Séries de postagens

02/06/24

TESOURO DE NOBREZA (XVII)

Armas das famílias (I).

Do Tesouro de nobreza (1675):

Confira-se a postagem introdutória no que diz respeito às descrições e aos critérios de edição.

Fólio 27 – Armas das Famílias. 1. Armas antigas da Casa de Bragança; 2. Armas da Casa de Vila Real; 3. Ataídes, Condes da Castanheira; 4. Portugal, Condes do Vimioso; 5. Faros, Condes de Faro; 6. Vasconcelos dos Condes de Penela; 7. Meneses dos Condes da Tarouca; 8. Noronhas, Condes de Linhares; 9. Eças (descendem do Infante Dom João, filho d’el-Rei Dom Pedro e Dona Inês de Castro); 10. Pereiras, Condes da Feira; 11. Castros antigos, de treze arruelas; 12. Coutinhos, Condes de Marialva e do Redondo.
Fólio 27 – Armas das Famílias. 1. Armas antigas da Casa de Bragança; 2. Armas da Casa de Vila Real; 3. Ataídes, Condes da Castanheira; 4. Portugal, Condes do Vimioso; 5. Faros, Condes de Faro; 6. Vasconcelos dos Condes de Penela; 7. Meneses dos Condes da Tarouca; 8. Noronhas, Condes de Linhares; 9. Eças (descendem do Infante Dom João, filho d'el-Rei Dom Pedro e Dona Inês de Castro); 10. Pereiras, Condes da Feira; 11. Castros antigos, de treze arruelas; 12. Coutinhos, Condes de Marialva e do Redondo.

1. Nem Albergaria nem Coelho brasonam as armas antigas da Casa de Bragança (1442), mas as descrevem ao longo do relato da sua origem: "As primeiras armas que teve esta casa foram ganhadas pelo dito Dom Afonso na Tomada de Ceita, donde seu pai o armou cavaleiro. E a ocasião foi que, indo em um cavalo branco, se encontrou com um valente mouro, a quem seguiu até cair no fosso da fortaleza e, caindo em cima dele, donde o matou com grande risco de sua vida. E porque o cavalo, como leal, o tirou fora, ao Infante Dom Afonso, sem lesão algũa, estando com três feridas nos peitos, de que morreu logo, tomou por timbre de suas armas um cavalo bridado de ouro com cabeçadas e correias vermelhas, que são as mesmas cores de que ia adornado. E ainda que o cavalo demonstra guerra, também nota paz. As armas lhe deu el-Rei, seu pai, derivadas das reais, porém com diferença, quem soube brasonar Arrieta, seu rei d'armas, segundo certos cadernos que vi seus de algũas famílias. Puseram-se estas armas em santor, que é em aspa, que significa conflito de batalha, pelo perigo que corria sua vida. E demais de ser de a cor vermelha das armas reais, se lhe deu pelo sangue que derramou contra infiéis e o cavalo do timbre, pela razão dita. Destas armas usaram os senhores desta casa até o Duque Dom Jaime, que usou de outras, e por isso se chamam armas antigas da Casa de Bragança. Delas usa o marquês de Ferreira, condes do Vimioso e de Odemira, os Faros e Portugais (ainda que com algũa diferença), por serem ramos deste tronco". Aqui os escudetes carregam as armas de Portugal antigo, tal como nos Troféus lusitanos (1632) (cf. a postagem de 23/05).

2. À Casa de Vila Real (1424) Albergaria dá apenas as armas dos Noronhas, sem completar o brasonamento das armas reais: "Un escudo acuartelado: en el primero cuartel las armas de Portugal con siete castillos de oro por orla en campo bermejo … y en el segundo dos leones batallantes de púrpura en campo de plata y un mantel de bermejo, que los divide, y en medio dél un castillo de oro y por orla unos veros de oro y azul. Por timbre, un medio león". Coelho tradu-lo suprindo a falha: "Escudo esquartelado: ao primeiro, as armas reais de Portugal; no segundo, dois leões batalhantes de púrpura em campo de prata e um mantel vermelho, que os divide, e no meio um castelo de ouro e por orla uns veiros de azul e ouro. Timbre: meio leão de púrpura com o estoque empunhado". Como se percebe, Coelho acrescentou o estoque ao timbre, mas não o reproduziu aqui, onde se veem as armas completas: sobre as dos Noronhas, as de Dom Pedro de Meneses, primeiro conde de Vila Real, as quais também trazem os condes de Tarouca, descendentes de Dom João de Meneses, filho de Dom Duarte de Meneses, filho natural do dito Pedro de Meneses, exceto pelo primeiro quartel de azul com o estoque de prata, alusivo à capitania de Ceuta. A Casa de Vila Real extinguiu-se em 1641, quando Dom Luís de Noronha e Meneses, sétimo marquês de Vila Real, e Dom Miguel Luís de Meneses, seu filho e segundo duque de Caminha, foram decapitados depois de se envolverem numa conjuração contra Dom João IV por fidelidade a Filipe IV da Espanha (cf. a postagem de 29/05). Observe-se, enfim, que ambos os autores se equivocam ao brasonar o mantelado, tomando-o pelo campo.

