17/04/21

ARMORIAL DOS BISPOS DE CAICÓ

A diocese de Caicó é jovem, mas o armorial dos seus sete bispos contém exemplos interessantes das tendências da heráldica eclesiástica contemporânea.

Depois de Dom José de Medeiros Delgado, de cujas armas tratei na postagem anterior, seis bispos tomaram assento na sé caicoense. Em geral, os seus brasões têm uma qualidade heráldica destacável. Nesta postagem, darei cada um até o sexto bispo e tecerei comentários sucintos.

Dom José Adelino Dantas

Nasceu em 1910 em São Vicente (RN). Foi ordenado presbítero em 1934. Foi nomeado segundo bispo diocesano de Caicó e ordenado em 1952. Em 1958 foi nomeado sexto bispo diocesano de Garanhuns (PE) e 1967, segundo bispo diocesano de Ruy Barbosa (BA). Renunciou em 1975 e faleceu em 1983. Está sepultado na Capela de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, em Carnaúba dos Dantas (RN).

Armas de Dom José Adelino Dantas: de prata com uma cruz de negro, acompanhada de uma lança de vermelho, hasteada de negro, movente do cantão destro da ponta, e uma arruela de vermelho, carregada de três faixas ondadas de prata, brocante sobre a cruz; insígnias de bispo; divisa: In finem dilexit.
Armas de Dom José Adelino Dantas: de prata com uma cruz de negro, acompanhada de uma lança de vermelho, hasteada de negro, movente do cantão destro da ponta, e uma arruela de vermelho, carregada de três faixas ondadas de prata, brocante sobre a cruz; insígnias de bispo; divisa: In finem dilexit.

Dom Adelino Dantas trazia de prata com uma cruz de negro, acompanhada de uma lança de vermelho, hasteada de negro, movente do cantão destro da ponta, e uma arruela de vermelho, carregada de três faixas ondadas de prata, brocante sobre a cruz; insígnias de bispo; divisa: In finem dilexit.

Na minha opinião, o brasão de Dom Adelino é o melhor desta coleção: belo, singelo e representativo. De fato, qualquer um que conheça a história da Paixão capta facilmente que refere ao golpe de lança que um soldado romano deu no flanco de Jesus Cristo para atestar a sua morte. Segundo São João (19, 34): "mas um soldado golpeou-lhe o lado com uma lança, e imediatamente saiu sangue e água". Ora, estando já morto, a referência é perfeitamente complementada pela divisa, tirada do mesmo evangelho (13, 1): "Ante diem autem festum Paschæ, sciens Jesus quia venit ejus hora, ut transeat ex hoc mundo ad Patrem, cum dilexisset suos, qui erant in mundo, in finem dilexit eos" ("Antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que tinha chegado a sua hora, hora de passar deste mundo para o Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim").

Além disso, uma arruela ou um besante carregado de faixas ondadas é, na armaria, uma das convenções para representar um olho d'água ou fonte, mas neste caso além de figurar os líquidos relatados, a sua situação brocante ressalta o significado da cruz: foi o derramamento desses líquidos que a transmutou de instrumento de tortura em sinal de fé. Com efeito, a Tradição é rica em discursos e práticas sobre a transfixão de Jesus, como a devoção ao Sagrado Coração ou o acrescentamento de um pouco d'água ao vinho durante a liturgia eucarística.

Em suma, trata-se de armas devocionais ordenadas na mais pura e refinada linguagem heráldica.

Dom Manuel Tavares de Araújo

Nasceu em 1912 em São José do Mipibu (RN). Foi ordenado presbítero em 1936. Foi nomeado terceiro bispo diocesano de Caicó e ordenado em 1952. Renunciou em 1978 e faleceu em 2006. Está sepultado na Igreja Matriz de Sant'Ana e São Joaquim de São José do Mipibu.

Armas de Dom Manuel Tavares de Araújo: de prata com uma aspa de vermelho; insígnias de bispo; divisa: In omnibus Christus.
Armas de Dom Manuel Tavares de Araújo: de prata com uma aspa de vermelho; insígnias de bispo; divisa: In omnibus Christus.

