Séries de postagens

01/05/21

AS ARMAS DOS REIS E PRÍNCIPES CRISTÃOS E MOUROS

O segundo capítulo do Livro do Armeiro-Mor consiste num pequeno armorial universal, que abrange armas principescas, tanto reais como imaginárias.

Ainda que longo, darei o segundo capítulo do Livro do Armeiro-Mor numa só postagem. Compõe-se de 49 brasões, a maioria tirada do Armorial Wijnbergen (doravante AW), o que fica evidente não só pelo número alto de itens coincidentes, mas também pelos barbarismos que João do Cró cometeu por não saber como traduzir vários topônimos para o português, além dos erros de leitura pelo próprio desconhecimento de que país se tratava. A isso se soma o anacronismo de algumas armas para 1509.

O AW apresenta duas partes bem distintas: a primeira contém 256 brasões de vassalos de Luís IX na Ilha de França e a segunda consiste num armorial de 1056 itens, repartidos em catorze seções ou marcas de armas, compreendendo o norte da França, os Países Baixos e a Alemanha. Arrematando o conjunto, seguem as armas de 55 príncipes, tanto reais como imaginárias. A primeira parte foi elaborada entre 1265 e 1270; a segunda remonta ao último quartel desse século. O AW foi editado por Paul Adam-Even e Léon Jéquier em 1954 e atualmente segue na propriedade da família van Wijnbergen.

Fólio 6r: Índia Maior.
Fólio 6r: Índia Maior.

Índia Maior: De ouro com uma balança de negro. Geralmente se entendia por Índia Maior o território ao sul do rio Ganges, ou seja, a maior parte da atual República da Índia. Armas imaginárias.

Fólio 6v: Índia Menor.
Fólio 6v: Índia Menor.

Índia Menor: De vermelho com a imagem de Jesus Cristo ao natural, crucificado numa cruz de ouro, firmada em pontaAW: Le roi d'OrientGeralmente se entendia por Índia Menor o território além do delta do Ganges, ou seja, o chamado Sudeste asiático, mas estas armas eram atribuídas ao lendário Preste João, o imperador cristão que governava terras ignotas além do Islã. Armas imaginárias.

Fólio 7r: Rei de Jerusalém.
Fólio 7r: Rei de Jerusalém.

Rei de Jerusalém: De prata com uma cruz potenteia de ouro, cantonada de quatro cruzes potenteias do mesmoAW: Le roi de JérusalemCuriosamente, no capítulo anterior as armas atribuídas a Godofredo de Bulhão apresentam a versão que se tornou canônica, ao passo que aqui também as cruzetas figuram como potenteias. O reino de Jerusalém foi um estado cruzado que existiu de 1099 a 1187, quando Saladino, sultão do Egito e da Síria, tomou a cidade de Jerusalém; depois com capital em Acre até 1291, quando os mamelucos conquistaram os derradeiros bastiões cruzados no Levante.

Fólio 7v: Imperador da Alemanha.
Fólio 7v: Emperador d'Alemanha.

Imperador da Alemanha: De ouro com uma águia de duas cabeças de negro, bicada e membrada de vermelho. O título oficial era Imperator Romanorum, ou seja, 'Imperador dos Romanos'.

Fólio 8r: Rei dos Romanos.
Fólio 8r: Rei dos Romãos.

Rei dos Romanos: De ouro com uma águia de negro, bicada e membrada de vermelhoAW: Le roi d'Allemagne. Desde 1002, esse título foi usado pelo imperador eleito entre a coroação pelo arcebispo de Colônia e a coroação pelo romano pontífice, mas Carlos V foi o derradeiro imperador coroado (1530) e Fernando I, seu irmão, o derradeiro rei dos romanos eleito muito antes (1531) de ser ratificado na dignidade imperial (1558), de modo que pelo resto da existência do Sacro Império a águia monocéfala se tornou obsoletaAtualmente são as armas federais da Alemanha.

Fólio 8v: Rei da França.
Fólio 8v: Rei de França.