3. Os Ataídes, condes de Castanheira (1532), trazem "as mesmas armas que o conde de Atouguia, como ramo daquele tronco, que se vem em seu título" (cf. a postagem antecedente). Em 1678, o titular era Dona Ana de Lima e Ataíde.

4. Os Portugais, condes de Vimioso (1515), trazem por armas "as antigas da Casa de Bragança com o acrescentamento de quatro cruzes dos Pereiras entre os escudos reais em santor", os quais aqui carregam as armas reais, diferençadas por um filete negro em barra. Em 1678, o titular era Dom Miguel de Portugal.

5. As armas dos condes de Faro (1469) eram "as antigas da Casa de Bragança, como descendentes dela". Aqui os escudetes carregam as armas de Portugal antigo, tal como nos Troféus, mas Coelho inova ao fazer o campo franchado de prata e ouro sob a aspa. Em 1678, esse título estava extinto.

6. Albergaria não dá as armas dos condes de Penela (1471) nas suas obras, provavelmente porque esse título estava extinto desde 1543. Coelho dá as armas de Dom João de Vasconcelos e Meneses, segundo conde: esquartelado, no primeiro e quarto as armas do Reino, diferençadas por um filete negro em barra; no segundo, as armas dos Vasconcelos; no terceiro, as armas dos Meneses de Vila Real.

7. Os Meneses dos condes de Tarouca (1499) trazem um "escudo de ouro, partido em três palas, esquartelado e de um a outro entrecambadas as armas de Vila Lobos e Aragão e sobre tudo, no meio, um escudo dos Meneses; timbre: um lobo do escudo com três palas na espádua esquerda". Albergaria é que acrescenta palas ao timbre e, outra vez, toma as armas antigas dos Limas pelas reais de Aragão. Em 1678, a titular era Dona Joana Rosa de Meneses.

8. O escudo das armas dos condes de Linhares (1525) era "o dos Noronhas, de que se faz menção no título do marquês de Vila Real". Em 1678, esse título estava extinto.

9. Os Eças trazem "em campo de prata os cinco escudos de Portugal com nove dinheiros cada um e sobre eles duas cruzes de cordões de púrpura com os nós d'ouro, ũa afirmada e outra em aspa, com orla do mesmo; timbre: ũa águia azul com as asas estendidas, armada de ouro, com cinco besantes no peito".

10. Os Pereiras, condes da Feira (1481), trazem "em campo vermelho ũa cruz de prata, aberta, florida; timbre: a mesma cruz de vermelho, vazia, entre duas asas de ouro". Em 1678, o titular era Dom Fernando Forjaz Pereira Pimentel de Meneses e Silva.

11. "As armas desta casa são as próprias dos Castros antigos, com diferença pelos seis torteaus, que antes tinha seu escudo, são treze nos desta família, em campo de ouro."

12. Os Coutinhos, condes de Marialva (1440) e de Redondo (1500), trazem "em campo d'ouro cinco estrelas vermelhas de cinco pontas cada ũa em aspa; timbre: um leão-pardo de vermelho passante, armado d'ouro, com ũa das estrelas no peito e ũa coroa de flores de hera, como capela". O título de conde de Marialva estava extinto desde 1534; em 1678, o conde de Redondo era Dom Manuel Coutinho.

Fólio 28 – 1. Castros de Monsanto; 2. Almeidas; 3. Soares de Albergaria; 4. Melos; 5. Távoras; 6. Azevedos; 7. Sousas (descendentes de Dom Afonso Dinis, filho bastardo d’el-Rei Dom Afonso III); 8. Henriques; 9. Mendonças; 10. Almadas e Abranches; 11. Castel-Brancos; 12. Albuquerques.
Fólio 28 – 1. Castros de Monsanto; 2. Almeidas; 3. Soares de Albergaria; 4. Melos; 5. Távoras; 6. Azevedos; 7. Sousas (descendentes de Dom Afonso Dinis, filho bastardo d'el-Rei Dom Afonso III); 8. Henriques; 9. Mendonças; 10. Almadas e Abranches; 11. Castel-Brancos; 12. Albuquerques.

