14/02/24

DUAS MOSTRAS DE ARMARIA ECLESIÁSTICA: D. ALCIVAN DE ARAÚJO

As eleições episcopais causam tanto entusiasmo como apreensão na comunidade heráldica.

Em 8 de novembro de 2023, a Santa Sé publicou cinco nomeações episcopais para a igreja do Brasil. Em duas delas, o papa Francisco elegeu dois presbíteros potiguares: Monsenhor Vanthuy Neto, natural de Pau dos Ferros, então reitor do Santuário de Nossa Senhora Aparecida e do Seminário Propedêutico, na diocese de Roraima, foi nomeado bispo de São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas, e Monsenhor Alcivan de Araújo, natural de Cerro Corá, então pároco de Nossa Senhora da Conceição em Jardim do Seridó, diocese de Caicó, foi nomeado bispo titular de Fata e auxiliar da Paraíba.

Armas de Dom Alcivan Tadeus Gomes de Araújo, bispo titular de Fata e auxiliar da Paraíba: esquartelado: o primeiro de prata com uma aspa de azul, carregada de cinco besantes de ouro (Araújo); o segundo de azul com um pelicano em sua piedade de ouro, ferido de vermelho no peito (Gomes); o terceiro de azul com uma concha aberta de prata, carregada de uma pérola do mesmo; o quarto de prata com uma estrela de azul de seis raios; divisa: Pasce oves meas; insígnias de bispo diocesano.
Armas de Dom Alcivan Tadeus Gomes de Araújo, bispo titular de Fata e auxiliar da Paraíba: esquartelado: o primeiro de prata com uma aspa de azul, carregada de cinco besantes de ouro (Araújo); o segundo de azul com um pelicano em sua piedade de ouro, ferido de vermelho no peito (Gomes); o terceiro de azul com uma concha aberta de prata, carregada de uma pérola do mesmo; o quarto de prata com uma estrela de azul de seis raios; divisa: Pasce oves meas; insígnias de bispo diocesano.

A eleição de novos bispos sempre chama a atenção da comunidade heráldica, porque, lembrando a instrução Ut sive sollicite (Acta Apostolicæ Sedis, 1969, p. 334), "sive Patribus Cardinalibus, sive Episcopis conceditur, ut generis insigne adhibere possint" ("defere-se tanto aos padres cardeais como aos bispos que possam empregar brasão de armas", tradução minha). Causa também apreensão, porque na armaria eclesiástica hodierna há de tudo: do excelente ao inaceitável. Os emblemas assumidos por Dom Vanthuy Neto e por Dom Alcivan de Araújo demonstram essa amplitude. Comecemos pelo brasão excelente.

Dom Alcivan de Araújo (imagem disponível no perfil da Diocese de Caicó no Instagram).
Dom Alcivan de Araújo (imagem disponível no perfil da Diocese de Caicó no Instagram).

Alcivan Tadeus Gomes de Araújo nasceu em 1972 em Cerro Corá, Rio Grande do Norte. Formou-se no Seminário Diocesano Santo Cura d'Ars (Caicó, 1990), no Seminário Arquidiocesano São José (Rio de Janeiro, 1991-96) e na Pontifícia Universidade Gregoriana (Roma, 2012), onde obteve o mestrado em Direito Canônico. Foi ordenado presbítero em 1997 e incardinado na diocese de Caicó. Administrou as paróquias de Sant'Ana e da Imaculada Conceição em Currais Novos (1997), a então Área Pastoral Autônoma de Nossa Senhora do Patrocínio em São Fernando (1998), as paróquias de São Francisco em Lagoa Nova (1999-2002), de São Sebastião em Parelhas (2003-09), de Nossa Senhora dos Remédios em Cruzeta (2012), de Sant'Ana em Caicó (2015-22) e de Nossa Senhora da Conceição em Jardim do Seridó (2023). Foi reitor do Seminário Santo Cura d'Ars (1998) e desempenhou diversas funções na cúria diocesana e a vice-presidência do Tribunal Eclesiástico Interdiocesano de Natal. Foi ordenado bispo em 2 de fevereiro deste ano, Solenidade da Apresentação do Senhor, na Catedral de Sant'Ana, Caicó.

