Mesmo quando recentes, as bandeiras heráldicas podem funcionar bem por evocarem brasões de uso antigo e contínuo.
Bandeira da Polônia. |
Há mais de mil anos os polacos chamam-se pelo mesmo nome (Polacy; Polak no singular), comungam majoritariamente na Igreja Católica de rito latino, falam uma língua (polski) cuja história se assemelha às das línguas estatais ocidentais e têm um estado soberano, a não ser durante breves momentos, o mais longo entre a partilha do território pela Rússia, Áustria e Prússia em 1795 e a proclamação da república em 1918. Por tudo isto, o caso dos símbolos nacionais polacos é muito singelo.
Armas da Polônia (imagem disponível no portal da Presidência da República). |
Com efeito, o brasão da Polônia é tão antigo e representativo do povo polaco que nem o regime comunista, que governou o país de 1947 a 1989, ousou depô-lo, tirando apenas a coroa da águia. Originariamente, a águia de prata, depois bicada, membrada e coroada de ouro, em campo de vermelho eram as armas da Casa de Piast, a dinastia que fundou o estado polaco no século X. A sua atestação mais antiga está no selo do duque Casimiro de Opole e data de 1226. Na qualidade de armas reais, remontam ao reinado de Premislau II (1295-96).
Bandeira de Sigismundo III enquanto rei da Polônia e grão-duque da Lituânia (imagem disponível no portal Culture.pl). |
Apesar disso, a bandeira polaca é bastante recente. No chamado Rolo de Estocolmo, que ilustra o cortejo nupcial do rei Sigismundo III em Cracóvia em 1605, Sebastian Sobieski, vexilífero do Reino, traz uma bandeira de três faixas horizontais, vermelha, branca e vermelha, cada uma farpada no lado do batente, com as armas do rei no centro. Não obstante, o pavilhão polaco que La connaissance des pavillons ou bannières que la plupart des nations arborent en mer (1737) dá é uma mera bandeira de armas.
O primeiro passo para a adoção da bicolor branca e vermelha deu-se, na verdade, sob o domínio russo: em janeiro de 1831, o Sejm, isto é, o parlamento polaco, destronou Nicolau I, rompendo a união pessoal com a Rússia, e no mês seguinte estabeleceu o tope nacional branco e vermelho, afirmando, além disso, que estas eram as cores das armas do Reino da Polônia e do Grão-Ducado da Lituânia. Contudo, o imperador venceu os rebeldes e seguiu-se a anexação da Polônia ao império. Foi, pois, a Segunda República que em agosto de 1919 adotou a bandeira de duas faixas horizontais, branca e vermelha.
Bandeira da Polônia com o brasão. |
A legislação vigente sobre a forma e o uso da bandeira e do brasão polacos data de 1980. A bicolor serve tanto de bandeira nacional como de estatal, mas desde o dito ano de 1919 há, curiosamente, uma versão com o brasão no centro da faixa branca que, segundo a lei, está reservada às representações diplomáticas e aos portos e aeroportos e também serve de pavilhão civil. A marinha de guerra arvora um pavilhão que tem esse mesmo desenho, mas o lado do batente é bífido.
Pavilhão naval da Polônia. |
Normalmente, o brasão na bandeira distingue o estado, como já se terá observado ao longo desta série de postagens, mas ocorre que no Código Internacional de Sinais branca e vermelha é a bandeira que representa a letra H, ainda que de duas faixas verticais. O brasão polaco evita, portanto, qualquer confusão e também contrasta com as bandeiras do estado alemão da Turíngia e dos austríacos da Alta Áustria e do Tirol (1).
É, enfim, notável que a Polônia e a Ucrânia estejam entre os poucos países eslavos que não adotaram as cores pan-eslavas. Faz muito sentido, porque tais cores são as mesmas da Rússia e foi contra o imperialismo russo que os polacos e ucranianos construíram os seus estados nacionais.
(1) Como a nível federal, alguns estados alemães e austríacos, dentre os quais esses, distinguem uma Landesflagge (bandeira estadual) e uma Landesdienstflagge (bandeira de serviço estadual), esta igual àquela, mas com o brasão no centro.
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