Armas dos reis dos Romanos, da França, de Castela, da Inglaterra, de Portugal, de Aragão, da Hungria, de Navarra, da Escócia, da Polônia, da Boêmia e do Congo.
Antônio Godinho enxuga o longuíssimo capítulo do Livro do Armeiro-Mor dedicado às armas dos príncipes cristãos e mouros a uma dúzia, o que, de resto, reflete bastante fielmente o mapa político da Europa na segunda e terceira décadas do século XVI. Com efeito, dos reinos soberanos omitiu apenas os brasões dos escandinavos.
Do Livro da nobreza e perfeição das armas (séc. XVI):
Fólio 6r: Rei de Romãos; Rei de França; Rei de Castela; Rei de Ingraterra. |
Rei dos Romanos: De ouro com uma águia de negro, bicada e membrada de vermelho. Timbre: A águia.
Rei da França: De azul com três flores de lis de ouro. Timbre: Uma das flores de lis.
Rei de Castela: Esquartelado, o primeiro e quarto de vermelho com um castelo de ouro; o segundo e terceiro de prata com um leão de púrpura, armado e lampassado de vermelho, coroado de ouro. Timbre: O castelo.
Rei da Inglaterra: De vermelho com três leopardos de ouro, alinhados em pala. Timbre: Um dos leopardos.
Fólio 6v: Rei de Portugal; Rei de Aragão; Rei de Hungria; Rei de Navarra. |
Rei de Portugal: De prata com cinco escudetes de azul postos em cruz, carregados de cinco besantes do campo, e uma bordadura de vermelho, castelada de ouro. Timbre: Uma serpe nascente de ouro, lampassada de vermelho.
Rei de Aragão: De ouro com quatro palas de vermelho. Timbre: Um morcego nascente de ouro.
Rei de Hungria: Faixado de prata e vermelho de oito peças. Timbre: Um avestruz sainte de prata com uma ferradura de ouro no bico, entre duas plumas de prata.
Rei de Navarra: De vermelho com um brocal de ouro, carregado de uma esmeralda de sua cor. Timbre: Um voo de águia, uma asa de ouro e a outra de vermelho.
Fólio 7r: Rei d'Escórcia; Rei de Pelônia; Rei de Boêmia; Rei de Manicongo. |
Rei da Escócia: De ouro com um leão de vermelho, encerrado numa orleta dupla florenciada do mesmo. Timbre: Um leão de vermelho, coroado de ouro, empunhando uma espada de prata, guarnecida de ouro, sentado num rochedo de ouro.
Rei da Polônia: De vermelho com uma águia de prata. Timbre: A águia, voante.
Rei da Boêmia: De vermelho com um leão de cauda forcada de prata, armado e lampassado de azul. Timbre: Um voo de águia de negro, as asas unidas pelas álulas.
Rei do Congo: De vermelho com cinco braços armados de prata, as mãos de carnação, cada uma empunhando uma espada de prata, guarnecida de ouro; embutido em ponta de prata, carregado de um escudete de azul, sobrecarregado de cinco besantes de prata, entre os pedaços de dois ídolos de pedra de sua cor, quebrados ao meio, a metade superior invertida; chefe cosido de azul, carregado de uma cruz florenciada de prata entre quatro vieiras de ouro. Timbre: Os braços armados com as espadas. (1)
Na verdade, manicongo era o título do rei do Congo. João de Barros refere a esse brasão na sua Ásia (1552, década I, livro III, capítulo X): "Eram a este tempo com el-Rei Dom Afonso trinta e sete cristãos somente, e como homem industrioso naquele mister da guerra e mais governado per Deus, mandou aos seus que não bulissem consigo, mas que esperassem a entrada do irmão naquele grande curral, porque ele esperava em a piedade de Deus em que ele cria, que lhe daria vitória de seus imigos, a qual esperança lhe não faleceu, porque vinda a batalha do irmão, que foi a primeira que entrou no curral, da qual choviam frechas, foi cousa milagrosa que com aqueles poucos que acompanhavam el-Rei, chamando todos polo apóstolo Santiago e ele o nome de Jesus por ajuda nunca leixou de o invocar té que esta batalha do irmão lhe virou as costas, a qual foi dar na segunda e uma desbaratou a outra. E por Deus dar inteira vitória a este católico rei, nesta fugida que o irmão levava por um mato, foi cair em um cepo, que estava armado pera alguma fera, onde foi tomado per aqueles que o seguiam e com ele um seu principal capitão. [...] E por memória desta miraculosa vitória, que Nosso Senhor concedeu a este rei Dom Afonso, em o qual os seus imigos viram o sinal da cruz e a cavaleria celeste dos anjos em companhia do apóstolo Santiago, e assi porque em dia da invenção da Cruz seu padre recebeu água de batismo e também mediante este sinal, que lhe el-Rei Dom João mandou (como atrás fica), ele houve grandes vitórias dos povos mundequetes, tomou por armas uma cruz branca de prata florida em campo vermelho e o chefe do escudo azul e em cada canto do chefe duas vieiras d'ouro, por memória do apóstolo Santiago, e o pé de prata, com mais um escudo dos cinco de Portugal, que é azul com cinco visantes de prata em aspa etc." (grifo meu; como se vê, o ordenamento deste relato diverge da reprodução que consta no Livro da nobreza e perfeição das armas).
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