Rei da França: De azul com três flores de lis de ouro. AW: Le rois de FranceAtualmente, compõe o quarto quartel das armas do Canadá. 

Fólio 9r: Rei da Inglaterra.
Fólio 9r: Rei de Inglaterra.

Rei da Inglaterra: Esquartelado, o primeiro e quarto de azul com três flores de lis de ouro; o segundo e terceiro de vermelho com três leopardos de ouro, alinhados em pala. AW: Le roi d'EngleterreA esquarteladura das armas reais francesas com as inglesas estendeu-se, com alguns intervalos breves, de 1340 a 1801, por causa da pretensão inglesa ao trono francês. Atualmente, as armas reais inglesas compõem o primeiro e quarto quartéis das armas reais do Reino Unido (o segundo na versão escocesa) e o primeiro das armas do Canadá.

Fólio 9v: Rei de Castela.
Fólio 9v: Rei de Castilha.

Rei de Castela: Esquartelado, o primeiro e quarto de vermelho com um castelo de ouro; o segundo e terceiro de prata com um leão de púrpura, coroado de ouroAW: Le roi d'Espagne. Castilha é o barbarismo mais gritante do Livro do Armeiro-Mor: como é que um arauto português ia errar na sua própria língua o nome do estado vizinho? Talvez seja o indício mais patente de que João do Cró não era português: em francês, CastilleAtualmente, com o castelo aberto e iluminado de azul e o leão armado e lampassado de vermelho, são as armas da comunidade autônoma de Castela e Leão (Espanha) e compõem o primeiro (Castela) e o segundo (Leão) quartéis das armas estatais e reais da Espanha.

Fólio 10r: Rei de Portugal.
Fólio 10r: Rei de Purtugal.

Rei de Portugal: De prata com cinco escudetes de azul postos em cruz, carregados de cinco besantes do campo, e uma bordadura de vermelho, castelada de ouro. AW: Le roi de Portigal. Atualmente, com o número de castelos fixado em sete, são as armas nacionais de Portugal.

Fólio 10v: Rei da Boêmia.
Fólio 10v: Rei de Baeine.

Rei da Boêmia: De vermelho com um leão de cauda forcada de prata, coroado de ouro. AW: Le roi de Boème. Claramente, houve um erro de leitura: confundiu-se o o com um a e o m com in, daí esse esquisito Baeine. Atualmente, com o leão armado e lampassado de ouro, compõe o primeiro e quarto quartéis das armas estatais da Tchéquia.

Fólio 11r: Rei da Sicília.
Fólio 11r: Rei de Cicília.

Rei da Sicília: De azul, semeado de flores de lis de ouro, com um lambel de quatro pendentes de vermelho, brocante. AW: Le roi de Sesile. Na verdade, eram as armas da Casa de Anjou-Sicília, que governou o reino da Sicília a partir de 1266: a ilha até 1282 e a porção continental, mais conhecida como reino de Nápoles, até 1435. Em 1509, Fernando o Católico reinava sobre as Duas Sicílias.

Fólio 11v: Sultão da Babilônia.
Fólio 11v: Soldant de Babiloine.

Sultão da Babilônia: De ouro com um círculo de negro, carregado de um leão aleopardado de prata, armado e lampassado de vermelho. AW: Le soudan de Babilonie. Título e brasão imaginários.

Fólio 12r: Rei de Constantinopla.
Fólio 12r: Rei de Costentinoble.

Rei de Constantinopla: De vermelho com uma cruz, cantonada de quatro cruzetas, cada uma encerrada num anelete, as do primeiro e segundo acompanhadas de quatro cruzetas e as do terceiro e quarto, de três, tudo de ouro. AW: L'empereur de Constantinouble. A versão mais estendida trazia quatro cruzetas acompanhando a do meio também no terceiro e quarto cantões. Eram as armas dos senhores franceses que, no bojo da Quarta Cruzada, conquistaram Constantinopla e usurparam a dignidade imperial desde 1204 até 1261, o chamado Império Latino.

