Armas dos Coelhos, Gamas de Vasco da Gama, Valentes, Botos e Câmaras.
De João Rodríguez de Sá, decrarando alguns escudos d'armas dalgũas linhagens de Portugal que sabia donde vinham.
Coelhos
Coelho era originariamente uma alcunha, do substantivo comum coelho. Os Coelhos desta casa descendem do fecundo trovador João Soares, que serviu ao infante Dom Fernando de Serpa e depois a Dom Afonso III. Este lhe doou o senhorio da vila de Souto, no Minho, que ficou na posse da linhagem até a quarta geração, quando Dom Pedro I confiscou os bens de Pero Coelho por causa do seu envolvimento na morte de Dona Inês de Castro. Narra Fernão Lopes no capítulo 31 da sua Crônica de Dom Pedro I que, tendo Pero Coelho sido trazido de Castela para Portugal, o rei mandou matá-lo arrancando-se-lhe o coração do peito.
Dom Vasco da Gama
Vasco da Gama é uma personagem da história mundial, o que dispensa qualquer resenha. No plano heráldico, desconhece-se a carta pela qual Dom Manuel I lhe concedeu o acrescentamento honroso de um escudete de Portugal antigo às armas dos Gamas, mas se presume que foi passada em 1500, quando lhe foram dados o título de dom e o almirantado da Índia.
Armas dos Valentes: De vermelho com um leão de ouro, armado e lampassado de azul, carregado de duas faixas do mesmo, furadas de seis peças. |
Valente
Valente era originariamente uma alcunha, do adjetivo valente. Os Valentes desta casa descendem de Afonso Peres, que viveu no tempo de Dom Dinis. Seu filho, Vicente Afonso, instituiu o morgadio da Póvoa, na Estremadura, em 1336, que ficou na posse da linhagem até a quarta geração. Não obstante, a literatura genealógica remonta a ascendência de Afonso Peres Valente a Gonçalo Oveques, refundador do Mosteiro de Cete, no Douro Litoral, cujo filho, Diogo Gonçalves de Urrô, tombou na Batalha de Ourique.
Oveques é o patronímico do antropônimo Oveco. Na edição princeps do Cancioneiro geral, está escrito ocquez, mas talvez o editor se tenha equivocado ao ler um nome que se tornara estranho. Preferi escrever Ovéquez, pois fazendo uma sinalefa em sangue Ovéquez, o verso fica regularmente heptassílabo.
Armas dos Botos: Franchado, o primeiro e quarto de ouro com um cabeça de mouro de sua cor, fotada de prata; o segundo e terceiro de vermelho com uma torre de prata, aberta e iluminada de negro. |
Botos
Estas armas foram concedidas por Dom Afonso V a Martim Esteves Boto em 1462,
por os muitos serviços e muito de prezar que el-Rei Dom João, meu avoo, que Deus haja, dele recebeu em a tomada da nossa cidade de Cepta e em outras cousas, e assi a el-Rei e meu senhor e padre, cuja alma Deus tẽe, em a ida e cerco de Tânger, onde por serviço de Deus e por conservaçom de seu bõo nome e fama sosteve atá o derradeiro recolhimento todo o temor e trabalhos que se no dito cerco seguiram, como por muitos outros que nós dele recebidos teemos em paz e em guerra per sua pessoa e com armas, cavalos e homens, com grande despesa sua, principalmente na filhada da nossa vila d'Alcácer, em África, onde per nós foi feito cavaleiro. (carta de brasão citada por Anselmo Braamcamp Freire na Armaria portuguesa, 1908)
Esse Martim Esteves foi a Ceuta com seu pai, Estêvão Anes Boto, para quem se criou a lenda de que durante o assalto da cidade subiu numa torre, cortou as cabeças de dois mouros que a defendiam e as mostrou aos seus companheiros, perguntando-lhes onde as botava, daí a alcunha de Boto. É lenda, pois a atestação do sobrenome é mais antiga que o episódio histórico.
Armas dos Câmaras: De negro com uma torre de prata entre dois lobos trepantes de ouro, tudo assente sobre um monte de verde, firmado em ponta. |
Câmara
Estas armas foram concedidas em 1460 por Dom Afonso V a João Gonçalves Zarco, criado do infante Dom Henrique, pelos "muitos leaes serviços que [...] há feitos em tempos dos reis, nosso avoo e padre, progenitores nossos, que Deus haja, assi em a dita cidade de Cepta como em Tânger, onde se ele houve mui grandemente em os feitos de armas contra os infiees" (carta de brasão citada por Anselmo Braamcamp Freire na Armaria portuguesa, 1908).
No entanto, a carta de brasão omite um grande feito seu: a exploração e o povoamento do arquipélago da Madeira, o que lhe valeu a capitania do Funchal desde 1450. Com efeito, foi numa baía da ilha maior que descobriu uma gruta habitada por muitos lobos-marinhos, daí que o lugar tenha ficado conhecido como Câmara de Lobos, hoje uma cidade. O sobrenome, cuja concessão régia a carta de brasão também documenta, foi, pois, tomado desse topônimo e depois abreviado para da Câmara pelos descendentes. Estes mantiveram a capitania até a sétima geração.
Curiosamente, Sá de Meneses brasona o campo da "cor dum pumar", o que sugere o verde que se vê à folha 41r do Livro da nobreza e perfeição das armas, em contraposição à própria carta de brasão de 1460, que diz "ũu escudo preto e ao pee ũa montanha verde, sobre a qual está fundada e edificada ũa torre de prata antre dous lobos d'ouro".
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