Dom Manuel Tavares trazia de prata com uma aspa de vermelho; insígnias de bispo; divisa: In omnibus Christus.

Os Tavares trazem de ouro com cinco estrelas de seis raios de vermelho e os Araújos, de prata com uma aspa de azul, carregada de cinco besantes de ouro. Parece-me, portanto, que Dom Manuel combinou as armas dessas duas linhagens homófonas dos seus sobrenomes para criar armas novas: a aspa dos Araújos iluminada do vermelho das estrelas dos Tavares, que, como é ordinário para cinco figuras repetidas, estão exatamente postas em aspa. Não enxergo aí nenhuma referência devocional, mas considerando o que diz a divisa, seria razoável supor que a aspa representa a letra Χ, não um xis, mas um qui, a inicial da palavra grega Χριστός (Khristós) 'Cristo'. Com efeito, a divisa foi tirada da Carta de São Paulo aos Colossenses (3, 11): "ubi non est Græcus et Judæus, circumcisio et præputium, barbarus, Scytha, servus, liber, sed omnia et in omnibus Christus" ("aí não se faz mais distinção entre grego e judeu, circunciso e incircunciso, bárbaro, cita, escravo, livre, porque agora o que conta é Cristo, que é tudo e está em todos").

Um admirador da heráldica medieval diria que o brasão de Dom Manuel é excelente, porque essa singeleza — o campo e uma peça ou figura — caracterizam os brasões mais antigos. Mas para o gosto moderno e contemporâneo é simples demais. Daí a opacidade do significado, que na armaria eclesiástica, ao contrário da gentilícia primitiva, costuma existir e não ficar tão opaco.

Dom Heitor de Araújo Sales

Nasceu em 1926 em São José do Mipibu. Foi ordenado presbítero em 1950. Foi nomeado quarto bispo diocesano de Caicó e ordenado em 1978. Em 1993 foi nomeado quarto arcebispo metropolitano de Natal. Renunciou em 2003.

Armas de Dom Heitor de Araújo Sales: de prata com uma aspa de azul, carregada de uma concha aberta de prata, sobrecarregada de uma pérola do mesmo, e quatro besantes de ouro; insígnias de arcebispo metropolitano; divisa: Unitate, pace, gaudio.
Armas de Dom Heitor de Araújo Sales: de prata com uma aspa de azul, carregada de uma concha aberta de prata, sobrecarregada de uma pérola do mesmo, e quatro besantes de ouro; insígnias de arcebispo metropolitano; divisa: Unitate, pace, gaudio.

Dom Heitor Sales traz de prata com uma aspa de azul, carregada de uma concha aberta de prata, sobrecarregada de uma pérola do mesmo, e quatro besantes de ouro; insígnias de arcebispo metropolitano; divisa: Unitate, pace, gaudio.

Se a minha hipótese sobre as armas de Dom Manuel Tavares estiver correta, as de Dom Heitor seguem a mesma tendência, isto é, diferençar armas gentilícias dotando-as de certo caráter devocional: como eu disse, os Araújos trazem de prata com uma aspa de azul, carregada de cinco besantes de ouro. Portanto, trocou-se o besante do centro por outra figura arredondada de significado religioso: a concha aberta com uma pérola, atributo icônico de Sant'Ana, como expliquei na postagem de 30/03. Ora, a Senhora Sant'Ana é padroeira tanto de São José do Mipibu, onde Dom Heitor nasceu, como da diocese de Caicó, que não só governou, mas também é onde se enraízam as suas origens familiares: os Araújos em que entronca desbravaram a ribeira do Acauã e fundaram Acari. Com efeito, foi aí que nasceu seu irmão mais velho, Dom Eugênio Cardeal de Araújo Sales, sexto arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro, quem trazia armas bem semelhantes: de prata com uma aspa de azul, carregada de um mundo de ouro e quatro besantes do mesmo; insígnias de cardeal arcebispo; divisa: Impendam et superimpendar.