Desenho das armas de Dom Alcivan de Araújo feito pela Officina Insignium (imagem disponível no perfil do armígero no Instagram).
Desenho das armas de Dom Alcivan de Araújo feito pela Officina Insignium (imagem disponível no perfil do armígero no Instagram).

Dom Alcivan apresentou o seu brasão de armas em 19 de dezembro de 2023 pelos seus perfis nas redes sociais. Traz esquartelado: no primeiro as armas dos Araújos, que são em campo de prata uma aspa de azul, carregada de cinco besantes de ouro; no segundo, as armas dos Gomes, que são em campo de azul um pelicano em sua piedade de ouro, ferido de vermelho no peito; o terceiro de azul com uma concha aberta de prata, carregada de uma pérola do mesmo; o quarto de prata com uma estrela de azul de seis raios; divisa: Pasce oves meas; insígnias de bispo diocesano.

Ao fim da ordenação, no discurso aos presentes e espectadores, o novo bispo revelou a história desse brasão. Aconteceu no dia em que o núncio apostólico lhe comunicou a eleição ao episcopado: 23 de outubro de 2023. Estava no Santuário de Nossa Senhora do Rosário (Caicó), onde pregara durante a quarta noite da novena. O P.e Gleiber Dantas, tendo percebido certos sinais na homilia, o interpelou: "Você foi nomeado bispo. Deixe que o brasão eu preparo". E assim o fez, mas não sozinho: foi engenhado, ordenado e desenhado a várias mãos, pois também se envolveram o Irmão Martinho, oblato do Mosteiro de São Bento de Olinda, e Jalison Vítor, da Officina Insignium. Ainda que longo, vale a pena ler o comentário do irmão, que o P.e Gleiber leu em vídeo, publicado no Instagram:

Tomando para si o lema Pasce oves meas ('Apascenta as minhas ovelhas'), o novo bispo reconhece que o Senhor Jesus quis reunir para si um povo que caminha para o Pai nas estradas do mundo rumo ao céu à semelhança de um rebanho conduzido pelos mesmos pastores que foram escolhidos pelo Redentor na sucessão apostólica, conforme lemos no primeiro Prefácio dos Apóstolos. Esse rebanho é a igreja una, santa, católica e apostólica, na qual Deus estabeleceu em primeiro lugar alguns como apóstolos, em segundo como profetas e em terceiro os que ensinam; depois os milagres, os dons de cura, de socorrer, de governar e de falar diversas línguas, como lemos na Primeira Epístola aos Coríntios (12, 28). Com essa imagem do corpo místico de Jesus, dada pelo apóstolo Paulo, a igreja é constituída em sinodalidade, porém para que cada membro desse único e mesmo corpo conheça Jesus e o reconheça como cabeça e princípio, tendo no sucessor de Pedro o fundamento visível da sua unidade, é preciso que o Evangelho seja anunciado a todas as pessoas. No brasão da família Araújo, vê-se a difusão da Boa Nova, tendo o próprio Jesus como o central besante de ouro, a partir do qual se espargem os besantes dos evangelistas Mateus, Marcos, Lucas e João a toda a humanidade. Tendo dito que sejamos misericordiosos como o Pai celeste é misericordioso em Lucas (6, 36), a missão de santificar, ensinar e governar de quem Deus chamou para a sucessão dos apóstolos só é possível ser realizada como tarefa diaconal de quem aprendeu a servir como o Senhor fez no lava-pés, para que fizéssemos como nos mandou, conforme lemos em João (13, 15), a ponto de dar a vida como o pelicano presente no brasão da família Gomes, símbolo eucarístico por excelência. Assim, o pastor às vezes pôr-se-á à frente para indicar a estrada e sustentar a esperança do povo, outras vezes manter-se-á simplesmente no meio de todos com a sua proximidade simples e misericordiosa e em certas circunstâncias deverá caminhar atrás do povo para ajudar aqueles que se atrasaram e, sobretudo, porque o próprio rebanho possui o olfato para encontrar novas estradas, como diz o papa Francisco na Evangelii gaudium (31). Se a pérola e a concha são postas como clara alusão à Virgem Maria e a sua mãe, Santa Ana, padroeira da diocese de Caicó, em cujo seio foram gerados na fé o novo bispo e sua sagrada vocação, este quartel do seu brasão episcopal impõe-lhe a tarefa pastoral de buscar no coração de homens e mulheres, já evangelizados ou não, a pérola preciosa, certo de que pérolas são produzidas somente em conchas que foram feridas, como o bom pastor que veio procurar e salvar o que estava perdido, como lemos em Lucas (19, 10). Não fosse suficiente escutar que lhe basta a graça de Deus, porque é na fraqueza que a força do Evangelho se realiza plenamente, além de confortado para não temer insultos, dificuldades, perseguições e angústias, conforme Paulo escreveu na Segunda Epístola aos Coríntios (12, 9), o novo bispo tem na Virgem Maria uma proteção que o orienta, ou seja, que lhe aponta o oriente espiritual da história: o Cristo nascente, que nos veio visitar, como lemos em Lucas (1, 78). Ela, que os navegantes chamaram de Stella Maris, é a primeira estrela do sertão, a Estrela d'Alva do povo seridoense, cuja têmpera o novo bispo carrega em seu ser de filho e neto de vaqueiros do sertão do Seridó e que ele encontra junto ao povo paraibano, venerada como Nossa Senhora das Neves, a Imaculada Conceição, que marcou os últimos meses de seu paroquiato ao ser chamado pelo papa Francisco para ser bispo.

