Armas das cidades de Portugal.
Do Tesouro de nobreza (1675):
Fólio 11 – Armas das cidades de Portugal. 1. Braga; 2. Évora; 3. Porto; 4. Coimbra; 5. Leiria; 6. Lamego; 7. Guarda; 8. Viseu; 9. Portalegre; 10. Beja; 11. Bragança; 12. Elvas. |
Comentário:
Como eu disse na postagem antecedente, em Portugal sob o Antigo Regime cabia às câmaras das cidades e vilas assumir armas. Portanto, as povoações portuguesas não receberam mercês heráldicas, como na Espanha, onde o fenômeno começou pelo reino de Granada e se estendeu ao ultramar, mas tampouco gozavam das liberdades que tinham, por exemplo, as cidades imperiais, briosamente representadas pelas suas insígnias.
Com efeito, as insígnias municipais portuguesas permaneceram num estágio intermediário, sem completar a transição do selo para o brasão. Daí que à estabilidade das figuras se contrapunha a inconstância dos esmaltes. Isso explica por que até Inácio de Vilhena Barbosa, nas Cidades e vilas da Monarquia Portuguesa que têm brasão d'armas (1860-62), os autores se cingiam a apontar que certo município usava de tais e tais figuras, como se descrevessem um selo ou mesmo uma pedra de armas. Estas podem ter sido, na realidade, as suas fontes primárias.
Assim, não se espante o leitor se lhe parecerem inexatos os apontamentos do padre Antônio Soares de Albergaria nos seus estudos (Códice BNP 1118, fls. 301v-309), que tenho referido desde a primeira postagem desta série e é o lugar de onde Francisco Coelho tirou os brasões deste capítulo (1). Por conseguinte, a pintura que ele lhes dá são da sua imaginação. Examinemos um por um:
1. A cidade de Braga tinha por armas "duas torres e no meio de antre elas com ũa imagem de Nossa Senhora e o Menino Jesus no colo em um caixilho oval, com uma mitra pontifical em cima, e ao pé esta letra: Insignia Fidelis et Antiquæ Bracaræ". Coelho omite a legenda, que significa "Insígnia da Fiel e Antiga Braga".
2. A cidade de Évora tinha por armas "em campo branco um homem a cavalo com ũa cabeça ou duas de mouro e moura pelos cabelos". Coelho pinta o campo de azul.
3. A cidade do Porto tinha por armas "duas torres e no meio dentre ambas um caixilho com ũa imagem de Nossa Senhora e o Menino Jesus no colo".
4. A cidade de Coimbra tinha por armas "um escudo de prata com ũa torre à feição de cálix de ouro e em cima ũa dama coroada com coroa de ouro, vestida de vermelho e com um manto azul, e de ũa parte da torre, a saber, da parte direita, um leão roxo, como que quer trepar à torre e, da parte esquerda, ũa serpe verde, armada de vermelho, como que também quer trepar a ela". Coelho pinta o escudo de vermelho, o vestido da dama de prata e o leão de ouro.
5. Albergaria esboça as armas da cidade de Leiria, mas não as brasona. Coelho dá-lhe um pinheiro em campo de prata.
6. A cidade de Lamego tinha por armas "ũa torre com três baluartes e dũa parte um pinheiro e doutra um homem tocando ũa buzina" ou "castelo de prata em campo azul, estrelas d'ouro e sol, lua de prata, o campo verde, rajado d'ouro, e a árvore verde com folhas e raízes d'ouro". Coelho omite as estrelas.
7. A cidade da Guarda tinha por armas "campo azul, castelo de prata, lavrado de preto, portas e janelas" ou "ũa torre com três baluartes e no meio as armas reais".
8. A cidade de Viseu tinha por armas "campo de prata, castelo azul, pinheiro verde, o homem vestido de vermelho e de verde, buzina negra". Coelho pinta tudo ao natural, salvo o castelo de prata.
9. A cidade de Portalegre tinha por armas "um castelo de prata em campo azul com o pé de verde, lavrado de negro".
10. A cidade de Beja tinha por armas "campo de prata, águias negras, escudo das quinas do Reino, cabeça de sua cor de burro boi e no canto do escudo, que cerra de azul o céu e o chão verde terá ũa cidade de púrpura, toda gravada de ouro".
11. Albergaria esboça as armas da cidade de Bragança, mas não as brasona. Coelho dá-lhe uma torre de prata num terrado verde.
12. A cidade de Elvas tinha por armas "o escudo branco e nele um homem com o braço armado sobre um cavalo, o vão acobertado, com ũa lança às costas e nela ũa bandeira quadrada com as armas de Portugal". Coelho pinta o campo de vermelho.
(1) Albergaria menciona a cidade de Miranda, mas não dá as suas armas, o que conveio a Coelho, pois movendo as de Lisboa para o capítulo dos reis, obteve o número exato para preencher esta folha.
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