Essa espécie de armas é, portanto, uma evolução do movimento exemplificado pelas do cardeal Arcoverde, de que tratei na postagem de 13/04. Estas ainda se prendiam à esquarteladura, tão característica da heráldica gentilícia do Antigo Regime, ao passo que agora se vê uma modificação do próprio brasão de certa linhagem, de modo que se cria um híbrido gentilício-devocional. Como argui na postagem de 15/01, não acho que o armorial gentilício português deva ser tratado como peça de museu ou que para se lançar mão dele se deva exigir um severíssimo rigor genealógico que nunca foi praticado, mas que faz parte do patrimônio semiótico do mundo lusófono e, dada a brandura com que o sistema funcionava, considero uma inovação brilhante recorrer a ele no ordenamento de armas novas, sempre que se tiver o cuidado de efetuar uma diferença suficiente para assegurar que pareçam mesmo novas. Na verdade, esse recurso não é lá tão inovador, a julgar pelas pesquisas sobre os chamados grupos heráldicos na armaria medieval: conjuntos de armas semelhantes que deixam ver um suposto enlace entre os seus titulares primitivos.

A divisa de Dom Heitor significa 'Em unidade, paz, alegria' e foi provavelmente inspirada em expressões litúrgicas.

Dom Jaime Vieira da Rocha

Nasceu em 1947 em Tangará (RN). Foi ordenado presbítero em 1975. Foi nomeado quinto bispo diocesano de Caicó e ordenado em 1996. Em 2005 foi nomeado sexto bispo diocesano de Campina Grande (PB) e em 2011, sexto arcebispo metropolitano de Natal.

Armas de Dom Jaime Vieira da Rocha: de vermelho com uma cruz de prata, envolta numa estola de ouro, as pontas carregadas de duas cruzes potenteias de vermelho e passadas em aspa, e cantonada de quatro vieiras de ouro, e um livro aberto de prata, carregado de um Α e um Ω de negro, brocante sobre a cruz; insígnias de arcebispo metropolitano; divisa: Scio cui credidi.
Armas de Dom Jaime Vieira da Rocha: de vermelho com uma cruz de prata, envolta numa estola de ouro, as pontas carregadas de duas cruzes potenteias de vermelho e passadas em aspa, e cantonada de quatro vieiras de ouro, e um livro aberto de prata, carregado de um Α e um Ω de negro, brocante sobre a cruz; insígnias de arcebispo metropolitano; divisa: Scio cui credidi.

Dom Jaime Vieira traz de vermelho com uma cruz de prata, envolta numa estola de ouro, as pontas carregadas de duas cruzes potenteias de vermelho e passadas em aspa, e cantonada de quatro vieiras de ouro, e um livro aberto de prata, carregado de um Α e um Ω de negro, brocante sobre a cruz; insígnias de arcebispo metropolitano; divisa: Scio cui credidi.

Como se o recurso à hibridação de armas gentilícias diferençadas com armas de devoção fosse já tradição consolidada, o brasão de Dom Jaime deixa ver uma série de operações engenhosas. Ora, os Vieiras trazem de vermelho com seis vieiras de ouro e os Rochas, de prata com uma aspa de vermelho, carregada de cinco vieiras de ouro. É fácil divisar que se tomou o campo de vermelho aos Vieiras, se transformou a aspa dos Rochas em cruz e se acantonaram as vieiras de ambas as linhagens. Mesmo que se possam dar conotações religiosas à cruz e à vieira, até aí poderia servir de brasão a qualquer um de sobrenome Vieira da Rocha.

Com efeito, o caráter clerical é evidenciado pela estola, o mais indispensável dos paramentos litúrgicos, envolta na cruz tal como envolve o corpo do sacerdote, uma disposição incomum na armaria e mesmo um tanto difícil de brasonar, e pelo Verbo Divino na mais eloquente das suas representações heráldicas: o livro aberto com um alfa e um ômega (Apocalipse, 22, 13: "Eu sou o Alfa e o Ômega, o Primeiro e o Último, o Começo e o Fim"). A divisa, tirada da Segunda Carta de São Paulo a Timóteo (1, 12), enquadra-se tão perfeitamente aí que parece traduzir para a linguagem verbal o que o escudo expressa na linguagem heráldica: "Ob quam causam etiam hæc patior, sed non confundor; scio enim, cui credidi, et certus sum quia potens est depositum meum servare in illum diem" ("É por isso que estou suportando também estes sofrimentos, mas não me envergonho. Pois sei em quem acreditei, e estou certo de que ele é poderoso para guardar até aquele dia o bem a mim confiado").

