Essa casa vem de Egas Gomes, senhor de Sousa, no Douro, coetâneo de Afonso VI de Leão. Na sétima e oitava gerações, coube às filhas e netas de Mem Garcia de Sousa perpetuar a chefia da casa: Constança Mendes casou com Pedro Anes Portel e teve Maria Peres; Maria Mendes casou com Lourenço Soares de Valadares e teve Inês Lourenço. À sua vez, tanto Maria como Inês casaram com filhos ilegítimos de Dom Afonso III: aquela com Afonso Dinis e esta com Martim Afonso Chichorro.
De Maria Peres e Afonso Dinis descendem os Sousas de Arronches, que trazem as armas da casa — de vermelho com uma caderna de crescentes de prata — esquarteladas com as do Reino, diferençadas pelo filete de bastardia. De Inês Lourenço e Martim Afonso descendem os Sousas do Prado, que trazem as armas de Portugal antigo esquarteladas com as de Leão, pela rainha Dona Urraca, filha de Afonso VIII de Castela, e mãe de Dom Afonso III (leia-se a postagem de 21/01/2021).
O imperador a que o poeta refere é Afonso VII de Leão, que foi coroado imperator totius Hispaniæ ('imperador de toda a Espanha') em 1135; o primeiro no reinar e primeiro conquistador, Dom Afonso Henriques, primo desse imperador e vassalo seu. Afonso VII foi bisavô de Dona Urraca e Dom Afonso Henriques, bisavô de Dom Afonso III.
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