Armas do mestre de Avis, do marquês de Vila Real, da Casa de Bragança, dos Noronhas e dos Coutinhos.
De João Rodríguez de Sá, decrarando alguns escudos d'armas dalgũas linhagens de Portugal que sabia donde vinham.
Armas do mestre de Avis: As armas do Reino, diferençadas por um filete de negro em barra, brocante sobre tudo. |
O mestre
Esse mestre era Jorge de Lancastre, filho bastardo de Dom João II, quem lhe entregara os mestrados das ordens de Avis e Santiago em 1491. Ainda por vontade desse rei, já em testamento, Dom Manuel I concedera-lhe o ducado de Coimbra em 1500. Sobre a quebra de bastardia, leiam-se as postagens de 21/01/2021 e 28/07/2021.
Marquês
Esse marquês era Pedro (III) de Meneses, capitão de Ceuta. O condado de Vila Real foi criado por Dom João I em favor de Pedro (I) de Meneses em 1424. Presumivelmente, foi o pai deste, João Afonso Telo de Meneses, primeiro conde de Viana (do Alentejo), que sobrepôs as armas paternas — o escudo de ouro liso dos Meneses — às armas de duas linhagens femininas da sua ascendência: Vila Lobos, de sua avó materna, e Lima (cujas armas o poeta confunde com as reais de Aragão), de uma de suas bisavós por parte de pai. Depois, o dito Pedro (I) de Meneses, por ser o capitão da recém-conquistada cidade de Ceuta, trocou o primeiro quartel por um campo de azul com um estoque de prata, empunhado de ouro. Contudo, como não tinha herdeiro varão, instituiu um morgadio para perpetuar o seu sobrenome na geração de sua filha, Brites, que casou com Fernando de Noronha, daí a sobreposição às armas dos Noronhas. O condado de Vila Real foi elevado a marquesado por Dom João II em favor de Dom Pedro (II) de Meneses em 1489.
Casa de Bragança
Essa casa tem origem em Dom Afonso, filho natural de Dom João I. O ducado de Bragança foi-lhe concedido em 1442 por seu meio-irmão, o infante Dom Pedro, regente durante a menoridade de Dom Afonso V. As suas armas eram uma quebra daquelas paternas à moda antiga: transformou-se a bordadura em aspa e sobre ela puseram-se os escudetes das quinas, mas a depender da reprodução, estes vieram variando com escudetes de Portugal antigo ou das armas reais diferençadas por um filete de negro em banda ou em barra.
Apesar de Dom Jaime de Bragança ter assumido armas novas em 1498, como o poeta canta na quinta estrofe e eu mostrei e comentei na postagem anterior, as armas antigas passaram a distinguir a linhagem do sobrenome Faro, que descende de Dom Afonso de Bragança, segundo conde de Odemira jure uxoris e primeiro conde de Faro (1469), terceiro filho de Dom Fernando de Bragança, o segundo duque. O quarto filho deste, Dom Álvaro, esquartelou as armas paternas com as dos Melos, por sua esposa, Filipa de Melo, com quem teve a Dom Rodrigo de Melo, primeiro conde de Tentúgal (1504).
Além disso, ainda que o primogênito homônimo de Dom Afonso I de Bragança tenha morrido antes de seu pai, gerou um filho natural: Afonso de Portugal, bispo de Évora. À sua vez, este deixou prole sacrílega, cujo primogênito, Francisco de Portugal, foi o primeiro conde de Vimioso (1515). Foi essa linhagem de sobrenome Portugal que diferençou as armas da casa alternando os escudetes com cruzes florenciadas e vazias, as quais tiraram das armas dos Pereiras, por Beatriz Pereira de Alvim, esposa do primeiro duque e filha do condestável Nuno Álvares Pereira.
Noronhas
Os Noronhas descendem de Afonso Henriques, filho natural de Henrique II de Castela, de quem herdou o condado de Noreña, nas Astúrias ("donde a terra tomada | de mouros é recobrada | e tornada à fé Espanha"), e as armas que trazia antes de cingir a coroa, pois o próprio Henrique II era filho bastardo de Afonso XI. Essas armas compõem-se de uma quebra do esquartelado de Castela e Leão, pela qual se transformou o segundo campo em mantelado, e do xadrezado de ouro e veiros, armas dos Álvares das Astúrias, antigos senhores de Noreña, transformado em bordadura composta.
O conde Afonso casou com Isabel de Portugal, filha natural de Dom Fernando I, daí a esquarteladura das armas sobreditas com as reais, diferençadas por um filete de negro em banda e que o poeta chame o marquês de Vila Real de "tresneto dos reis passados".
Armas dos Coutinhos: De ouro com cinco estrelas de vermelho. |
Coutinhos
Os Coutinhos descendem de Vicente Viegas, coetâneo de Dom Sancho I e filho de Egas Garcia da Fonseca, de quem herdou o senhorio do couto de Leomil, na Beira Alta, daí o nome: coutinho é o diminutivo de couto. Um couto, do latim cautum 'garantido', era um território onde os habitantes gozavam de certos privilégios judiciais e fiscais, o que servia de estratégia de povoamento aos reis. Por isso, Couto e Coutinho são topônimos frequentes em Portugal e na Galiza.
Em 1440, Dom Afonso V criou o condado de Marialva a favor de Vasco Fernandes Coutinho, filho de Gonçalo Vasques Coutinho, senhor do couto de Leomil e marechal de Portugal. Em 1516, a titular era Guiomar Coutinho, também condessa de Loulé. Além disso, um neto do primeiro conde de Marialva, também chamado Vasco Coutinho, recebeu de Dom Manuel I o título de conde de Redondo em 1500 e era o capitão de Arzila quando o jovem Sá de Meneses tomou parte da força que o socorreu contra um cerco em 1508.
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