Tenho mais uma ou duas palavras a acrescentar. Primeiro, de uma perspectiva histórica.

De 11 a 25/04 de 2021, escrevi uma série de apontamentos sobre armaria eclesiástica. Abordei primeiro as armas pessoais, demonstrando que no Brasil passaram por três períodos, conforme a sua natureza: armas gentilícias, armas gentilício-devocionais e armas devocionais. Em resumo, até o Império os clérigos assumiam as armas correspondentes aos seus sobrenomes, depois começaram a adotar figuras sacras, que atualmente predominam. Inclusive, posso agora corroborar isso com o caso dos bispos de Olinda: de todos que governaram a diocese desde 1677, o primeiro que assumiu armas completamente devocionais foi Dom Manuel do Rego Medeiros em 1865. (1)

Portanto, Dom Alcivan voltou ao segundo momento, quando se combinavam armas gentilícias e devocionais. Talvez tenham aberto precedente as armas das ordens religiosas, de que alguns professos fizeram uso, como Dom Frei José Fialho, sexto bispo de Olinda (1725-38) e sétimo arcebispo de Salvador (1738-41): trazia num escudo partido as armas da Abadia de Alcobaça e as dos Fialhos. Depois, houve duas espécies de combinação: uma preserva o ordenamento das armas gentilícias inalterado e a outra cria um ordenamento novo. Exemplo da primeira são as armas de Dom Frei Tomás da Encarnação Costa e Lima, décimo bispo de Olinda (1774-84), que sobre um escudo partido de Lima antigo e Costa pôs um escudete com a Virgem Maria e o Arcanjo Gabriel. Exemplo da segunda são as armas de Dom Hélder Câmara, sexto arcebispo de Olinda e Recife (1964-85), que trazia em campo de vermelho uma torre aberta e coberta de prata, cruzada de ouro, entre dois lobos trepantes do mesmo, portanto as armas dos Câmaras com algumas diferenças. (2)

Dom Alcivan recebendo o báculo dos quatro bispos viventes que se sucederam na sé caicoense: Dom Heitor de Araújo Sales (quarto bispo, arcebispo emérito de Natal), Dom Jaime Vieira da Rocha (quinto bispo, arcebispo emérito de Natal), Dom Frei Manuel Delson Pedreira da Cruz (sexto bispo, arcebispo da Paraíba) e Dom Antônio Carlos Cruz Santos (sétimo bispo); observem-se as ínfulas armoriadas (imagem disponível no perfil da Diocese de Caicó no Instagram).
Dom Alcivan recebendo o báculo dos quatro bispos viventes que se sucederam na sé caicoense: Dom Heitor de Araújo Sales (quarto bispo, arcebispo emérito de Natal), Dom Jaime Vieira da Rocha (quinto bispo, arcebispo emérito de Natal), Dom Frei Manuel Delson Pedreira da Cruz (sexto bispo, arcebispo da Paraíba) e Dom Antônio Carlos Cruz Santos (sétimo bispo); observem-se as ínfulas armoriadas (imagem disponível no perfil da Diocese de Caicó no Instagram).