Se me pedissem uma classificação, diria que o brasão de Dom Jaime é o segundo desta coleção em qualidade heráldica.

Dom Frei Manoel Delson Pedreira da Cruz

Nasceu em 1954 em Biritinga (BA). Professou os seus votos e ingressou na Ordem dos Frades Menores Capuchinhos em 1978. Foi ordenado presbítero em 1980. Foi nomeado sexto bispo diocesano de Caicó e ordenado em 2006. Em 2012 foi nomeado sétimo bispo diocesano de Campina Grande e em 2017, sétimo arcebispo metropolitano da Paraíba.

Armas de Dom Frei Manoel Delson Pedreira da Cruz: terciado curvado em mantel, o primeiro de vermelho com uma pomba de prata, nimbada, bicada e membrada de ouro; o segundo de verde com um livro aberto de prata, carregado de um Α e um Ω de negro; o terceiro de azul com uma concha aberta de prata, carregada de uma pérola do mesmo; chefe franciscano; insígnias de arcebispo metropolitano; divisa: Vade ad fratres meos.
Armas de Dom Frei Manoel Delson Pedreira da Cruz: terciado curvado em mantel, o primeiro de vermelho com uma pomba de prata, nimbada, bicada e membrada de ouro; o segundo de verde com um livro aberto de prata, carregado de um Α e um Ω de negro; o terceiro de azul com uma concha aberta de prata, carregada de uma pérola do mesmo; chefe franciscano; insígnias de arcebispo metropolitano; divisa: Vade ad fratres meos.

Dom Manoel Delson traz terciado curvado em mantel, o primeiro de vermelho com uma pomba de prata, nimbada, bicada e membrada de ouro; o segundo de verde com um livro aberto de prata, carregado de um Α e um Ω de negro; o terceiro de azul com uma concha aberta de prata, carregada de uma pérola do mesmo; chefe franciscano; insígnias de arcebispo metropolitano; divisa: Vade ad fratres meos.

Infelizmente, não seria razoável dizer que Dom Delson tem um bom brasão. Não chega a ser um "insignoide", porque, como se constata, é perfeitamente brasonável, mas contém vários defeitos. Com efeito, estas são as suas segundas armas; as primeiras, usadas durante o seu pastoreio em Caicó e Campina Grande, eram partido, o primeiro de azul com uma vieira de prata, carregada de uma pérola do mesmo; o segundo de verde com um livro aberto de prata, carregado de um Α e um Ω de negro e encimado de uma pomba nimbada de prata, brocante sobre a partição um chefe de vermelho, carregado de dois braços de carnação passados em aspa, o esquerdo vestido do hábito franciscano, ambos com as mãos espalmadas e feridas de vermelho, moventes do bordo da peça, tudo rematado por uma cruz alta de sua cor. Não eram melhores, na verdade.

Primeiras armas de Dom Frei Manoel Delson Pedreira da Cruz: partido, o primeiro de azul com uma vieira de prata, carregada de uma pérola do mesmo; o segundo de verde com um livro aberto de prata, carregado de um Α e um Ω de negro e encimado de uma pomba nimbada de prata; brocante sobre a partição, um chefe de vermelho, carregado de dois braços de carnação passados em aspa, o sinistro vestido do hábito franciscano, ambos com as mãos espalmadas e feridas de vermelho, moventes do bordo da peça, tudo rematado por uma cruz alta de sua cor (imagem disponível na Wikimedia Commons).
Primeiras armas de Dom Frei Manoel Delson Pedreira da Cruz: partido, o primeiro de azul com uma vieira de prata, carregada de uma pérola do mesmo; o segundo de verde com um livro aberto de prata, carregado de um Α e um Ω de negro e encimado de uma pomba nimbada de prata; brocante sobre a partição, um chefe de vermelho, carregado de dois braços de carnação passados em aspa, o esquerdo vestido do hábito franciscano, ambos com as mãos espalmadas e feridas de vermelho, moventes do bordo da peça, tudo rematado por uma cruz alta de sua cor (imagem disponível na Wikimedia Commons).

