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07/05/22

A POMPA FÚNEBRE DE CARLOS V: AS ARMAS DOS ESTADOS (I)

O cortejo dos gentis-homens levando bandeiras e cavalos armoriados é o cerne de La magnifique et sumptueuse pompe funèbre...

Texto introdutório do cortejo dos gentis-homens (exemplar da BnF).
Texto introdutório do cortejo dos gentis-homens (exemplar da BnF).

Aqui caminhavam, após o grande estandarte das cores, os gentis-homens da Câmara do Rei e os que foram daquela do Imperador, seu pai, juntamente com vários grandes senhores.

A seção da sétima prancha à vigésima é o cerne de La magnifique et sumptueuse pompe funèbre... Ao longo dela estende-se uma legenda latina que em português diz: "Essa foi a suntuosa ordem da pompa fúnebre na ocasião em que o rei da Hespéria cumpriu as honras para com seu pai". Mostra os gentis-homens da Casa levando cavalos e os gentis-homens da Boca levando bandeiras quadradas. Os cavalos vestiam gualdrapas e tinham penachos sobre as suas cabeças, presos com broches em forma de escudo coroado. Tanto esse broches e as gualdrapas como as bandeiras estavam armoriadas com as armas de vários títulos de Carlos V.

Pranchas n.os 7, 8, 9 e 10 de La magnifique et sumptueuse pompe funèbre... (exemplar da BnF).
Pranchas n.os 7, 8, 9 e 10 de La magnifique et sumptueuse pompe funèbre... (exemplar da BnF).

Balizando o início da seção, iam três reis de armas: ao meio um do imperador, à sua direita o de Brabante e à esquerda o de Flandres. Seguiam-nos os gentis-homens.

Géry de Brecht e Don Juan Mansino levavam o cavalo de Flandres e Philippe de Lannoy, a bandeira das armas: de ouro com um leão de negro, armado e lampassado de vermelho. João Sem Medo, duque da Borgonha, recebeu esse condado de Margarida III de Flandres, sua mãe, em 1405.

Christophe de Villey e Don Pedro Reinoso levavam o cavalo de Gueldres e Frédéric Perrenot, senhor de Champagney, a bandeira das armas: de azul com um leão de cauda forcada e coroado de ouro, armado e lampassado de vermelho (aqui de cauda singela e sem coroa). Carlos o Temerário, duque da Borgonha, recebeu esse ducado de Arnoldo de Egmont em 1473, a quem o comprara dois anos antes. Em 1492, as cidades gueldresas aclamaram Carlos de Egmont como duque. Carlos V reconheceu-o em 1536, mas à sua morte, um ano e meio depois, entregou o ducado a Guilherme de Clèves, quem, enfim, o cedeu ao imperador em 1543.

Don Juan Niño de Portugal e o senhor de Charin (1) levavam o cavalo de Brabante e Don García Sarmiento, a bandeira das armas: de negro com um leão de ouro, armado e lampassado de vermelho. Filipe o Bom, duque da Borgonha, recebeu esse ducado de Filipe de Brabante, primo seu, em 1430.

Charles d'Armstorff e Juan Bautista Suárez levavam o cavalo da Borgonha e Héctor Espínola, a bandeira das armas: bandado de ouro e azul com uma bordadura de vermelho. João II, rei da França, doou o ducado da Borgonha a Filipe o Ousado, seu quarto e derradeiro filho, em 1363. É a origem da Casa de Valois-Borgonha.

Don Martín de Goñi e André de Vassenaire levavam o cavalo da Áustria e Don Juan Tavera, a bandeira das armas: de vermelho com uma faixa de prata. Carlos I, rei da Espanha, recebeu o arquiducado de Maximiliano I, seu avô, em 1519 e abdicou dele no infante Fernando, seu irmão, em 1521, guardando por cortesia o título.

Pranchas n.os 11, 12, 13 e 14 de La magnifique et sumptueuse pompe funèbre... (exemplar da BnF).
Pranchas n.os 11, 12, 13 e 14 de La magnifique et sumptueuse pompe funèbre... (exemplar da BnF).

Nesse ponto, interpunham-se mais três reis de armas: outra vez ao meio um do imperador, à sua direita o da Áustria e à esquerda o da Borgonha. Claramente, demarcavam os títulos borguinhões e o austríaco, cujas insígnias iam adiante, e os títulos castelhanos e aragoneses, que vinham atrás.

Continuando, Don Felipe de Silva e Philippe de Chassey levavam o cavalo de Córdova e Lelio Doria, a bandeira das armas: de prata com um leão de púrpura, armado e lampassado de vermelho (aqui de ouro) e coroado de ouro, e uma bordadura de vermelho, carregada de castelos de ouro, abertos e iluminados de azul. Fernando III, rei de Castela, conquistou a cidade de Córdova aos muçulmanos e fundou esse reino em 1236.

Don Carlos de Arellano e Charles van der Noot levavam o cavalo da Sardenha e Don Pedro Manuel, a bandeira das armas: de prata com uma cruz de vermelho, cantonada de quatro cabeças de mouro de negro, torcidas de vermelho. O papa Bonifácio VIII fundou esse reino e deu-o a Jaime o Justo, rei de Aragão, em 1297.

Jean de Mol e Jean de Gilley, senhor de Marmol, levavam o cavalo de Sevilha e o conde Nicolau de Salm, a bandeira das armas: de azul com um rei tendo um cetro e um orbe, sentado num trono, tudo de ouro. Fernando III de Castela conquistou a cidade de Sevilha aos muçulmanos e fundou esse reino em 1248.

