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29/05/24

TESOURO DE NOBREZA (XV)

Armas dos duques e marqueses de Portugal.

Do Tesouro de nobreza (1675):

Fólio 23 – Armas dos Duques e Marqueses de Portugal. Duque do Cadaval, Marquês de Ferreira (seu apelido: Bragança); Marquês de Gouveia, Conde de Portalegre, Mordomo-Mor (seu apelido: Silva); Marquês de Nisa, Almirante da Índia (seu apelido: Gama); Marquês de Fontes, Conde de Penaguião, Camareiro-Mor (seu apelido: Sá e Meneses); Marquês de Cascais, Conde de Monsanto, Alcaide-Mor (seu apelido: Castro); Marquês de Marialva, Conde de Cantanhede (seu apelido: Meneses); Marquês de Fronteira, Capitão-General (seu apelido: Mascarenhas); Marquês de Arronches, Conde de Miranda (seu apelido: Sousa); Marquês de Távora, Conde de São João (seu apelido: Távora); Marquês das Minas, Conde do Prado (seu apelido: Sousa).
Fólio 23 – Armas dos Duques e Marqueses de Portugal. Duque do Cadaval, Marquês de Ferreira (seu apelido: Bragança); Marquês de Gouveia, Conde de Portalegre, Mordomo-Mor (seu apelido: Silva); Marquês de Nisa, Almirante da Índia (seu apelido: Gama); Marquês de Fontes, Conde de Penaguião, Camareiro-Mor (seu apelido: Sá e Meneses); Marquês de Cascais, Conde de Monsanto, Alcaide-Mor (seu apelido: Castro); Marquês de Marialva, Conde de Cantanhede (seu apelido: Meneses); Marquês de Fronteira, Capitão-General (seu apelido: Mascarenhas); Marquês de Arronches, Conde de Miranda (seu apelido: Sousa); Marquês de Távora, Conde de São João (seu apelido: Távora); Marquês das Minas, Conde do Prado (seu apelido: Sousa).

Comentário:

Nos Triunfos de la nobleza lusitana (1631), o padre Antônio Soares de Albergaria disserta sobre 38 casas tituladas, as quais, abstraindo-se os títulos dos herdeiros e demais subsidiários (1), possuíam três ducados (Bragança, Aveiro e Caminha), cinco marquesados (Vila Real, Ferreira, Gouveia, Alenquer e Castelo Rodrigo), 32 condados (Monsanto, Cantanhede, Atouguia, Odemira, Feira, Redondo, Tarouca, Vidigueira, Vila Nova, Vimioso, Faro, Vimieiro, Linhares, Castanheira, Penaguião, Basto, Santa Cruz, Sabugal, Calheta, Vila Franca, Vila Flor, Castelo Melhor, Miranda do Corvo, Prado, São João da Pesqueira, Ficalho, Arcos, Palma, Castelo Novo, Castro Daire, Ericeira e Unhão), um viscondado (Vila Nova de Cerveira) e uma baronia (Alvito). Nos Troféus lusitanos (1632), o mesmo autor incluiu o marquesado de Porto Seguro e os condados de Vale de Reis, Sarzedas, Figueiró e São Miguel (2).

Passados 43 anos, Francisco Coelho arrola 45 brasões de titulares no Tesouro. É muito surpreendente a miudeza da diferença em relação aos Troféus: apenas dois. Afinal, durante a maior parte desse período Portugal esteve em guerra contra a Espanha, o que dividiu a nobreza — esse estamento em particular — entre a restauração da independência sob Dom João IV e a fidelidade a Filipe IV.

Assim, já em 1641 foram decapitados o duque de Caminha, o marquês de Vila Real e o conde de Armamar por terem tramado contra a vida do recém-alçado rei, ao passo que os marqueses de Alenquer, Castelo Rodrigo e Porto Seguro e os condes de Linhares, Basto, Ficalho e Assumar permaneceram na Espanha e o conde de Vila Flor retornou para lá. Nalgumas casas, a lealdade mudou de uma geração para outra: os condes da Tarouca e do Vimieiro mantiveram-se fiéis ao Rei Planeta, mas depois seus filhos aderiram à Restauração e foram aceitos de volta. Um caso mais complexo envolveu o nosso país.

