As bandeiras também lançam moda e exprimem afinidades.
O contraste não é a única força que tem movido a criação de bandeiras; também se pode visar à semelhança, seja para mostrar afinidade seja para reivindicar hegemonia. Em 1660, Carlos X Gustavo da Suécia morreu aos 37 anos, mas deixou a seu filho de quatro um domínio que abrangia o mar Báltico desde Riga até a Escânia, também a Pomerânia Oriental e, além desse mar, até a fronteira com a Noruega, que permanece quase a mesma desde então, também os ducados de Bremen e Verden.
Bandeira da Suécia. |
Assim, três anos depois, por proclamação real (Kunglig Majestäts Plakat), a regência de Carlos XI permitiu que os mercadores suecos usassem da cruz amarela nos seus pavilhões, mas sem pontas ("bruka gult korts uti dem, dock icke med spitser"), já que as três pontas distinguiam o pavilhão de guerra. Este se acha visualmente atestado desde 1626, quando a Suécia ascendia enquanto potência.
Na verdade, a cruz amarela aparece nos pavilhões suecos desde o reinado de Gustavo Vasa (1523-60), mas se podem entender de diferentes modos as descrições remanescentes. Seja como for, sabe-se que até o segundo decênio do século XVII os pavilhões de guerra tinham listras, por vezes ondeadas, sobre as quais havia uma cruz solta, ao menos até 1580. Reinava então João III, que de 1556 a 1563 fora duque da Finlândia e trouxera no quarto quartel das suas armas duas bandeiras bífidas com uma cruz, passadas em aspa sob um elmo. Tendo falecido em novembro de 1592, para as suas honras fúnebres, celebradas em fevereiro de 1594, fabricou-se uma bandeira semelhante: azul com uma cruz amarela e as armas reais sobrepostas, rodeadas pelas armas provinciais.
Não se conhecem com certeza as cores dos pavilhões listrados, com e sem cruz. Do azul não cabe duvidar, pois já representava a dignidade régia, mas essa cor podia combinar-se com o amarelo ou com o branco ou com ambos, dado que tanto o ouro como a prata estão presentes nas armas reais. É que estas têm a particularidade de se comporem de duas outras.
Grandes armas da Suécia (imagem disponível no portal da Casa Real). |
Como em outros países europeus, as armas da casa reinante aquando do surgimento da heráldica acabaram tornando-se as armas do reino, apesar das mudanças dinásticas posteriores. Assim, as armas da Casa de Bjälbo — que eram de azul, semeado de corações de vermelho, com três barras de prata e um leão de ouro (depois coroado do mesmo, armado e lampassado de vermelho), brocante sobre tudo, e estão atestadas desde 1250 — tornaram-se as primeiras armas reais da Suécia. Em 1364, Alberto de Meclemburgo assumiu três coroas de ouro em campo de azul após depor seu tio, Magno IV, quem cunhara essas figuras em moedas. Em 1448, Carlos VIII esquartelou essas armas com as de Bjälbo (sem os corações) e sobrepôs-lhes as da sua própria casa: Bonde. Desde então, ressignificaram-se os quartéis: as três coroas foram entendidas como as armas da Svealand ('Terra dos Suíones'), ao passo que o leão de Bjälbo, como as da Götaland ('Terra dos Getas'), daí que Gustavo I as tenha retomado após a União de Kalmar, fazendo as barras ondadas e pondo sobre a esquarteladura uma cruz de ouro e sobre o todo as armas da sua casa: Vasa.
Portanto, a bandeira da Suécia tem cores heráldicas, mas quando se abandonaram as listras por uma cruz semelhante à do reino que adotara uma bandeira diferente das suas armas na região, isto é, a Dinamarca, criou-se a chamada cruz nórdica. A principal particularidade dessa figura é o afastamento da haste para o lado da tralha, o que revela a sua origem naval, pois se deve ao maior desgaste do batente no mar.
Com efeito, em 1814 a Dinamarca, que se aliara à França, foi compelida a ceder a Noruega à Suécia, que fazia parte da coalizão contra a França. Ainda que os noruegueses tenham resistido, os suecos forçaram-nos a aceitar a união. Para representá-la, Carlos XIV João aprovou no ano seguinte um pavilhão comum de guerra: era igual ao sueco, com o cantão vermelho e nele uma aspa branca, referido como "as cores norueguesas" ("de norska färgerna"). É que durante a união com a Dinamarca se arvorava o pavilhão desse reino.
Não obstante, os noruegueses tornaram-se muito ciosos da sua independência sob a mesma monarquia, o que se refletiu no desejo de possuir uma bandeira própria, daí que em 1821 o parlamento tenha resolvido inserir uma cruz azul dentro da Dannebrog, ou melhor, tenha adotado uma cruz azul com perfil branco em campo vermelho. Contudo, o rei recusou-se a assinar o ato, por entender que a matéria era prerrogativa régia, se bem que resolveu aceitar o seu uso civil.
Pavilhões da Suécia, segundo Flags of maritime nations (1899). |
Como o pavilhão comum de guerra dava a entender que a Noruega se subordinava à Suécia, poucos meses depois de ascender ao trono em 1844, Oscar I acolheu a proposta de um 'Sinal da União' (Unionstecknet): combinava os pavilhões dos dois reinos em sautor, a cruz norueguesa em cima e em baixo e a sueca a um lado e ao outro. Cada reino tinha, então, os seus pavilhões mercante e de guerra, este com três pontas, e nos cantões de todos o Sinal da União, o qual servia de jaque comum e era hasteado pelas representações diplomáticas.
Em 1898, mesmo sem a sanção régia, o parlamento e governo noruegueses retiraram dos pavilhões o Sinal da União, que ganhara o apelido de 'salada de arenque' (sillsalaten). Isso prenunciou o fim da união, a qual a Noruega rompeu unilateralmente em agosto de 1905, ato que a Suécia reconheceu pacificamente em outubro. No mês seguinte, extinguiu-se o Sinal da União.
Bandeira de guerra da Suécia. |
A dissolução da união ensejou a modernização normativa da matéria, o que se fez por lei em 1906. Pela primeira vez transcendeu-se o âmbito naval: reservou-se a bandeira de guerra (örlogsflagga) não só à marinha, mas também ao exército, e redefiniu-se o pavilhão mercante como a bandeira sueca ("Svenska flaggan"). Em linhas gerais, a lei vigente, passada em 1982, repete essas disposições, mas o legislador cuidou de evidenciar o caráter nacional do símbolo mediante a locução "Sveriges flagga" ("bandeira da Suécia"). Se a bandeira pertence ao país, logo todos os seus cidadãos podem hasteá-la, embora a Suécia seja daqueles que têm os peculiares "dias de bandeiras" (flaggdagar).
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