As armas de Dom Alcivan são, pois, da primeira espécie. Optou-se pela esquarteladura, o que costuma inspirar reserva no armista, por causa da alta frequência dos chamados falsos esquartelados: aqueles ordenados apenas para acomodar várias figuras. Como eu disse na postagem de 21/08/2021, divide-se o campo para compor aí um só brasão mediante a junção de diferentes armas e isso tem poucas exceções: a partição pura, as figuras repetidas e as sobrepostas. O escudo de Dom Alcivan compõe-se de dois quartéis gentilícios e dois devocionais, logo não é um falso esquartelado.

À sua vez, armas gentilícias comportam a preocupação com a justeza genealógica. Nunca é excessivo repisar que não há brasões de famílias, mas sim linhagens armoriadas. Assim, ter certo sobrenome não basta para fazer jus a um brasão; é preciso entroncar-se com a linhagem à qual pertence o brasão. Apesar disso, cabe reconhecer que a armaria portuguesa foi operada com pouco rigor genealógico, especialmente durante os séculos XVIII e XIX e principalmente entre os prelados, que podiam assumir armas sem se sujeitar ao Juízo da Nobreza. Seja como for, a prática pouco rigorosa no passado não justifica que se faça igual no presente.

Isso tampouco atinge o brasão de Dom Alcivan. A linhagem dos Araújos na região do Seridó é bem conhecida: com duas quebras de varonia na terceira e quarta gerações, o bispo titular de Fata descende de Tomás de Araújo Pereira, que saiu do Minho para o Brasil e chegou à ribeira do Acauã na terceira década do século XVIII. Levando em conta que o solar dos Araújos está num lugar desse nome na parte galega do Lima, é improvável que o dito colono não fosse fidalgo dessa linhagem. (3)

Um tanto diferente é o caso dos Gomes. O tronco da geração é o trisavô de Dom Alcivan, José Gomes de Melo, que veio de Picuí, na Paraíba, para Currais Novos por volta de 1860. Mas mesmo que se ascendesse mais, Gomes é um patronímico. Isso quer dizer que há muitas linhagens desse nome sem parentesco, cada uma descendente de um filho de Gome (4). Além disso, não se sabe sequer a qual dessas linhagens pertencem as armas que Antônio de Vilas Boas e Sampaio brasona sem declarar os esmaltes na Nobiliarquia portuguesa (1676) e Frei Manuel de Santo Antônio e Silva registra no Tesouro da nobreza de Portugal (1783), o que não o impediu de as dar a muitos suplicantes desse sobrenome enquanto exerceu a reforma do Cartório da Nobreza (1745-90). (5)

No entanto, uma feliz coincidência supera essa problemática: o pelicano em sua piedade, que os Gomes trazem por armas, é igualmente uma figura sacra. Acreditava-se que essa ave era capaz de ferir o próprio peito para saciar com o seu sangue a fome dos filhotes. Daí a penúltima estrofe do hino eucarístico Adoro te devote, de Santo Tomás de Aquino: "Pie pelicane, Jesu Domine, | me immundum munda tuo sanguine" ("Piedoso pelicano, Senhor Jesus, | limpa a mim, sujo, com o teu sangue").

Passando aos quartéis devocionais, de certo modo também têm natureza heráldica, porque são elementos centrais de outros brasões: a concha com uma pérola está no coração das armas da diocese de Caicó e a estrela, no das armas da arquidiocese da Paraíba, como o leitor pode conferir na postagem de 23/04/21.

Armas da diocese de Caicó: de azul com uma cruz veirada de vermelho e prata, carregada de uma concha aberta deste metal, sobrecarregada de uma pérola do mesmo; timbre: mitra; sob o escudo, uma cruz processional e um báculo passados em aspa.
Armas da diocese de Caicó: de azul com uma cruz veirada de vermelho e prata, carregada de uma concha aberta deste metal, sobrecarregada de uma pérola do mesmo; timbre: mitra; sob o escudo, uma cruz processional e um báculo passados em aspa.

Convém lembrar que, como atributo icônico de Sant'Ana, a concha com uma pérola foi provavelmente inventada pelo Irmão Paulo Lachenmayer, O.S.B., ao criar brasão para a então diocese de Feira de Santana, em 1962: assim como a ostra gera a pérola após ser ferida por um grão de areia, Sant'Ana concebeu e deu à luz sua especiosíssima filha em meio ao sofrimento da infertilidade, segundo o Protoevangelho de Tiago.