Fólio 12v: Rei dos Paleólogos.
Fólio 12v: Rei de Palialogres.

Rei dos Paleólogos: De vermelho com uma cruz de ouro, cantonada de quatro fuzis do mesmo. AW: Le roi de Pariologre. O Império Bizantino ficou à margem do desenvolvimento da heráldica. Insígnias com a chamada cruz tetragramática, que tem esse nome porque, na verdade, as figuras que cantonavam a cruz não eram fuzis, mas a letra Β (beta), foram usadas pela última dinastia imperante: os Paleólogos. De todo modo, o título é um artifício para distinguir esse brasão e o do imperador latino. Atualmente, com as figuras iluminadas de prata, compõe o escudete das armas da Sérvia.

Fólio 13r: Rei de Navarra.
Fólio 13r: Rei de Navarra.

Rei de Navarra: Esquartelado, o primeiro e quarto de vermelho com um brocal de ouro, carregado de uma esmeralda de sua cor; o segundo e terceiro de azul com três flores de lis de ouro e uma cotica composta de prata e vermelho brocante sobre tudo. AW: Le roi de Navarre. As armas do segundo e terceiro cantões eram da Casa de Evreux, que governou Navarra desde 1328 até 1441. Em 1509, Navarra era governada pela Casa de Albret. Atualmente, na forma moderna, em que o brocal deu lugar a correntes, são as armas da comunidade foral de Navarra (Espanha) e compõe o quarto quartel das armas estatais e reais da Espanha.

Fólio 13v: Rei de Tarso.
Fólio 13v: Rei de Tarse.

Rei de Tarso: De prata com um coelho rampante de vermelho. AW: Le roi de Tarse. No século XIII, Tarso era uma das cidades principais do reino cilício da Armênia; em 1509, fazia parte do emirado de Ramadã; hoje se localiza na Turquia. Título e brasão imaginários.

Fólio 14r: Rei da Hungria.
Fólio 14r: Rei de Hongria.

Rei da Hungria: Esquartelado, o primeiro faixado de vermelho e prata de oito peças; o segundo de vermelho com um leão de cauda forcada de prata, armado, lampassado e coroado de ouro; o terceiro de vermelho com uma faixa de prata; o quarto de azul com uma águia xadrezada de vermelho e prata, bicada, membrada e coroada de ouro. AW: Le roi de Hongrie. As armas húngaras são propriamente as da Casa de Árpád, que compõem o primeiro quartel e, atualmente, o primeiro partido das armas da Hungria. Em 1509, a Hungria achava-se em união dinástica com a Boêmia e diversamente enlaçada com a Casa de Habsburgo, o que pode explicar essa esquarteladura.

Fólio 14v: Rei da Escócia.
Fólio 14v: Rei d'Escórcia.

Rei da Escócia: De ouro com um leão de vermelho, encerrado numa orleta dupla florenciada e contraflorenciada do mesmo. AW: Le roi d'EscosseAtualmente, compõe o segundo quartel das armas reais do Reino Unido (o primeiro e quarto na versão escocesa) e das armas do Canadá.

Fólio 15r: Rei de Aragão.
Fólio 15r: Rei d'Aragão.

Rei de Aragão: Esquartelado, o primeiro e quarto de ouro com quatro palas de vermelho; o segundo e terceiro terciados em pala, o primeiro faixado de vermelho e prata de oito peças; o segundo de azul, semeado de flores de lis de ouro; o terceiro de prata com uma cruz patriarcal de ouro, acompanhada de seis cruzetas do mesmo, três em cada flanco. AW: Le roi d'Aragon. Na verdade, eram as armas da Casa de Trastâmara-Nápoles, que governou a porção continental do reino da Sicília (ou "de Nápoles") desde 1458 até 1501: no primeiro e quarto trazia as armas reais de Aragão; no segundo e terceiro, as da Casa de Anjou-Sicília, mais precisamente do seu derradeiro ramo cadete, o de Durazzo, que se extinguira em 1438. Estas se compunham, à sua vez, das armas da casa (segundo partido) e das pretensões às coroas da Hungria e de Jerusalém (primeiro e terceiro partidos), as quais João do Cró reproduziu defeituosamente, claramente em virtude da falta de espaço. Em 1509, Fernando o Católico reinava sobre as Duas Sicílias.