Para começar, ao optar por uma partição, o autor das primeiras armas criou um problema difícil de resolver: se o primeiro partido era iluminado de cor (azul), o segundo deveria tê-lo sido de metal (ouro ou prata). Na sequência da regra, o livro e a pomba deveriam ter sido iluminados de cor, mas diferentemente do que acontece noutras subáreas da heráldica, na eclesiástica há certas figuras que ficam estranhas se iluminadas de esmalte distinto do costumeiro, como não iluminar de prata a pomba que simboliza o Espírito Santo ou o livro que simboliza o Verbo Divino ou a concha com a pérola que simboliza Sant'Ana.

Na confecção das segundas armas, em vez de se tentar resolver o problema, complicou-se mais ainda, pois agora não se têm duas partições, mas três. Na verdade, suspeito fortemente de que a intenção do autor fosse ordenar um chapado curvado, seguindo uma moda na heráldica eclesiástica à qual o brasão do papa Bento XVI deu início. Chapado vem do francês chapé, o qual deriva, à sua vez, de chape 'capa'. Frequentemente, é confundido com o mantelado, mas este, ao contrário daquele, não toca o bordo superior do escudo. Ordinariamente, as suas linhas são retas, mas podem ter outra forma, o que é preciso indicar. Normalmente, ambos se brasonam assim: de E(smalte) com F(igura) de E, chapado/mantelado de E com F de E, ou seja, ambos os traçados partem o campo em dois.

No entanto, três esmaltes fazem um terciado. Neste caso, para preencher cada partição de um esmalte, é necessário que ao menos um traço toque o meio do bordo superior. A rigor, conviria repetir a distinção: se os traços são dois que se encontram nesse ponto, terciado em capa; se três que se encontram abaixo daí, terciado em mantel. Mas na prática somente a segunda expressão é usual e fica-se dependendo de algum desenho para se obter um conhecimento certo do traçado. Seja como for, um terciado costuma alternar um metal e duas cores ou uma cor e dois metais, em ordem variável. Além disso, nem toda figura assenta bem no terciado em mantel, o que é patente no brasão de Dom Delson: nenhuma das três figuras tem contornos que se avenham com os dois traços curvos.

Um aspecto positivo dessas segundas armas é a correção do chefe. Enquanto frade capuchinho, Dom Delson faz jus ao chamado chefe de religião: consiste num chefe que um professo acrescenta às suas armas e que carrega o emblema da sua ordem. Antigamente, a palavra religião também designava uma ordem religiosa, daí que esse chefe, que indica a profissão do armígero em certa ordem, se denomine de religião. O chefe franciscano traz o principal emblema dessa família de ordens: de azulcarregado de dois braços de carnação passados em aspa, o esquerdo vestido do hábito franciscano, ambos com as mãos espalmadas e feridas de vermelho, moventes de nuvens de prata, tudo rematado por uma cruz alta de ouro. Cada um dos elementos desse emblema pode apresentar variantes, mas essa versão é quase a padrão, de modo que é dispensável brasoná-la, bastando expressar: chefe franciscano.

Quanto à divisa, está, na verdade, em português: Ide aos meus irmãos. Mas, sendo filólogo, não resisti a tomar a licença poética de dá-la em latim. É inspirada no Evangelho segundo São João (20, 17): "Dicit ei Jesus: 'Jam noli me tenere, nondum enim ascendi ad Patrem; vade autem ad fratres meos et dic eis: Ascendo ad Patrem meum et Patrem vestrum, et Deum meum et Deum vestrum'" ("Jesus disse: 'Não me segures, pois ainda não subi para junto do Pai. Mas vai dizer aos meus irmãos: subo para junto do meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus'").

Pessoalmente, no ordenamento das segundas armas de Dom Delson eu teria apenas trocado o esmalte do primeiro partido de azul por veirado de vermelho e prata, corrigido a disposição da concha com a pérola e também o chefe franciscano. Esse veirado está presente no brasão da diocese de Caicó e nele evita precisamente eventual infração da regra de iluminura.

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