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30/10/23

CRUZES NÓRDICAS: ISLÂNDIA

Em certos casos, uma separação pacífica evitou que se encarasse a semelhança como pretensão.

Não à toa os desenhos das bandeiras norueguesa e islandesa diferem apenas por detalhes nas proporções e têm as mesmas cores, mas inversas, isto é, uma cruz azul com perfil branco em campo vermelho e uma cruz vermelha com perfil branco em campo azul, ambas afastadas para o lado da tralha, como característico das cruzes nórdicas. É que muito antes de os europeus inventarem o conceito de colonização, a Islândia foi povoada por noruegueses.

Bandeira da Islândia.
Bandeira da Islândia.

Assim, por 332 anos os colonos viveram livremente, moderando-se pelo Alþingi, a sua assembleia legislativa e tribunal supremo, até que em 1262 reconheceram Håkon IV da Noruega seu rei. Como domínio ultramarino, os islandeses seguiram o destino desse reino até a Paz de Kiel em 1814: a Dinamarca, então aliada da França, cedeu a Noruega à Suécia, partícipe da coalizão contra aquele império, mas manteve as ilhas Féroe, a Islândia e a Groenlândia.

Para não restar dúvida sobre a legitimidade da cessão, Carlos XIV João da Suécia pressionou Frederico VI da Dinamarca a depor as armas reais norueguesas do seu brasão, o que fez por resolução em 1819. As armas de Schleswig foram, então, movidas para o segundo quartel e a porção do terceiro onde estavam foi partida e cortada: no primeiro, as armas islandesas; no segundo, as feroesas; no terceiro, as groenlandesas. Essas armas islandesas eram de vermelho com um bacalhau seco de prata, coroado de ouro, e estão atestadas desde 1539.

Não obstante, as ideias nacionalistas difundiram-se também na Islândia e devia parecer estranho que o símbolo da nação fosse um peixe seco. Assim, nos anos setenta Sigurður Guðmundsson, curador do Museu de Antiguidades (hoje Þjóðminjasafn), propôs um falcão de prata em campo de azul tanto para o brasão como para a bandeira de armas. Essa proposta tornou-se muito influente. Com efeito, em 1897 Einar Benediktsson, defendendo que ao pavilhão convinha fácil reconhecimento a distância, propôs uma cruz nórdica dessas cores, branca em campo azul (Hvítbláinn), e em 1903 o próprio rei Cristiano IX trocou o bacalhau pelo falcão nas suas armas.

Ao mesmo tempo, o próprio estatuto da ilha evoluiu: em 1874, Cristiano IX outorgou-lhe uma constituição, mas o ministro para a Islândia pertencia ainda ao gabinete dinamarquês em Copenhague. Isso mudou em 1903, quando uma emenda constitucional criou o gabinete islandês, residente em Reykjavík e responsável ao Alþingi, cujo poder legislativo foi restaurado.

Bandeira estatal da Islândia.
Bandeira estatal da Islândia.

A bandeira hodierna foi proposta em 1906 por Matthías Þórðarson, também curador do Museu de Antiguidades, e adotada em 1913 por decreto de Cristiano X, quem a preferiu por julgar que o Hvítbláinn se parecia demais ao pavilhão naval grego. Em dezembro de 1918, quando a Islândia foi elevada a reino em união dinástica com a Dinamarca, içou-se a versão bífida (Tjúgufáni), que passou a servir de bandeira estatal e pavilhão de guerra. Além disso, a própria bandeira foi convertida em brasão, ou seja, de azul com uma cruz alta e firmada de vermelho, perfilada de prata, por decreto real em fevereiro de 1919.

Armas da Islândia (imagem disponível no portal do governo islandês).
Armas da Islândia (imagem disponível no portal do governo islandês).

lei vigente sobre a forma e o uso da bandeira islandesa foi passada em junho de 1944, no mesmo dia em que se dissolveu a união com a Dinamarca e a Islândia se tornou uma república. O falcão de prata em campo de azul foi removido das armas reais dinamarquesas por Frederico IX logo depois de ascender ao trono, em 1948.

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