Fólio 15v: Rei de Maiorcas.
Fólio 15v: Rei de Mailogres.

Rei de Maiorcas: De ouro com quatro palas de vermelho e um filete de azul em banda, brocante sobre tudo. AW: Le roi de Malloques. Mais um erro de leitura: da forma constante do AW, já corrupta, confundiu-se ll com il e qu com gr, daí esse Mailogres. Mas esse brasão é um exemplo de que às vezes a imaginação dos arautos nos armoriais se tornou real: de 1276 a 1349, o reino de Maiorca (ou Maiorcas) foi governado por um ramo cadete da Casa de Barcelona, mas não assumiu armas diferençadas; foram os arautos que às armas reais aragonesas acrescentaram uma banda, cotica ou filete de azul, a diferença convencional para os cadetes. Atualmente, são as armas da comunidade autônoma das Ilhas Baleares (Espanha).

Fólio 16r: Rei da Irlanda.
Fólio 16r: Rei d'Irlande.

Rei da Irlanda: De azul com uma harpa de ouro. AW: Le roi d'Irlande. Em 1509, o título era senhor da IrlandaAtualmente, com a harpa cordada de prata, são as armas da Irlandacompõem o terceiro quartel das armas reais do Reino Unido e das armas do Canadá.

Fólio 16v: Rei de Chipre.
Fólio 16v: Rei de Chipre.

Rei de Chipre: Esquartelado, o primeiro de prata com uma cruz potenteia de ouro, cantonada de quatro cruzetas do mesmo; o segundo faixado de vermelho e prata com um leão de azul brocante; o terceiro de ouro com um leão de vermelho; o quarto de prata com um leão de púrpura. AW: Le roi de Chypre. Eram as armas do ramo da Casa de Lusignan (mais comumente faixado de oito peças; segundo quartel), que reinou sobre Jerusalém (primeiro quartel), Chipre (o leão de vermelho; quarto quartel) e a Armênia (terceiro quartel) e se extinguiu em 1474. Em 1509, o Chipre pertencia à república de Veneza.  

Fólio 17r: Rei da Eslavônia.
Fólio 17r: Rei de Clavônia.

Rei da Eslavônia: De azul com três cabeças de reis ao natural, coroadas de ouro. AW: Le roi d'Esclavonie. Na verdade, parece uma versão primitiva das armas de outra região da Croácia, a Dalmácia: de azul com três cabeças coroadas de leopardo de ouro. Efetivamente, estas armas distinguiam o conjunto do reino croata na Idade Média, a cuja intitulação a Dalmácia era anexa.

Fólio 17v: Rei de Man.
Fólio 17v: Rei de Mem.

Rei de Man: De azul com três pernas armadas de prata, guarnecidas de ouro, com as esporas do mesmo, postas em faixa e alinhadas em pala. AW: Le roi de Men. Atualmente, o título é senhor de Man e as armas são de vermelho com três pernas armadas de sua cor, guarnecidas de ouro, com as esporas do mesmo, unidas pela coxa.

Fólio 18r: Rei de Elves.
Fólio 18r: Rei d'Elves.

Rei de Elves: De azul com um leão de ouro, armado e lampassado de vermelho. AW: Le roi de Suès. Suspeito de que seja a versão primitiva das armas da Casa de Biälbo, que reinou sobre a Suécia de 1250 a 1364. Como no AW está escrito desues 'de suecos', penso que João do Cró não reconheceu o vocábulo nem as armas, entendeu o de como d'E, confundiu o ſ (s) com um e leu o u como v, daí esse d'Elves. A versão atual, que compõe o segundo e terceiro quartéis das armas reais da Suécia, é de azul com três barras ondadas de prata e um leão coroado de ouro, armado e lampassado de vermelho, brocante.