Dom Jorge de Mascarenhas, criado conde de Castelo Novo em 1628 e elevado a marquês de Montalvão em 1639, governava o estado do Brasil com o título de vice-rei quando chegou ao seu conhecimento a rebelião encabeçada pelo duque de Bragança. Tendo tomado certas medidas cautelares, decidiu-se por aclamar Dom João IV em Salvador. Mas a sua família rachou: Dona Francisca de Vilhena, sua mulher, ajudou os filhos Pedro e Jerônimo a fugirem para a Espanha; por isso Fernando, o filho que estava junto dele e o seu emissário, foi preso em Lisboa, aonde fora levar as notícias do Brasil. Em seguida, o próprio marquês foi posto a ferros e remetido ao Reino, onde viveu o resto dos seus dias, ora honrado pela lealdade à causa pátria ora encarcerado pela desconfiança de confabular com a corte filipina.

Por outro lado, houve recompensas: o marquês de Ferreira foi elevado a duque de Cadaval; os condes de Monsanto, Cantanhede, Vidigueira, Penaguião, Miranda do Corvo, Prado, São João da Pesqueira e Torre respectivamente a marqueses de Cascais, Marialva, Nisa, Fontes, Arronches, Minas, Távora e Fronteira; o barão de Alvito a conde de Oriola.

Obviamente, também se fizeram mercês novas, como se verá na próxima postagem, que tratará dos condes (3). Aqui, recordo que os brasonamentos em vermelho são os originais de Albergaria nos Triunfos e aqueles em azul, a tradução de Coelho no Códice ANTT 21-F-15 (cf. a postagem introdutória). O número entre parênteses marca o ano em que se criou o título. Informo, enfim, o titular em 1678, ano em que está datado o prólogo do Tesouro. (4)

O duque de Cadaval (1648) e marquês de Ferreira (1533) trazia as armas da Casa de Bragança, diferençadas por quatro cruzes dos Pereiras entre os escudetes, os quais aqui carregam as armas reais diferençadas por um filete negro em banda, tal como nos Troféus, exceto pelo filete, que aí está em barra. Nos Triunfos, Albergaria dá ao marquês de Ferreira as armas dos Melos, a saber, "en campo bermejo seis besantes de plata, cada tres en pala, gradado de oro; por timbre, un águila negra, esmaltada con otros seis besantes". Coelho tradu-lo sem completar o brasonamento: "em campo vermelho as dos Melos". E acrescenta: "Também usam das armas antigas da Casa de Bragança em escudo partido em pala: a primeira das de Bragança antigas; as segundas dos Melos". Em 1678, o titular era Dom Nuno Álvares Pereira de Melo.

O marquês de Gouveia (1625), conde de Portalegre (1498) e mordomo-mor trazia as armas dos Silvas, que Coelho não brasona, mas Albergaria sim: "Un león de púrpura rapante, armado de azul, en campo de plata; y el mismo león por timbre". Em 1678, o titular era João da Silva.

O marquês de Nisa (1646) e almirante da Índia (1500) trazia as armas dos Gamas, a saber, "escudo xaquelado de ouro e vermelho de três peças em faixa e sobre cada ũa de vermelho duas coticas de prata em faixa, as quinas de Portugal no meio do escudo". Em 1678, o titular era Dom Francisco Luís Baltasar da Gama.

O marquês de Fontes (1659), conde de Penaguião (1583) e camareiro-mor trazia as armas dos Sás, a saber, "escudo xaquelado de prata e azul de seis peças em faixa". Em 1678, o titular era Dom João Rodrigues de Sá e Meneses.

O marquês de Cascais (1643), conde de Monsanto (1460) e alcaide-mor de Lisboa trazia as armas dos Castros, a saber, "seis torteaus azuis em campo de prata". Em 1678, o titular era Dom Luís Álvares de Castro.