1. Os Castros de Monsanto trazem "seis torteaus azuis em campo de prata; timbre: um leão rapante nascente de prata, armado de vermelho azul, com os torteaus na espádua". Anselmo Braamcamp Freire na Armaria portuguesa (1908) prefere esse timbre, por estar apoiado em duas cartas de brasão do século XVI, ainda que nelas o leão esteja inteiro.

2. Os Almeidas trazem "em campo vermelho seis besantes de ouro entre ũa cruz-doble e bordadura do mesmo; timbre: ũa águia vermelha, abesantada d'ouro".

3. Os Soares de Albergaria trazem "em campo de prata ũa cruz vermelha, aberta, florida; orla de prata, cheia de escudinhos das quinas reais; timbre: um drago ou serpe vermelha volante sobre o elmo com a mesma cruz de prata no peito". Albergaria é que acrescenta a cruz ao timbre.

4. Coelho não dá as armas dos Melos na sua tradução, mas Albergaria as brasona, sim, no título do marquês de Ferreira: "En campo bermejo seis besantes de plata, cada tres en pala, gradado de oro. Por timbre, un águila negra, esmaltada con otros seis besantes". Curiosamente, Albergaria brasona as armas dos Almeidas, que se distinguem apenas pelo metal dos besantes, empregando precisamente a locução que Coelho não traduz bem: "una cruz doble".

5. Os Távoras trazem "em campo d'ouro cinco faixas ondadas de azul; timbre: um delfim de prata, escurecido de azul, sobre ũa grinalda de ramos vermelhos, floridos de lírios de ouro".

6. Os Azevedos trazem um "escudo esquartelado: o primeiro e último de ouro com ũa águia negra; e no segundo e terceiro, em campo azul cinco estrelas de prata e ũa orla vermelha com oito aspas d'ouro; timbre: ũa das águias com ũa das estrelas nos peitos".

7. Os Sousas, descendentes de Dom Afonso Dinis, filho bastardo do rei Dom Afonso III, trazem um "escudo esquartelado: ao primeiro e último, as quinas de Portugal com seu filete em contrabanda; e no segundo, ũa caderna de crescentes de prata apontados em campo vermelho; e assi os contrários; timbre: um castelo de ouro, lavrado de negro".

8. Os Henriques trazem um "escudo de prata com dois leões de púrpura rompentes e batalhantes; mantelado de vermelho e sobre o mantel, que divide os leões, um castelo de ouro de três torres; timbre: o mesmo castelo com um leão nascente". Como nas armas dos Noronhas, confundem-se campo e mantelado, trocando-se um pelo outro.

9. Os Mendonças trazem um "escudo franchado de verde e ouro e sobre o verde ũa banda vermelha, perfilada d'ouro, e sobre o ouro um S negro e assi aos contrários; timbre: ũa asa de águia de ouro estendida com o S das armas nela".

10. Os Almadas e Abranches trazem "em campo de ouro ũa banda azul com duas cruzes do primeiro, floridas e vazias, antre duas águias vermelhas estendidas, armadas de negro; timbre: ũa das águias com ũa cruz no peito".  Albergaria é que acrescenta uma cruz ao timbre.

11. Os Castelo-Brancos trazem "em campo azul um leão de ouro rompente, armado de vermelho; timbre: o mesmo leão com ũa letra que diz: Strenuus non indiget armis". Albergaria é que acrescenta a divisa ao timbre, que quer dizer "O esforçado não precisa de armas".

12. Os Albuquerques trazem um "escudo esquartelado: em o primeiro, as do Reino com seu filete em contrabanda; o segundo de vermelho com cinco flores de lis d'ouro em aspa; e assi os contrários; por timbre, um castelo vermelho, guarnecido de ouro, e em a torre do meio ũa flor de lis de ouro".

Fólio 29 – 1. Sousas (descendentes de Dom Martim Afonso Chichorro, filho bastardo d’el-Rei Dom Afonso III); 2. Manuéis e Vilhenas; 3. César; 4. Pimentéis; 5. Coronéis; 6. Correão; 7. Gusmães da Casa de Flores; 8. Beliagos; 9. Correias; 10. Mexias; 11. Fragosos; 12. Delgados.
Fólio 29 – 1. Sousas (descendentes de Dom Martim Afonso Chichorro, filho bastardo d'el-Rei Dom Afonso III); 2. Manuéis e Vilhenas; 3. César; 4. Pimentéis; 5. Coronéis; 6. Correão; 7. Gusmães da Casa de Flores; 8. Beliagos; 9. Correias; 10. Mexias; 11. Fragosos; 12. Delgados.

1. Os Sousas, descendentes de Dom Martim Afonso Chichorro, filho bastardo do rei Dom Afonso III, trazem um "escudo esquartelado: o primeiro, as quinas de Portugal com um filete negro em contrabanda e sem a orla dos castelos; e no segundo, um leão rompente de púrpura em campo de prata; e assi aos contrários; timbre: o mesmo leão com ũa grinalda de prata, florida de verde". Albergaria é que acrescenta uma grinalda ao timbre.

2. Os Manuéis e os Vilhenas trazem um "escudo esquartelado: no primeiro, um leão de púrpura em campo de prata; e no segundo, ũa mão com ũa asa de anjo de ouro, que aperta a espada de prata, em campo vermelho; e assi aos contrários; timbre: um dos leões a mesma asa com a mão e espada". Segundo Braamcamp (ibidem), estas são as armas dos Manuéis de Vilhena de Castela, ao passo que os Manuéis de Portugal trazem os quartéis invertidos e a mão alada com a espada por timbre, como se vê nas armas do conde de Atalaia (cf. a postagem antecedente).

3. Os Césares trazem "seis vieiras de ouro, realçadas de negro, em duas palas em campo vermelho. [...] Acrescentou el-Rei Dom João o III em a parte superior do escudo seis galeotas em duas palas, com remos de ouro, e cada ũa com dois pendões vermelhos na proa, outro na popa; timbre: ũa das galeotas". Estas armas foram concedidas pelo dito rei a Vasco Fernandes César em 1539. Na carta de brasão, descrevem-se assim: "o campo partido em faixa: ao primeiro, ondado de prata e azul com seis fustas de sua cor, com nove remos d'ouro e duas bandeiras de vermelho, de sinaes de mouros, em cada ũa das ditas fustas; e ao segundo, de vermelho com seis vieiras d'ouro em duas palas; elmo de prata aberto, guarnido d'ouro; paquife d'ouro e d'azul e de vermelho; e por timbre ũa das fustas". Portanto, um brasonamento mais preciso.

4. Os Pimentéis trazem um "escudo esquartelado: o primeiro e último, em campo d'ouro três faixas vermelhas; e no segundo e terceiro, em campo verde cinco vieiras de prata; orla de prata, cheia de cruzes páteas vermelhas; timbre: um touro vermelho nascente com os cornos e unhas de prata, com ũa vieira na testa".

5. Os Coronéis trazem "em campo de prata cinco águias vermelhas de ouro em aspa, a do meio coroada; timbre: ũa delas a do meio". Coelho converge.

6. Os Correões trazem "em campo vermelho ũa águia negra estendida, armada de prata, e sobre os peitos um escudo das armas dos Correias; timbre: a mesma águia estendida com ũa correia vermelha no bico".

7. Os Gusmães da Casa de Flores trazem "em campo azul um castelo de ouro, abrasando-se em chamas de fogo, orlado de arminhos; timbre: o castelo". Albergaria, discorrendo sobre as armas dos Flores, diz que "otros que proceden de Rodrigo Flores de Guzmán traen en campo azul un castillo de oro, abrasándose en llamas de fuego, orlado de armiños". Talvez se refira a Ramiro Flórez de Guzmán, que tomou parte da conquista leonesa de Almería (1147), mas estas armas não se acham nas fontes espanholas.

8. Os Beliagos trazem "em campo azul ũa banda de ouro prata antre dois cosseletes de prata e sobre ela três rosas vermelhas e abaixo ondado de águas; timbre: meio baleato de sua cor, de cuja boca sai um ramo de ouro com três rosas vermelhas". Coelho é que diverge.

9. Os Correias trazem "um escudo de ouro, fretado ou tecido de correias vermelhas, repassadas em aspa; timbre: dois braços armados de prata, atados com as mesmas correias vermelhas".

10. Os Mexias trazem "em campo d'ouro três faixas azuis; timbre: meia onça de ouro, faixada de azul".

11. Os Fragosos trazem "em campo azul três sóis de ouro em roquete; timbre: um lobo-cerval nascente de sua cor". Albergaria dá-lhes por timbre "un lobo cruel de su color"; Coelho traduz como citado, mas aqui faz uma cabra-maltesa. O timbre dessa linhagem é, de fato, um lobo.

12. Os Delgados trazem "em campo vermelho um limoeiro verde com limões e raízes de ouro e ao pé um galgo de prata com ũa coleira azul, preso por ũa cadeia de ouro; e por timbre meio galgo de prata com um ramo da mesma árvore em a boca e fruto de ouro".

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