Fólio 18v: Rei de Garnat.
Fólio 18v: Rei de Garnat.

Rei de Garnat: De prata com um leão de azul, armado e lampassado de vermelho, e uma bordadura de vermelho, besantada de ouro. AW: Le roi de Gaquart. No AW, há dois brasões muito semelhantes: este e outro, que é de prata com um leopardo aleonado de vermelho e uma bordadura de negro, besantada de ouro. A este, falta a identificação, pois se escreveu apenas roi de, mas se sabe que pertenceu a Ricardo, conde da Cornualha (1225-1272). Parece-me que tanto Gaquart como Garnat são erros de leitura por Cornuail.

Fólio 19r: Rei de Conimbra.
Fólio 19r: Rei de Conimbra.

Rei de Conimbra: De vermelho com três coelhos passantes de ouro, alinhados em pala. AW: Le roi de Combre. Considerando que no AW esse brasão contém cordeiros, não coelhos, e antecede o do rei da Irlanda, penso que Combre possa ser uma corruptela de Cambria, latinização de Cymru, o nome nativo do País de Gales. Seja como for, à falta de identificação das armas, ficam classificadas como imaginárias, assim como o título. Com efeito, João do Cró, muito inventivo, tratou de aproximar o irreconhecível topônimo à realidade portuguesa, convertendo-o em Conimbra, que soa quase como Coimbra, e trocando os cordeiros por coelhos, connins em francês, portanto armas falantes.

Fólio 19v: Rei da Armênia.
Fólio 19v: Rei de Ermênia.

Rei da Armênia: Terciado em pala, o primeiro de ouro com um leão de vermelho; o segundo de prata com uma cruz potenteia de ouro, cantonada de quatro cruzetas do mesmo; o terceiro burelado de prata e azul de doze peças com um leão de vermelho, brocante. AW: Le roi d'Erminie. Na verdade, esse reino ficava na Cilícia, hoje sul da Turquia, e foi governado pela Casa de Lusignan desde 1341 até 1375, quando foi conquistado pelos ramadânidas. Sobre as armas, leia-se o comentário ao brasão do rei de Chipre.

Fólio 20r: Rei da Dinamarca.
Fólio 20r: Rei de Danemarche.

Rei da Dinamarca: De ouro com três leopardos de azul, alinhados em pala. AW: Le roi de Dènemarche. Atualmente, de ouro com três leões aleopardados de azul, lampassados de vermelho e coroados de ouro, alinhados em pala e acompanhados de nove corações de vermelho são as armas estatais da Dinamarca e compõem o primeiro e quarto quartéis das armas reais.

Fólio 20v: Rei da Noruega.
Fólio 20v: Rei de Norové.

Rei da Noruega: De vermelho com um leão de ouro, armado e lampassado de azul, segurando uma alabarda de prata, hasteada de ouro. AW: Le roi de Norvée. Atualmente, de vermelho com um leão coroado de ouro, segurando um machado de prata, encabado de ouro são as armas estatais da Noruega.

Fólio 21r: Rei da Polônia.
Fólio 21r: Rei de Polaina.

Rei da Polônia: Esquartelado, o primeiro e quarto de vermelho com uma águia de prata; o segundo e terceiro de vermelho com um cavaleiro armado, empunhando uma espada levantada e montado num cavalo empinado, tudo de prata, o cavalo ajaezado ao natural. AW: Le roi de Poulène. Na verdade, as armas do primeiro e quarto quartéis eram do rei da Polônia e as do segundo e terceiro, do grão-duque da Lituânia, em virtude da união dinástica que vinha desde 1386. Atualmente, aquelas, com a águia bicada, armada e coroada de ouro, são as armas da Polônia; estas, com a espada guarnecida de ouro, o cavaleiro segurando com a mão esquerda um escudo de azul, carregado de uma cruz patriarcal de ouro, e com espora de ouro, e o cavalo ajaezado de azul, guarnecido de ouro, são as armas estatais da Lituânia. A figura desse cavaleiro é denominada Vytis em lituano e Pahonia em bielorrusso (o território da Bielorrússia fazia parte do grão-ducado da Lituânia).

