Armas dos Pereiras, Vasconcelos, Melos, Silvas e Albuquerques.
De João Rodríguez de Sá, decrarando alguns escudos d'armas dalgũas linhagens de Portugal que sabia donde vinham.
Armas dos Pereiras: De vermelho com uma cruz florenciada de prata, vazia do campo. |
Pereiras
A aparição da cruz faz parte do legendário da Batalha de Las Navas de Tolosa, que é, todavia, mais recente (1212) do que a vida do alegado ascendente que esteve aí: Rodrigo Forjaz, que serviu ao rei Garcia da Galiza.
Essa linhagem descende de Rui Gonçalves, senhor da Quinta de Pereira, no Minho, que viveu nos tempos de Dom Afonso I e Dom Sancho I. Na quarta geração, a casa perdeu essa herdade, mas Álvaro Rodrigues, sobrinho de Vasco Gonçalves, o derradeiro senhor, ganhou de Dom João I a terra de Santa Maria, senhorio que Dom Afonso V elevou a condado da Feira três gerações depois, em 1481, a favor de Rui Pereira. Outro tio desse primeiro senhor da Feira foi arcebispo de Braga: Gonçalo Pereira, cujo filho sacrílego, Álvaro Gonçalves, foi prior da Ordem Hospitalária e o pai de Nuno Álvares Pereira.
Nuno Álvares Pereira é um herói de Portugal. Durante o interregno que se seguiu à morte de Dom Fernando I, apoiou a pretensão do mestre de Avis, pelo qual venceu a Batalha dos Atoleiros em 1284, a primeira da guerra contra a pretensão de João I de Castela. Aclamado rei Dom João I no ano seguinte, nomeou-o condestável de Portugal e deu-lhe o condado de Arraiolos. Comandou, então, o exército em Aljubarrota, a batalha decisiva, após a qual o rei o cumulou com os condados de Ourém e Barcelos, fazendo dele um dos homens mais ricos do reino. Apesar disso, na velhice, mais precisamente em 1422, renunciou ao mundo, tomando o nome de Nuno de Santa Maria e recolhendo-se como donato no convento que ele mesmo edificou em Lisboa e doou à Ordem Carmelita. Morreu em 1431 e foi canonizado pelo papa Bento XVI em 2009.
O Santo Condestável teve três crianças do casamento que seu pai arranjou na sua juventude com Leonor de Alvim, das quais a menina sobreviveu: Beatriz Pereira de Alvim, que casou com Dom Afonso, filho natural de Dom João I e depois duque de Bragança. Daí a cruz florenciada e vazia nas armas do ramo que descende do primogênito do primeiro duque e usa o sobrenome Portugal, como mostrei e expus na postagem de 19/06.
Armas dos Vasconcelos: De negro com três faixas veiradas de prata e vermelho. |
Vasconcelos
Vasconcelos é um diminutivo de vasconços, o que indica um lugar povoado por colonos de origem basca. Acertadamente, o poeta diz "Vasconcelos de Gasconha", pois Gasconha vem do latim Vasconia. A linhagem portuguesa tomou o seu nome da Torre de Vasconcelos em Ferreiros, no Minho, cujo primeiro senhor foi Pedro Martins, coetâneo de Dom Sancho I. O senhorio pertenceu à casa até a quarta geração.
Note-se que o poeta refere de uma maneira muito bela ao veirado das armas como "vermelhas ondas do mar", mas erra ao confundir o negro do campo com "azul mui singular".
Armas dos Melos: De vermelho com uma dobre-cruz de ouro, cantonada de seis besantes de prata, e uma bordadura de ouro. |
Melos
Essa casa descende de Mem Soares, primeiro senhor de Melo, na Beira Alta. Incrivelmente, esse senhorio pertenceu à sua geração até o fim do Antigo Regime.
Apesar do que o poeta diz sobre o nome, Melo vem do latim merulus (por merula), isto é, 'melro', mediante a forma mais antiga merlo.
Armas dos Silvas: De prata com um leão de púrpura, armado e lampassado de vermelho. |
Silvas
Essa linhagem descende de Guterre Alderete, senhor da Torre de Silva, em Valença do Minho, coetâneo de Afonso VI de Leão. Esse senhorio pertenceu à casa até a quinta geração. Diogo da Silva, bisneto de Aires Gomes da Silva, derradeiro senhor, recebeu o condado de Portalegre por mercê de Dom Manuel I em 1498.
Silva vem do substantivo comum silva, que designa diferentes plantas do gênero Rubus, também ditas silveiras ou sarças. Nada tem a ver com Reia Sílvia, filha de Numitor, rei de Alba Longa, e mãe de Rômulo, que matou Remo, seu irmão gêmeo, e fundou a cidade de Roma, da qual foi o primeiro rei.
Armas dos Albuquerques: Esquartelado, no primeiro e quarto as armas do Reino, diferençadas por um filete de negro em barra; o segundo e terceiro de vermelho com cinco flores de lis de ouro. |
Albuquerque
O senhorio de Albuquerque foi doado por Dom Sancho I a Afonso Teles de Meneses, seu genro. Foi João Afonso, sexto senhor e filho de Afonso Sanches, bastardo de Dom Dinis, e Teresa Martins de Meneses, quem começou a usar o sobrenome Albuquerque, perpetuado graças à sua prole ilegítima, já que o seu sucessor lídimo, Martim Anes, morreu sem descendência, apropriando-se a Coroa de Castela não só do senhorio de Albuquerque, mas também daquele de Meneses, que nele convergira pelo seu casamento com Isabel Teles de Meneses, décima senhora.
É possível que Albuquerque venha do latim albus quercus (por alba quercus), isto é, 'carvalho branco', via certa fala moçárabe.
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