25/06/22

AS QUINTILHAS HERÁLDICAS DE SÁ DE MENESES (V)

Armas dos Freires de Andrade, Almeidas, Henriques, Soares de Albergaria e Azevedos.

De João Rodríguez de Sá, decrarando alguns escudos d'armas dalgũas linhagens de Portugal que sabia donde vinham.

Armas dos Freires de Andrade: De verde com uma banda de vermelho, perfilada de ouro e engolida por duas cabeças de serpe do mesmo.
Armas dos Freires de Andrade: De verde com uma banda de vermelho, perfilada de ouro e engolida por duas cabeças de serpe do mesmo.

Freires

A banda que através fende
sobre esmeralda luzente
com cabeças de serpente
Freire d'Andrade comprende,
de Galiza descendente.
E que lá tenha lugar
pera se mais nomear
e nos reinos de Castela
os que cá tem Bovadela
nom serão pera calar.

Essa casa descende de Bermudo Fortúnez, senhor de Andrade, na Galiza, coetâneo de Afonso VII de Leão. A sua linhagem perde-se na documentação após a quinta geração, mas é possível que um neto seu, João, tenha gerado o ramo que se apelidou Freire de Andrade. Este teve Rui Freire de Andrade, cujo primogênito, Fernão, foi o primeiro senhor de Pontedeume e do Ferrol por mercê de Henrique II de Castela em 1371 e de Vilalba em 1373. Na quinta geração, em 1486, esse senhorio foi elevado a condado de Vilalba pelos Reis Católicos a favor de Diogo de Andrade. Nuno, outro filho desse Rui, passou a Portugal, onde foi eleito mestre da Ordem de Cristo em 1357. A seu secundogênito, Gomes, Dom João I doou o senhorio de Bobadela em 1386.

Andrade deve ser um topônimo de origem pré-romana, mas Freire vem do provençal fraire, vocábulo que, como frade, vem, à sua vez, do latim frater,fratris 'irmão'. Indica, presumivelmente, o estado religioso daquele que primeiro trouxe tal alcunha.

Armas dos Almeidas: De vermelho com uma dobre-cruz cantonada de seis besantes e uma bordadura, tudo de ouro.
Armas dos Almeidas: De vermelho com uma dobre-cruz cantonada de seis besantes e uma bordadura, tudo de ouro.

Almeidas

Nas d'ouro seis arruelas,
em seus escudos pintados
do sangue, honrados perlados
sempre vimos dentro nelas
e outros leigos d'estados.
D'Almeida, que já fez cumes,
deu e ainda dá lumes
d'estado e de senhorio
Abrantes, Crato e quem Diu
viu desbaratar os rumes.

Esta casa descende de João Fernandes, que no segundo quartel do século XIII fundou uma aldeia chamada Almeida, hoje Almeidinha, na Beira Alta, de onde tomou o nome. No século XV, sobressaíram algumas personagens desse sobrenome das quais não se conhece uma ascendência que entronque na linhagem desse João Fernandes. Ou esta se espalhou cedo para fora das terras ancestrais ou, não sendo Almeida um topônimo infrequente em Portugal (vem do árabe al-māʾida 'a mesa', relativamente a um planalto), podem ser linhagens sem parentesco. A homofonia do sobrenome teria, então, levado a literatura genealógica a uni-las sob as mesmas armas.

Uma dessas personagens foi Fernão Álvares de Almeida, vedor da Fazenda e aio dos infantes Dom Duarte e Dom Pedro, filhos de Dom João I. Foi avô de Lopo de Almeida, que recebeu de Dom Afonso V o condado de Abrantes em 1476. O secundogênito deste, Diogo de Almeida, foi o prior da Ordem Hospitalária de 1487 a 1505. O sexto filho, Francisco de Almeida, foi o primeiro vice-rei da Índia e o comandante da frota que venceu a Batalha de Diu contra uma aliança de vários estados muçulmanos, dentre eles o otomano, em 1509.

Armas dos Henriques: De vermelho com um castelo de ouro, lavrado de negro e aberto e iluminado de azul; mantelado de prata com dois leões batalhantes de púrpura, armados e lampassados de vermelho.
Armas dos Henriques: De vermelho com um castelo de ouro, lavrado de negro e aberto e iluminado de azul; mantelado de prata com dois leões batalhantes de púrpura, armados e lampassados de vermelho.

Hanríquez

Está, mas nom posto em alto,
d'ouro um castelo real
em vermelho, a par do qual
fazem dous liões um salto
sobre o segundo metal.
Vinda do conde gijão,
Hanríquez é geração
que, com tais armas que tem,
dos reis de Castela vem,
mas nom já per socessão.

Dos filhos ilegítimos de Henrique II de Castela, Afonso Henriques herdou os condados de Noreña e Gijón e gerou a linhagem dos Noronhas, cujas armas trazem a mesma quebra das armas reais castelhanas por um mantelado, como expus na postagem de 19/06. Outro, Fernando, também passou a Portugal, mas preservou o patronímico Henriques. A seu favor, Dom João I criou o senhorio das Alcáçovas em 1429, que permaneceu na sua geração até o fim do Antigo Regime.

Armas dos Soares de Albergaria: De prata com uma cruz florenciada de vermelho, vazia do campo, e uma bordadura cosida de prata, carregada de doze escudetes de azul, sobrecarregados de cinco besantes de prata.
Armas dos Soares de Albergaria: De prata com uma cruz florenciada de vermelho, vazia do campo, e uma bordadura cosida de prata, carregada de doze escudetes de azul, sobrecarregados de cinco besantes de prata.

Soares

A mor joia das devinas
em campo d'argentaria
traz a nobre fidalguia
com orla das reais quinas
Soárez d'Albergaria.
E um destes a ganhou
e por grão preço alcançou,
que em ũa peleja brava
um mestre de Calatrava
prendeu e desbaratou.

Essa casa descende de Pedro Pais, cujo pai, Paio Delgado, fundou uma albergaria em Lisboa no tempo de Dom Afonso Henriques. Essa albergaria ficou na posse da linhagem até 1397, quando já trazia o patronímico Soares com o antigo sobrenome. Diz-se, ainda, que esse Pedro Pais esteve na Batalha de Las Navas de Tolosa, donde a cruz vermelha florenciada, que é da Ordem de Calatrava, cujos cavaleiros lutaram aí. Se isso não for lenda, parece muito uma.

Armas dos Azevedos: De ouro com uma águia de negro.
Armas dos Azevedos: De ouro com uma águia de negro.

Azevedo

Águia celestrial,
ave que mais alto voa,
sobre eicelente metal
da coroa imperial
tirada, sem a coroa.
Trouxeram d'Alta Alemanha
os d'Azevedo a Espanha
por testemunha e certeza
de sua grande nobreza
e rezão per que se ganha.

Essa casa descende de Pedro Mendes, senhor de Azevedo, na Beira Litoral, que serviu a Fernando III na conquista de Sevilha. Há, porém, outra linhagem, a de Lopo Dias, quem viveu na segunda metade do século XIV e tomou o nome de Azevedo, no Minho. Esses Azevedos, que possuíram o senhorio de São João de Rei até o fim do Antigo Regime, esquartelaram a águia de negro em campo de ouro com cinco estrelas de seis raios de prata em campo de azul e uma bordadura cosida de vermelho.

De fato, Azevedo é um topônimo frequente. Significa 'mata de azevinhos', de uma forma antiga *azevo mais o sufixo -edo. Portanto, remontar a sua origem à Alemanha por causa da semelhança das suas armas com as imperiais é mera fantasia genealógica.

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