O marquês de Marialva (1661) e conde de Cantanhede (1479) trazia as armas dos Albuquerques, a saber, "esquartelado: no primeiro e quarto, as armas reais de Portugal e no segundo e terceiro em campo azul cinco flores de lis de ouro", e sobre tudo as dos Meneses, que são de ouro liso, mas aqui se vê o todo partido com as armas dos Coutinhos. Em 1678, o titular era Dom Pedro Antônio de Meneses.

O marquês de Fronteira (1670) e capitão-general trazia as armas dos Mascarenhas. Em 1678, o titular era Dom João de Mascarenhas.

O marquês de Arronches (1674) e conde de Miranda do Corvo (1611) trazia as armas dos Sousas, a saber, um "escudo esquartelado: ao primeiro e último, as quinas de Portugal; e no segundo, ũa caderna de crescentes de prata apontados em campo vermelho; e assi os contrários". Em 1678, o titular era Henrique de Sousa Tavares da Silva.

O marquês de Távora (1669) e conde de São João da Pesqueira (1611) trazia as armas dos Távoras, a saber, "em campo d'ouro cinco faixas ondadas de azul". Em 1678, o titular era Antônio Luís de Távora.

O marquês das Minas (1670) e conde do Prado (1525) trazia as armas dos Sousas Chichorros, a saber, um "escudo esquartelado: o primeiro, as quinas de Portugal com um filete negro em contrabanda e sem a orla dos castelos; e no segundo, um leão rompente de púrpura em campo de prata; e assi aos contrários". Em 1678, o titular era Dom Antônio Luís de Sousa.

Em conjunto com a postagem sucedente, observe-se que os coronéis nobiliários ainda não formavam um sistema com base em florões e pérolas. No máximo, o coronel condal parece mais distintivo, com glóbulos semelhantes a pérolas.

Notas:
(1) Duque de Barcelos, herdeiro do duque de Bragança; duque de Torres Novas, herdeiro do duque de Aveiro; conde de Alcoutim, herdeiro do marquês de Vila Real; conde de Tentúgal, herdeiro do marquês de Ferreira; conde de Portalegre, herdeiro do marquês de Gouveia; conde de Lumiares, herdeiro do marquês de Castelo Rodrigo.
(2) À fl. 26 dos Triunfos, Albergaria diz que Dom Álvaro de Lancastre, terceiro duque de Aveiro, "hoy vive". Como ele morreu em 1626, conclui-se que o padre escreveu as seções sobre os títulos antes desse ano, daí que não tenha alcançado o marquesado de Porto Seguro, concedido em 1627 por Dom Felipe III a Dom Afonso de Lancastre, segundo filho de Dom Álvaro, e o condado de Vale de Reis, criado no ano seguinte. Numa obra e na outra também se menciona o título e se estampam as armas do conde de Sortelha, título extinto desde 1617. A criação dos demais condados — de Sarzedas em 1631, de Figueiró em 1632 e de São Miguel em 1633 — demonstram, ademais, que o conteúdo dos Troféus ultrapassa a datação na capa, porém estranha que no índice se aliste o conde de Óbidos (1636), cujo brasão nem se vê na folha enumerada nem alhures.
(3) O confisco do patrimônio das casas julgadas traidoras acabou servindo para recompensar as que lutavam pelos Braganças contra os Habsburgos. A própria Casa de Vila Real foi um dos estados, juntamente com o ducado de Beja, que vieram formar a Casa do Infantado, cujas rendas se destinavam ao sustento do primeiro infante.
(4) O título mais recente que Coelho refere aqui é o marquês de Arronches (1674). O capítulo dos condes termina com um escudo em branco e o condado de Lavradio foi criado em 1670 a favor de Luís de Mendonça Furtado e Albuquerque, mas ele morreu em 1677 sem descendência, revertendo o título para a Coroa. Esses fatos corroboram que é de fato razoável tomar o ano de 1678 por terminus ad quem.

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