Fólio 21v: Rei da Grifônia.
Fólio 21v: Rei de Grifônia.

Rei da Grifônia: De ouro com um grifo de vermelho. AW: Le roi de Griffonie. Com o campo iluminado de prata, eram as armas do duque da Pomerânia, que denominava a sua dinastia Casa de Grifo. Atualmente, com o grifo bicado e armado de ouro, são as armas da voivodia da Pomerânia Ocidental (Polônia) e compõem o segundo quartel das armas do estado de Meclemburgo-Pomerânia Ocidental (Alemanha).

Fólio 22r: Rei de Gravata.
Fólio 22r: Rei de Gravata.

Rei de Gravata: De ouro com um chefe de vermelho. Título e brasão imaginários.

Fólio 22v: Rei de Marrocos.
Fólio 22v: Rei de Marroc.

Rei de Marrocos: De azul com três roques de ouro. AW: Le roi de Maroc. Armas falantes e imaginárias.

Fólio 23r: Rei da Sardenha.
Fólio 23r: Rei de Sardenha.

Rei da Sardenha: De prata com uma cruz de vermelho. AW: Le roi de Sardeigne. Parece uma reprodução defeituosa da chamada Cruz de Alcoraz, que é cantonada de quatro cabeças de mouro, diversamente figuradas. Atualmente, com as cabeças de mouro de negro, vendadas de prata, são as armas da região autônoma da Sardenha (Itália) e compõem o terceiro quartel das armas da comunidade autônoma de Aragão (Espanha).

Fólio 23v: Rei de Túnis.
Fólio 23v: Rei de Túnez.

Rei de Túnis: De prata com um leão de azul, armado e lampassado de vermelho. AW: Le roi de Tunes. Armas imaginárias.

Fólio 24r: Rei da Dalmácia.
Fólio 24r: Rei d'Almácia.

Rei da Dalmácia: De vermelho com uma cruz patriarcal de prata, assente num monte de três cômoros de ouro, firmado em ponta. Na verdade, era o brasão que compunha a segunda partição das armas reais da Hungria, adotado pelo rei Luís I (1342-1382) a partir de usos precedentes da cruz patriarcal pelos reis da Casa de Árpád. Portanto, o AW confundiu a Dalmácia com a Eslavônia e o Livro do Armeiro-Mor, a Hungria com a Dalmácia. O reino da Croácia e Dalmácia achava-se em união dinástica com a Hungria desde 1102. Atualmente, de vermelho com uma cruz patriarcal de prata, enfiada numa coroa de ouro, ambas assentes num monte de três cômoros de verde, firmado em ponta compõe o segundo partido das armas da Hungria; sem essa coroa e com o monte iluminado de azul, são as armas estatais da Eslováquia.

Fólio 24v: Rei de Salônica.
Fólio 24v: Rei de Salanique.

Rei de Salônica: De ouro com quatro bandas de ouro. AW: Le roi de Salénique. O reino de Salônica foi um estado cruzado, governado pela Casa de Monferrato desde 1204 até 1224. Em 1266, Balduíno II, imperador latino deposto, prometeu-o a Hugo IV, duque da Borgonha, em troca de ajuda para reconquistar Constantinopla. Parece, pois, que o autor do AW inventou essas armas a partir do bandado de ouro e azul da Borgonha.

Fólio 25r: Rei da Valáquia.
Fólio 25r: Rei de Blaqui.

Rei da Valáquia: Burelado de ouro e vermelho de dezoito peças com duas patas de leão de negro, passadas em aspa e brocantes. AW: Le roi de Blaquie. O AW atribui estas armas ao roi de Blaquie e outras com o mesmo burelado, mas sem as patas de leão, ao roi de blaque, ou seja, 'rei dos valacos'. Parece que estas eram as armas da Casa de Asen, que governou a Bulgária desde 1185 até 1280, cujo monarca foi, efetivamente, referido no Ocidente como rex Bulgarorum et Blachorum 'rei dos búlgaros e valacos'. No entanto, a insuficiência documental torna temerário atribuir esses brasões a uma ou outra personagem. Em 1509, a Valáquia era um principado vassalo do Império Otomano.