Jean de Brancion e Diego de Rojas levavam o cavalo de Maiorca e Don Gonzalo Chacón, a bandeira das armas: de ouro com quatro palas de vermelho e uma cotica de azul, brocante sobre tudo. Jaime o Conquistador, rei de Aragão, conquistou esse reino aos muçulmanos em 1229.

Godefroy de Warembourg e Don Pedro de Velasco levavam o cavalo da Galiza e Don Juan de Ávalos, a bandeira das armas: de azul, semeado de cruzes trilobadas de pé aguçado de ouro, com um cálice coberto do mesmo, brocante. Afonso III, rei das Astúrias, legou esse reino a Ordonho, seu segundo filho, em 910, mas ele mesmo sucedeu a Garcia, rei de Leão e seu irmão mais velho, unindo os dois reinos em 914.

Pranchas n.os 15, 16 e 17 de La magnifique et sumptueuse pompe funèbre... (exemplar da BnF).
Pranchas n.os 15, 16 e 17 de La magnifique et sumptueuse pompe funèbre... (exemplar da BnF).

Don José de Acuña e Philippe de Vignancourt levavam o cavalo de Valência e Don Rodrigo de Moscoso, a bandeira das armas: de azul com uma cidade de prataJaime o Conquistador, rei de Aragão, conquistou esse reino aos muçulmanos em 1239.

Don Francisco Manrique e Charles de Longastre levavam o cavalo de Toledo e Charles de Lannoy, senhor de Mingoval, a bandeira das armas: de azul com uma coroa imperial de ouro. Afonso VI, rei de Castela, conquistou esse reino aos muçulmanos em 1085.

Jérôme de Mol e Gómez Pérez das Mariñas levavam o cavalo de Granada e Don Antonio de Velasco, a bandeira das armas: de prata com uma romã de verde, sustida e folhada do mesmo, aberta de vermelho. Isabel de Castela e Fernando de Aragão, os Reis Católicos, conquistaram esse reino aos muçulmanos em 1492.

Don Luis de la Cerda e Jean van Steenweghen levavam o cavalo de Navarra e Jacques de Claerhout, senhor de Peten, a bandeira das armas: de vermelho com um brocal de ouro, carregado de uma esmeralda de sua cor. Fernando o Católico conquistou esse reino em 1512.

Arnoud de Cruyningen e Philippe van der Meere levavam o cavalo de Jerusalém e Don Luis de Ayala, a bandeira das armas: de prata com uma cruz potenteia de ouro, cantonada de quatro cruzetas do mesmo. Afonso o Magnânimo, rei de Aragão, adquiriu esse título ao conquistar o reino de Nápoles em 1442.

Pranchas n.os 18, 19 e 20 de La magnifique et sumptueuse pompe funèbre... (exemplar da BnF).
Pranchas n.os 18, 19 e 20 de La magnifique et sumptueuse pompe funèbre... (exemplar da BnF).

Don Felipe Manrique e Jacques Quarrey levavam o cavalo da Sicília e Jean de Bauffremont, senhor de Sombernon, a bandeira das armas: franchado, o primeiro e quarto de ouro com quatro palas de vermelho; o segundo e terceiro de prata com uma águia de negro. Pedro o Grande, rei de Aragão, foi eleito rei pelo parlamento siciliano em 1282.

Don Luis Vique e Philippe Schoonhoven levavam o cavalo de Nápoles e Garcilaso Puertocarrero, a bandeira das armas: esquartelado, o primeiro e quarto de ouro com quatro palas de vermelho; o segundo e terceiro terciados em pala, o primeiro faixado de vermelho e prata de oito peças (aqui de prata e vermelho); o segundo de azul, semeado de flores de lis de ouro; o terceiro de prata com uma cruz potenteia de ouro, cantonada de quatro cruzetas do mesmo. Afonso o Magnânimo conquistou esse reino em 1442.

Guillaume de Hincart e Juan de Herrera levavam o cavalo de Aragão e Maximilien de Longueval, senhor de Vaux, a bandeira das armas: de ouro com quatro palas de vermelho. Sancho III, rei de Navarra, legou esse reino a Ramiro, seu filho natural, em 1035.

Don Pedro de Bazán e Philippe de Courtewille levavam o cavalo de Leão e Don Francisco de Mendoza, a bandeira das armas: de prata com um leão de púrpura, armado e lampassado de vermelho (aqui de ouro) e coroado de ouroAfonso III das Astúrias legou esse reino a Garcia, seu filho primogênito, em 910.

Pierre de Morbecque e Don Juan de Vivero levavam o cavalo de Castela e Maximilien Vilain, senhor de Rassenghien, a bandeira das armas: de vermelho com um castelo de ouro, aberto e iluminado de azul. Fernando I, rei de Leão, legou esse reino a Sancho, seu filho primogênito, em 1065.

Para não alongar demais esta postagem, farei o comentário na próxima.

Nota:
(1) Em certos casos, não só é difícil identificar a personagem, mas também ler o próprio nome, porque as fontes em francês erram amiúde os nomes castelhanos e as fontes em espanhol, os nomes franceses. Além disso, os nomes dos neerlandeses, tanto neerlandófonos como francófonos, são dados em francês e os nomes dos portugueses e italianos, em espanhol. Enfim, há casos, como esse senhorio de "Charin", que as fontes sequer conseguem reconhecer.

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