Armas da arquidiocese da Paraíba: de azul, semeado de flocos de neve de prata, com uma cruz chã do mesmo, carregada de uma estrela de seis raios do campo; timbre: mitra; sob o escudo, uma cruz arquiepiscopal e um báculo passados em aspa.
Armas da arquidiocese da Paraíba: de azul, semeado de flocos de neve de prata, com uma cruz chã do mesmo, carregada de uma estrela de seis raios do campo; timbre: mitra; sob o escudo, uma cruz arquiepiscopal e um báculo passados em aspa.

Quanto à estrela, é um símbolo mariano antiquíssimo: aparece acima da cabeça da Virgem com o Menino numa pintura que remonta ao século III, conservada nas Catacumbas de Priscila, em Roma. Sobre a sua cabeça e/ou o ombro direito, tornou-se convencional na iconografia bizantina. Além disso, entre as invocações da ladainha lauretana conta-se "Stella matutina", ou seja, "Estrela da manhã", a que reflete a luz do sol e, por isso, é o corpo celeste mais brilhante ao amanhecer e ao entardecer, tal como Maria Santíssima excele a todas as criaturas em virtude da encarnação do Verbo, que é a verdadeira luz (João, 1, 9). Também por nos servir de guia (João, 14, 6), como celebrado no primeiro verso e título do hino Ave, Maris Stella ('Ave, Estrela do Mar'), do século IX, e confirmado pela exortação apostólica Evangelii nuntiandi (1975), de São Paulo VI, e pela Evangelii gaudium (2013), do papa Francisco: a "Estrela da (Nova) Evangelização".

Dom Alcivan as saudações da delegação da paróquia de São Francisco, em João Pessoa, após a sua ordenação episcopal; observe-se a reprodução do seu brasão no backdrop (imagem disponível no perfil da paróquia no Instagram).
Dom Alcivan recebendo as saudações da delegação da paróquia de São Francisco, em João Pessoa, após a sua ordenação episcopal; observe-se a reprodução do seu brasão no backdrop (imagem disponível no perfil da paróquia no Instagram).

Até aqui, todo o razoado conclui que o brasão de Dom Alcivan é tecnicamente impecável, mas a heráldica também é uma arte visual. Depois de pintadas, espera-se que boas armas mostrem qualidades estéticas. Nas do bispo auxiliar da Paraíba, o olhar crítico facilmente as acha: não se podiam mudar os esmaltes dos quartéis gentilícios, mas sim aqueles dos devocionais. Acertadamente, puseram-se as armas dos Araújos no primeiro e as dos Gomes no segundo e inverteram-se os esmaltes dos contrários: o terceiro campo de azul com uma figura de prata e o quarto de prata com uma figura de azul. Abstraindo-se as gotas de sangue do pelicano, toda a iluminura do escudo reduz-se aos dois metais e à cor azul. Como reza a máxima, em heráldica menos é mais.

Para acabar, se a eleição de novos bispos inquieta a comunidade heráldica, as escolhas felizes deixam a esperança de infundirem no clero maior curiosidade sobre o código heráldico: o que é, como funciona. A semiótica constitui, afinal, uma parte importante da religião.

Notas:
(1) Dom Manuel do Rego Medeiros trazia em campo de azul uma cruz recruzetada de pé ancorado, acompanhada de quatro estrelas acantonadas e de uma cruz de Jerusalém em ponta, tudo de prata.
(2) As armas dos Câmaras são de negro com uma torre de prata entre dois lobos trepantes de ouro, tudo assente sobre um monte de verde, firmado em ponta.
(3) Na verdade, Dom Alcivan descende por linha direita masculina de Cipriano Lopes Galvão, outro dos primeiros colonizadores do Seridó, mas seu avô preferiu o sobrenome Araújo.
(4) Gome é um antropônimo de origem germânica cujo uso rareou até desaparecer.
(5) Formalmente, o suplicante recebia mercê do monarca por intermédio do rei de armas Portugal, mas na prática Frei Manuel fazia tudo, como também os escrivães que lhe sucederam.

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