Fólio 25v: Rei de Danant.
Fólio 25v: Rei de Danant.

Rei de Danant: Esquartelado, o primeiro e quarto de prata com uma águia de vermelho; o segundo e terceiro de azul com um castelo de ouro. AW: Le roi de Danant. Adam-Even e Jéquier interpretam Danant como Jaén, mas me parece inverossímil tanto filológica como heraldicamente. À falta de informação mais precisa, prefiro classicá-las como armas imaginárias, assim como o título.

Fólio 26r: Rei de Bugia.
Fólio 26r: Rei de Bougis.

Rei de Bugia: De prata com um círculo de vermelho. AW: Le roi de Bougie. A cidade de Bugia (Bijayah em árabe) localiza-se hoje na Argélia. Armas imaginárias.

Fólio 26v: Rei de Estunel.
Fólio 26v: Rei d'Estunel.

Rei de Estunel: De vermelho com um crescente deitado de ouro. AW: Le roi de Tunes. O AW atribui dois brasões ao roi de Tunes. O primeiro João do Cró traduziu como rei de Túnez; o segundo, transformou em rei d'Estunel. Armas imaginárias.

Fólio 27r: Rei da África.
Fólio 27r: Rei d'África.

Rei da África: De azul com três folhas de nenúfar de ouro. AW: Le roi d'Aufrique. Título e brasão imaginários.

Fólio 27v: Rei da Arábia.
Fólio 27v: Rei d'Arabe.

Rei da Arábia: De azul com três leopardos de ouro, armados e lampassados de vermelho, alinhados em pala. AW: Le roi d'Arabe. Título e brasão imaginários.

Fólio 28r: Rei das Órcades.
Fólio 28r: Rei d'Orquenie.

Rei das Órcades: De azul com um barco de ouro, vestido de prata. AW: Le roi d'Orquenie. O título era conde das Órcades, mas em 1509 as ilhas estavam incorporadas no reino da Escócia. Atualmente, com a vela ferrada de três bolsas de prata, compõe o primeiro partido das armas do concelho das ilhas Órcades (Grã-Bretanha).

Fólio 28v: Rei da Bósnia.
Fólio 28v: Rei de Bosna.

Rei da Bósnia: Bandado de vermelho e prata de seis peças com uma bordadura de ouro. Eram as armas da Casa de Kosača, que governou o ducado de São Sava de 1448 a 1482, daí o topônimo Herzegovina: herceg é 'duque'. Em 1509, a Bósnia constituía um sanjaque do Império Otomano.

Fólio 29r: Rei de Apolônia.
Fólio 29r: Rei de Apolônia.

Rei de Apolônia: Xadrezado de prata e vermelho, de dez peças em faixa e oito em pala, com um encontro de touro, armado, coroado e argolado de ouro, brocante. Eram as armas da voivodia de Kalisz. Talvez a estranheza da forma Poulène do AW, aportuguesada como Polaina, tenha levado João do Cró a acrescentar um brasão polonês com um topônimo mais reconhecível.

Fólio 29v: Rainha Branca.
Fólio 29v: Rainha Branca.

Rainha Branca: De vermelho com um busto de mulher de carnação, vestida de azul com um véu de prata, nimbada de ouro, sainte da ponta. Título e brasão imaginários.

Fólio 30r: Rei da Suécia.
Fólio 30r: Rei de Suedem.

Rei da Suécia: De azul com três coroas de ouro. O acrescentamento destas armas ao fim da série confirma a hipótese de que rei d'Elves é uma leitura equivocada de roi de Suès: não tendo reconhecido aquele brasão, João do Cró rematou o capítulo com as Três Coroas, insígnia real que remonta a Magno III (1316-74). Atualmente, são as pequenas armas da Suécia e compõem o primeiro e quarto quartéis das armas reais da Suécia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário